1 de jun. de 2013

1º Capítulo do livro Laura


I
Laura estava sentada numa cadeira de balanço. Nela, observava os caibros serrados, as telhas avermelhadas e as ripas alinhadas. A sua volta havia um sofá, uma estante e a TV que Fernando costumava assistir desenhos em sua companhia.
Levantou-se, guiou o corpo cansado pelo corredor, foi à cozinha, tomou um copo d’água e saiu pela porta do fundo, aspirou o ar e sentiu alegria em seu coração enrugado. Dirigiu-se as plantas e riu com as acrobacias que as borboletas faziam sobre elas. Aproximou-se de um hibisco e, nas pétalas de uma das flores, formigas sedentas formavam ao redor de uma gota d’água o sol, desses que as crianças costumam desenhar. E num talo da roseira uma joaninha passeava, fazendo-a lembrar dos vestidos de chitas quando ela era moça. 
Retornou para casa e se deteve alguns instantes na porta sem querer deixar aquele mundo de carne verde. Entrou, pegou um jarrinho de porcelana, encheu de água e colocou nele a flor que trouxera e o dispôs no centro da mesa. Em seguida, foi na direção do seu quarto.
Diante do espelho penteava os cabelos enrugados e pensava: “Por que a cor branca é sinônimo da velhice, do cansaço, do reumatismo e da broquice; se o branco das nuvens brilha com a luz do sol e elas se renovam quando o céu tá estiado?”. E ficou por ali com aquelas reflexões.
 Em seguida, pegou pó para passar no rosto, mas desistiu. Passou um batom suave nos lábios e sentiu-se melhor. Levantou-se, pegou a bolsa, caminhou pelo corredor e abriu a porta da frente.
— Tia, a senhora vai prá onde?
— Eu vou dar uma voltinha. Quer ir comigo?
— Não posso. Tenho que terminar o exercício da escola.
— Então vá pra você não levar umas broncas de seu pai.
Do Portão espiava um carro que soltava fumaça rua a fora, um moleque que passou piruetando pelas calçadas de patins, um homem que caminhava com a face enfiada no jornal. 
 Na rua, o sol era forte. Ela começou a sentir uma fadiga no peito e resolveu parar debaixo de uma árvore e descansar. Em seguida, entrou numa sorveteria, comprou alguns doces e saiu. Ia atravessando a rua e um carro freou nos seus pés, deixando-a em estado de Choque e, por causa dele, tomou muita garapa.
Depois de recuperada, sentou-se num banco que ficava em uma praça cheia de crianças que brincavam soltas como o vento, alegrando as vendas do pipoqueiro. Sentada numa posição singela, Laura correspondia aos acenos dos conhecidos que por ali passavam. Resolveu voltar para casa. Com o pacotinho de doces na mão, atravessou a rua com cuidado e se foi.
Em casa, deixou o pacote de doces no quarto de Fernando. Em seguida foi à cozinha, lavou as mãos na pia e sentou-se a mesa. Espiou a flor, tocou nela e se alegrou. Apesar do choque, ainda estava viva para poder regar suas plantas todas as manhãs e tardes. Aquele estado doce de alegria lhe fez esquecer aquele incidente que quase levara sua vida.
— Tia, eu já tava preocupada com a senhora! Já ia telefonar pro Paulo.
— Minha filha, eu só fui dar uma voltinha bem aqui perto. Se eu ficar dentro de casa, vou me sentir como uma coisa; sem nenhuma serventia.
— Eu sei. Mas a senhora saiu que eu nem vi!
— É verdade! Você tava no banho.
— A senhora promete que da próxima vez avisa, né?!
— Não se preocupe minha filha. Eu aviso.
Pretinho se aproximou, roçou seu corpo nas pernas de Laura. Ela o pegou nos braços e sentou-se na preguiçosa. No colo, a egípcia, Pretinho ficava com os olhos semicerrados por causa do cafuné que ela lhe fazia.
LIMA, Ronaldo Pereira de. Laura.  Editora Diário Oficial, Aracaju, 2011. 

 



Leia Mais ►

23 de mai. de 2013

Direitos do autor

Conhecer os direitos autorais é necessário. Não se o escritor seja jovem ou não, se pretende participar de concursos literários ou submeter seu original a uma editora. É bom está atento, pois, caso precise assinar algum tipo de contrato saiba o que está fazendo. Por isso, nada melhor que conhecer a definição desse Direito. Para Manso, direito autoral:

“(...) é o conjunto de prerrogativas de ordem patrimonial e de ordem não patrimonial atribuídas ao autor de obra intelectual que de, alguma maneira, satisfaça algum interesse cultural de natureza artística, científica, didática, religiosa, ou de mero entretenimento; que tais prerrogativas lhe são conferidas de leis especiais que as proclamaram; que tais prerrogativas consistem, em suma, num poder de utilização do seu produto intelectual, cabendo-lhe decidir se ele deve ou pode ser levado ao conhecimento do público em geral, ou de um público particular; de que maneira essa publicação será feita, para que fim pode dar-se sua publicação, e se a utilização autorizada deve ou não ser remunerada (...)”.

Esse direito constituem-se de um moral (ordem não patrimonial: criação) e um patrimonial (ordem patrimonial: pecuniário). O direito moral pertence exclusivamente ao autor, bem como patrimonial. No entanto, o autor pode ceder definitiva e temporariamente direitos sobre sua obra; desde que nelas apareceram seu nome como autor original vinculado à obra porque o Direito Moral é um bem inalienável e são irrenunciáveis.

Já o Direito Patrimonial em regra, tem como objeto um bem que esteja à disposição para ser comercializado, alienado e apropriado. Tratando-se de direitos autorais nascem quando o autor divulga ao público sua obra. Diferentemente do Moral que é inalienável, o bem patrimonial do autor é transferível em vida e em morte. Cessão dos direitos de uma obra pela modalidade intervivos
.
Os direitos autorais brasileiros estão elencados no art. 5º, XXVII, da Constituição Federal e na Leinº 9.610 de 1998. E não se dirige especificamente aos escritores, mas aos criadores de obras intelectuais de modo geral. Eles compreendem os direitos de autor e os que lhe são conexos.

É necessário que o jovem autor conheça com clareza esses conceito para que, ao participar de concursos literários, não caiam na tentação de plágio ou cause constrangimento jurídico relacionado à cessão de direitos a obra.

Por isso, os certames literários em seus regulamentos ou editais priorizam obras originais, inéditas. Isto implica dizer que essas obras não podem, nem devem ser plagiadas. Antes de se inscrever em qualquer concurso, leia cautelosamente. Se tiver dúvidas quanto a conceitos jurídicos, consulte um advogado.

Fonte:

MANSO, Eduardo J. Vieira. O que é direito autoral. São Paulo, Brasiliense, 1987.
Ministério da Cultura. Tire suas dúvidas sobre Direitos Autorais em nossa lista de perguntas mais frequentes.cultura. gov.br/site/2010/…/tira-duvidas/. Acesso em 10/10.
http://www.abdr.org.br/faq.html <acesso em 07 junho 2007>
Leia Mais ►

7 de mai. de 2013

Mundo Circular

Carlito os viu passar. Deixou o balcão, as garrafas falantes nas mesas e acenou com a mão para eles. Queria ser o primeiro a ter certeza dos boatos circulares das praças e bares. Ao se aproximar dos conhecidos, perguntou-lhes:


— Seu Artur, é verdade que ontem à noite, quando vocês pescavam, um casal de Nego d'água atacou vocês dois? Tá uma confusão danada nas ruas. O povo tá com tanto medo que nem banho que tomar no [1]Rio.

— Olhe seu Carlito, não sei disso não. O povo conversa muito. A gente não foi atacado por nenhuma criatura das águas. O que aconteceu foi isso: a gente saiu da croa para pescar. De repente, um toró caiu sobre a gente, acompanhado de uma ventania danada. Como o barquinho tava precisando de reforma, não aguentou com os sopapos do vento. Ele se partiu ao meio e a gente quase morreu. Só foi isso. Não teve Nego d'água nenhum.

Quando Carlito resolveu lhe fazer outra pergunta, o celular de Artur o interrompeu. Ao atender o telefone, ele ouvia o desespero da esposa. O pai dela morrera em seus braços. Despediu-se de Carlito e com pressa saiu acompanhado de Carlos.

Nisso, Carlito retornou ao bar. Nele, relatou para as mesas o que acabara de acontecer. Elas ficaram compungidas e o mundo circular continuou tico a tico nas ruas, nas praçs da pequena[2]Colégio.




[1]Refere-se ao Rio São Francisco
[2]Refere-se a cidade de Porto Real do Colégio - Alagoas
Leia Mais ►

16 de abr. de 2013

Escreva seu romance

Eu gosto de compreender as palavras a partir de suas origens. Por isso, nada melhor que conhecermos a etimologia da palavra romance.
Há quem diga que esse termo pode ter se originado de romans, forma derivada da latina romanicus. No entanto, há outra corrente que defende que ela veio de romanço. Romanço era a língua falada pelos romanos nas regiões ocupadas por estes para diferenciar do latine loqui.
Nos dias atuais, a palavra romance possui um significado amplo e diverso, pois, tem estrutura própria e assim é definido por Aurélio:
“s.m. Literatura Narrativa em prosa, mais ou menos longa, na qual se relatam fatos imaginários (embora estruturados com verossimilhança), às vezes inspirados em histórias reais, cujo centro de interesse pode estar no relato de aventuras, no estudo de costumes ou tipos psicológicos, na crítica social etc.: ler um romance”.
Para escrevê-lo, é necessário conhecer as técnicas que o envolve e toda a sua estrutura. Nesse sentido, citarei os três pilares de [1]Inoue:
  • A Montagem da histporia que se constitui de apresentação do protagonista e dos principais coadjuvantes; estabelecimento da premissa da história, daquilo a que ela dis respeito e das circustâncias dramáticas que contornam a ação; ambientação e fortalecimento do personagem principal e apresentação do ponto mais importante da trama.
  • A Montagem do conflito é a exposição e desenvolvimento do ponto mais importante da trama; apresentação do segundo ponto mais importante; apresentação e exposição dos obstáculoos e confrontações para a resolução da trama; exposição e desenvolvimento do segundo ponto mais importante da trama; apresentação do terceiro ponto mais importante; apresentação do início das soluções encontradas pelo personagem principal e exposição e desenvolvimento do terceiro ponto mais importante da trama
  • E a Solução do conflito. Esta, por sua vez, é composta pelo desenvolvimento das soluções encontradas pelos personagem principal; premiação do bem; punição do Mal e risada final.
Como se pode observar nos pilares citados, a escrita de um romance segue todo um esquema para que sua existência seja possível.
Há vasto material na Internet tratando desse assunto. Deixarei alguns links, como estes: 7 dicas para escrever um romance; 5 passos para escrever um romance; Elementos de ficcao; Como escrever um romance em dois meses e um vídeo aula bacana da escritora Janaina Rico. Aprecie as dicas e quando estiver pronto, escreva seu romance.
Como escrever um romance
[1] INOUE, Ryoki. Vencendo o desafio de escrever um romance. São Paulo: Summus, 2007.
Leia Mais ►

13 de abr. de 2013

Sobre a inspiração


Há quem fale de forma romântica sobre a inspiração. O que, de fato, é inspiração? Inspiração é a materialização de leituras anteriores.
Leia Mais ►

Sobre 2615-15



Eu não escrevo por hobby. Eu não escrevo para doar livros a parentes, amigos, conhecidos ou seja lá quem for no intuito de receber deles elogios. Eu escrevo para vender, ser lido, ser útil.
Escrever é uma atividade árdua. Requer tempo, concentração, conhecimento da língua, do mundo, dos livros e exige técnicas. Além da preparação do conteúdo material. 
Leia Mais ►

4 de abr. de 2013

A narrativa ficcional infantil e juvenil contemporânea


Mesa redonda
A convite da Diretora da Biblioteca Pública Infantil Epifânio Dória, profª. Sônia, participei como debatedor no dia 02 de abril na mesa redonda intitulada: Leitura e Aprendizagem: a narrativa ficcional infantil e juvenil contemporânea. Esse evento se deu por conta da programação especial alusiva ao mês do Livro Infantil em memória dos escritores Hans Christian Andersen, Monteiro Lobato e Epifânio Dória. O evento foi realizado na cidade de Aracaju – Sergipe.

A mesa, além de mim, foi composta pelo professor palestrante da Faculdade Pio Décimo M.Sc Manoel Messias Rodrigues do Curso Letras e pelo Profº. Dr. Ricardo Nascimento Abreu/BPED/Secult coordenando a mesa e a escritora Lilian Rocha.
Debatedor

O professor Messias se utilizou de uma linguagem clara e concisa para situar a história da literatura infantil, desde Hans Christian Andersen, Charles Perrault e outros até as obras contemporâneas, expondo as mudanças que houve relacionadas a contação de histórias para esse tipo de público. Destacou a importância da humanização que a literatura trás para a vida das pessoas, especificamente das crianças e sugeriu a importância de mediadores para o estímulo a leitura. 

A escritora Lilian Rocha, como debatedora, destacou que deveria existir uma maior quantidade de mediadores para que se proliferasse o hábito da leitura, deu ênfase às palavras do professor Messias quanto a humanização literária e partilhou experiências familiares relacionadas a leitura e a criatividade.
Encerramento do evento

Por último, opinei sobre os principais pontos mencionados anteriormente pelo professor Messias e a escritora Lilian Rocha. Sobre a humanização, destaquei a importância dos livros de ficção na vida das pessoas para que elas não se apeguem ao racionalismo, esquecendo-se de cultivar a inteligência emocional, sensível que nos transpõe para o outro, as suas angústias e temores. 

Quanto à leitura, opinei que o problema não é só de mediador, mas dos porquês. Destaquei que não adianta dizer para a criança, o adolescente, o jovem que “Ler é bom”, mas por que é bom? Para que serve a leitura de livros literários? 

O evento encerrou-se com as considerações finais relacionadas a duas indagações da plateia: uma sobre a participação da mídia no processo de leitura e outra a respeito da inspiração e uso das técnicas. 








Leia Mais ►