30 de mar. de 2022

Eleições e a troca de voto na República Velha


 
"(...), a questão da pobreza e da desigualdade no Brasil se mostra como algo gerado por um déficit histórico de cidadania em um país que viveu sob regime escravo por quatro séculos, no qual direitos civis e políticos existiam apenas no papel. Um bom exemplo são as eleições brasileiras, tanto no período do império quanto na república velha - a chamada república dos coronéis. As eleições eram escrutínios caracterizados pela fraude e truculência, onde os eleitores eram ameaçados por capangas ou trocavam seu voto por qualquer utensílio ou objeto".

Referência:

DANTAS, Humberto & Júnior, José Paulo Martins et al. Introdução à política Brasileira. São Paulo: Paulus, 2007. p.216
Leia Mais ►

O poder de manipular

Paulo Henrique Amorim, o PHA, do Conversa Afiada nos deixou em julho de 2019. Era jornalista e escritor. Com suas críticas bem humoradas, sarcásticas, deixou a sua contribuição para a democracia capenga do nosso país.

Ele, que sempre nos alertou sobre o Pig, que não é porco (a), mas Partido da Imprensa Golpista. Compreender a mídia, seu funcionamento é dever de todo cidadão para evitar a manipulação; até porque ela também curti um fake news.

De forma concisa, Paulo Henrique Amorim em sua imensa experiência, nos mostra o funcionamento dessa instituição, considerada o quarto poder
 
Manteve por muitos anos o blogue Conversa Afiada. E  a luta continua. A vida segue e as pessoas simplesmente morrem.



Leia Mais ►

26 de fev. de 2022

Molhando a mão


M.J. bordava redendê na sala de estar quando a vereadora Alícia surgiu sorridente. Pediu licença, entrou e disse:
Recebi seu recado.
Obrigado por ter vindo. Sente aqui, apontando para o sofá. Quer uma aguinha, um cafezinho?
Não. Obrigado
Sem firulas, M.J. foi direto ao assunto:
Sabe o que é, mulé; minha menina se operou e tá precisando de medicamentos aí. Já fui no posto de saúde e você sabe como é: nunca tem nada. Por isso, recorro a você. O que você pode fazer por mim?
A senhora tá com a receita?
Tô!
Vá pegar pra eu dar uma olhada.
E ela foi num pé e voltou n’outro. Alícia pegou a receita das mãos dela, olhou, olhou novamente, coçou a cabeça com a caneta e disse:
Vou vê o que posso fazer. Saiu entrou no carro sem olhar para trás.
Só que o “vou vê” nunca mais deu as caras.
Por sorte, M.J. guardou uma fotocópia da receita, entregue a outro parlamentar que levou o casso para o prefeito. Este se prontificou esolucionar o problema, ganhando o afeto e a fidelidade eleitoral dela.
As eleições se aproximaram e com elas os jingle, o pede pede .Alícia iniciou sua campanha. Bate palmas numa casa, n’outra até chegar na de M.J. Esta a reconheceu de longe.
Alícia queria abraçá-la, mas M.J. esquivou-se, pegou o balde d’água que estava no canto e deu-lhe um banho, tendo o prazer de estragar o vestido novo e a maquiagem.
Mesmo banhada, Alícia não perdeu a pompa. E ouviu silente as duras críticas que lhe eram proferidas. Quando percebeu que ela se acalmara, pediu perdão, abraçou-a e improvisou uma desculpa esfarrapada, molhando em seguida a mão dela.
Feito isso, saiu às pressas. Precisava se recompor.
M.J. ficou na porta achando graça de sua façanha. Olhou para a filha e disse:
Vô muito votar nessa galega falsa. Só porque encheu o rosto de botox, acha que tá com tudo. Tá pensando o quê? Que me esqueci do que ela fez com a gente? Tá muito enganada!
Leia Mais ►

30 de jan. de 2022

Chico, O Velho

Depois de percorrer os inúmeros caminhos que os diversos gêneros textuais oferecem, Ronaldo Pereira de Lima, o Ron Perlim, se inscreve, definitivamente, como um nome a ser firmado no cenário da Literatura voltada para o público juvenil com poemas e contos reconhecidamente premiados.

Agora, a proposta é nos apresentar personagens ricos em sentimentos, em filosofias sociais contemporâneas, em contradições existenciais, traçando o perfil de seu povo, de seu lugar, da linguagem que comunica (mesmo quando não fala), que critica (mesmo quando elogia), que se mostra (mesmo quando se esconde), que vive vida real (mesmo que na ficção).

Ronaldo traz em mais um de seus surpreendentes livros a mostra do que é a vida simples de um povo às margens do rio que há muito não é mais um rio, e sim um filete de esperança de um dia voltar a ser grande e abundante.

Dilma M. Carvalho

Chico, personificação do Rio São Francisco, sofre e deixa transparecer nas angústias de seus frequentadores, nas agonias das cidades que o margeia, a dor da escassez, o medo de não ter o amanhã, a tristeza das incertezas e força da esperança nordestina.

O livro é mais uma excelente obra de ficção que retrata o mundo simples, a gente simples, ao tempo em que faz uma denúncia e um alerta à reflexão sobre os aspectos sociais que a degradação do Rio São Francisco provoca nos moradores ribeirinhos.

E é através de uma literatura engajada, que pensa e reflete a sociedade pelo viés do imaginário, que nosso jovem público leitor vai viajar no rio e na vida ficcional dele emanada para a comunhão deste livro.

É isso que encontraremos na tranquila e reflexiva leitura de Chico, o Velho.

DILMA MARINHO DE CARVALHO, professora especialista em Literatura Brasileira, pela Universidade Federal de Alagoas, ministrante de Língua Portuguesa, Literatura Brasileira e Redação para o Ensino Médio na rede pública de Alagoas.


Leia Mais ►

23 de dez. de 2021

Academia Japoatenense de Letras e Artes

Dia 23.11.2021 o escritor, professor e blogueiro Ron Perlim esteve na cidade de Japoatã, Sergipe. Foi participar de evento da Academia Japoatenense de Letras e Artes. A convite de Janda Lilian Tojal, a quem entregou o diploma a ela como novo membro daquela casa.

Ron Perlim e Janda Lilian

Naquela ocasião, depois de dois anos de pandemia, revi com satisfação Saracura e Domingo Pascoal. Velhos amigos de estrada literária. 

Família Marron e Saracura
Depois de os novos acadêmicos tomarem posse, houve o lançamento do livro da escritora e membro daquela academia, Cristina Medrade.

Ron Perlim e Cristina Medrade
Leia Mais ►

10 de nov. de 2021

Mil blocos logo no início

Publicado inicialmente em 2015 na Tribuna da Praia.

Du resolveu pintar o cabelo de amarelo queimado. Na calçada, conversa com um, com outro e chama pelo nome dos que passam pela rua. Em seguida, se aproxima de onde estou; sentando ao meu lado.


Perguntei o que ele achava do prefeito. Ele respondeu: “Não quero nem ouvir falá o nome desse homi”. A resposta crespa e raivosa dele não me fez recuar. Indaguei as razões de tanta raiva. Du ficou silente, mas resolveu abrir o coração. Me disse: “Minha avó... Perto de se aposentar. Precisou de R$ 50,00. Aí, ela falou com um conhecido dela. Ele não conseguiu arrumar o dinheiro. Aí, o conhecido da gente disse: ‘Não se preocupe. Vou falá com o prefeito’. Quando minha avó foi falá com o prefeito a mando desse conhecido, ele só deu R$ 20,00. Isso foi cinco meses depois da eleição”.


Eu disse para ele: “Isso não é certo. As pessoas devem pedir para os prefeitos escolas boas, bons professores, saúde de qualidade, cidade bem cuidada, gerar emprego para as pessoas não ficarem pedindo nada para eles. O voto não pode ser vendido, nem trocado”. Du parecia não me ouvir. E me indagou: “Você acha isso certo: a pessoa precisar de R$ 50,00 e receber R$ 20,00? Ele (o prefeito) recebe mais de R$ 10.000,00. Ele tá pior que o vice. A gente precisou de R$ 80,00 e ele deu R$ 70.00. Só faltou R$ 10,00”.


Eu retruquei, mantendo as minhas opiniões e Du complementou a sua fala: “Logo no início da campanha, o prefeito deu mil blocos pra gente construir o muro da casa de minha avó. Foi sete votos lá em casa. E minha avó só precisou dele cinco meses depois. Quando ele já era prefeito. O dinheiro era pra pagar a energia”.


Dito isso, se calou. Eu também me calei.


Debaixo da árvore, os pardais pipilavam. Os galhos farfalhavam. As folhas caiam. Depois Du me disse: “Quer quantos quilos de macaxeira hoje?”. “Dois”, respondi. Ele me deu a mão, me cumprimentou e se foi com o sorriso cariado, sumindo na esquina da rua disforme.


Eu fiquei pensando no sistema que procria espécimes como cunhas, delcídios, arrudas, agripinos, o BBB (bancada da bala, do boi e da Bíblia), aécios e tantos outros que estão no Congresso criando problemas para a nação.

 

Leia Mais ►

27 de out. de 2021

Barco de Pescador


Estava às margens do rio, eu e tantos outros. Enquanto a lancha passava com poucos passageiros, a brisa nos tocava. O ambulante, numa galinhota, se aproxima. A castanha de caju estava com uma boa aparência. Degustei uma delas e comprei uma porção. Ele saiu pela beirada do rio e ninguém mais comprou.

Homens retiravam orelhas de burro com um gadanho. Elas impediam que os clientes do bar tomassem banho.

Chico, o Velho, não descansa. Cheio de dores e hematomas, segue humilhado seu curso; mas se mantém firme. Seus filhos precisam dele.

Nisso, um barco com dois jovens se aproxima, atraca na beira do rio. O último, a espiar as garotas, ficou com o leme, e o outro próximo a proa, espiava algo no celular.

Uma garotinha saiu correndo do barraco disforme, feito de madeira e palha, foi até a canoa, comprou um pacote de algodão doce e voltou na mesma velocidade.

Aquele barco que andou cheio de peixes olhou triste, demorou uns dez minutos e saiu aos poucos pela beirada a procura de clientes mirins para seu sustento.

Leia Mais ►