A professora Rose Nunes trabalha na Escola Joaquim Gonçalves de Sá, numa comunidade quilombola no povoado Caraíbas, em Canhoba, Sergipe. Durante dois meses, o livro O povo das águas foi incluído no projeto de leitura daquela instituição. A cada semana era lido um capítulo do livro. Após a leitura, havia a produção de textos ou algo concreto. Os alunos ficaram encantados e desse encantamento surgiu o projeto O povo das águas e a vontade de conhecerem a Pedra do Meio, como já foi publicado neste blogue. Os detalhes desse projeto podem ser ouvido neste vídeo da professora Rose e algumas fotos.
26 de jul. de 2018
15 de jul. de 2018
As acácias me traíram
Acácia Rosa |
Tem dias que a gente precisa de ar fresco e um lugar bacana
para ir. Foi num desses que eu larguei tudo e fui à Praça Assis, por ser ampla
e ter muitas acácias. Eu adoro as acácias!
O perfume delas me trouxe
alguém das profundezas. Alguém que eu achava que havia esquecido. Aída pululava
os meus pensamentos e eu não queria viver aquele drama que se arrastou em mim
por algum tempo. Seria eu uma cobaia nas mãos de Cupido? Não sei dizer. Sei que
o perfume das acácias me traiu, trazendo-me lembranças que não queria.
Ali, na praça, atordoado, não me livrei de mim. Me debatia,
buscava freneticamente algo que me socorresse daquelas lembranças que causavam
calafrios. Eu não queria reviver tudo de novo.
Tudo isso foi um engodo da alma porque o olfato me fez pensar
o tempo todo em Aída contra a minha vontade. Alojou-se, tomou posse. Nem mesmo as
garotas com quem saí, delicadas e suaves, foram suficientes para impedir a fúria
com que as lembranças me viam.
Cansado das acácias, fui andando, fui estranho. Era preciso
se recompor, era preciso se reorganizar.
Mais adiante, longe delas, eu me recolhi de tal forma que o
tempo foi indo, sem que eu percebesse. Quando me dei conta, pés e mãos viam de
todas as partes.
Naquele momento, ninguém
apareceu para quebrar a minha dor. Até porque na dor já não há mais alento. Naquele dia eu deixei
as acácias e não tinha mais certeza se as queria por perto.
26 de jun. de 2018
A maior tragédia do homem moderno
Paulo Freire |
Uma
das grandes, se não a maior, tragédia do homem moderno, está em que é hoje
dominado pela força dos mitos e comandado pela publicidade organizada,
ideológica ou não, e por isso vem renunciando cada vez, sem o saber, à sua
capacidade de decidir. Vem sendo expulso da órbita das decisões. As tarefas de
seu tempo não são captadas pelo homem simples, mas a ele apresentadas por uma
“elite” que as interpreta e lhas entrega em forma de receita, de prescrição a
ser seguida. E, quando julga que se salva seguindo as prescrições, afoga-se no
anonimato nivelador da massificação, sem esperança e sem fé, domesticado e
acomodado: já não é sujeito. Rebaixa-se a puro objeto.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade, pág. 51. Rio
de Janeiro, Paz e Terra, 2000.
17 de jun. de 2018
Alunos conhecem a Pedra do Meio
Pedra do Meio no fundo |
Os alunos da Escola Municipal Joaquim Gonçalves
de Sá, localizada no povoado Caraíbas na cidade de Canhoba, Sergipe,
leram o livro O povo das águas. Encantados
com a história, eles queriam conhecer a Pedra do Meio, onde era presidido o
Conselho do povo do rio. Para isso, eles foram à cidade de Porto Real do
Colégio acompanhado da professora Rose Nunes e da diretora escolar Anacler e
lá, estiveram com o escritor Ron Perlim que os conduziu
pela Pça. Rosita de Góes Monteiro até chegarem no Porto da Delegacia para
avistarem a Pedra. Desceram até às margens do rio e contemplaram o estado
melancólico em que se encontra o nosso amado Chico. O momento foi oportuno para
falar mais sobre as personagens do livro e mostrar-lhes a importância da
preservação do meio ambiente.
Um dos alunos disse: "Queria ver
o Nego d'Água e a Alma Penada". O escritor Ron Perlim respondeu: "Se
você tivesse trazido o livro, você e seus coleguinhas viriam o Nego d´Água e os
demais seres".
A visita não foi mais intensa
porque não havia pescadores disponíveis para conduzir os alunos, a professora e
o escritor até a Pedra do Meio.
28 de mai. de 2018
As bacantes
Dionísio ou Baco |
Na
região da Mesopotâmia, tivemos as Sáceas, festas inspiradas nas licenciosidades
sexuais e na inversão de papéis entre servos e senhores. Na Grécia, foi
oficializado, no século VII a.C., o culto a Dionísio. Deus da
transformação e da metamorfose, Dionísio era comemorado no início da primavera,
quando sua imagem chegava a Atenas transportada por embarcações com rodas, com
mulheres e homens nus em seu interior. Em terra, a procissão era acompanhada
por um cortejo de ninfas e saudada em êxtase pela multidão de mascarados. A
festa acabava no templo sagrado de Lenaion, onde se consumava a união de
Dionísio com os fiéis, gerando abundância e fertilidade. Em 379 a. C., foram as
bacanais romanas que marcaram época, data em que o culto a Dionísio chegava a
Roma com o nome de Baco. As bacantes, aos gritos de [1]Evoi! Evoi!, por
ocasião das orgias em homenagem a Evan, alcunha de Baco, cometeram tantos
excessos que as Bacanais foram proibidas em 186 a. C. pelo Senado Romano. Como
a proibição não vingou por muito tempo, as Bacanais voltaram com mais vigor
ainda no tempo do império.
SILVA, René Marc da Costa et. all. Cultura Popular e Educação. Salto para o Futuro. TV Escola. SEED. MEC, Brasília, 2008. p. 96
2 de mai. de 2018
Duvide. Critique. Determine.
Todo ser humano (...) deveria aprender a fazer
higiene mental tal como faz a higiene bucal. Como? Todos os dias, em silêncio
mental, deveria aplicar a técnica DCD (Duvidar, Criticar e Determinar).
Deveria duvidar
de tudo que o controla, pois aquilo em que crê a controla. Duvidar do
controle do medo, da autopunição, do sentimento de incapacidade, de não dar
conta de tanta responsabilidade, de que seus filhos não desenvolverão uma
personalidade saudável. Deveria ainda, criticar
sua baixa autoestima, sua fragilidade, seus pensamentos asfixiantes, o
conformismo e as falsas crenças. Deveria também, para completar a técnica DCD, decidir a cada momento ser livre,
seguro, leve, relaxado, gestor de sua mente.
A técnica DCD pode ser feita espontaneamente
todos os dias, por três ou quatro minutos a cada vez. O ideal é que seja
realizada antes de sair de casa e logo ao deitar na cama. Iniciar e finalizar o
dia com higiene mental relaxa, acalma, debela nossos predadores mentais,
reedita nossa história.
Se todos os dias as crianças, os jovens e os
adultos em todas as nações fizessem essa técnica disciplinadamente, evitaríamos
centenas de milhares de suicídios e milhões de outros transtornos emocionais
por ano. A técnica DCD é revolucionária.
Fonte: CURY,
Augusto. 20 regras de ouro para educar
filhos e alunos: como formar mentes brilhantes na era da ansiedade. 1 ed.
São Paulo: Planeta, 2017. pp. 160-161.
26 de abr. de 2018
Tem que ter uma ruptura
Ele estava em minha
frente, sentado, e com um livro a sua esquerda. Como a mente não
aprecia a solidão, foi logo conversando uma coisa ali, outra acolá.
Nisso, tocou em política. Política é um assunto que ultimamente
muita gente não tá sabendo conversar, outras estão enojadas e mais
outras preferem não opinar.
Iniciou a sua fala
pregando a ruptura, ou seja, regime militar. Para ele seria o ideal
para a ocasião; mas sem convicção formada. Era mais um dizendo as
coisas pela força da revolta. Quando ele repousou a língua, eu
tomei a palavra e lhe disse: Não acho que a ruptura seja uma boa
ideia. Ele me interrompeu. A sua língua repousou novamente. Ai
eu continuei: Quero dizer a você porque discordo, não relatando
fatos históricos; mas o que vivi quando criança.
Quando eu e os amigos brincávamos
na rua, tinha um delegado que, quando apontava na esquina, a gente já
sabia: tinha que pegar a bola e correr.
Sabe por quê? Porque era costume dele
cortar ao meio as nossas bolas com uma faca.
Não tendo o que dizer,
mudou de assunto. Disse que esteve na Caixa outro dia e viu os
servidores de barbicha, cabeleira e tatuado. Para ele, aquelas
pessoas não deveriam estar ali. Elas não estavam de acordo,
apresentável. A minha resposta foi esta: Estamos em outro tempo.
As coisas e as pessoas mudaram. Ele insistia que
aqueles servidores não estavam apresentáveis, que deveria acontecer
uma ruptura.
Em seguida, fez duras
críticas aos alunos da rede pública e os qualificou como maconheiros, que não tavam nem aí para os estudos e que fazia medo
até aos professores. Para ele, era necessária a presença da
polícia nas escolas para coibir o mal que está se alastrando pelo
país.
Reclamou que a família
estava desestruturada e que não era obrigação da escola educar. A
escola era um mero passador de conteúdo. Apegou-se a isso,
desconsiderando a formação social do nosso país de abandono e
exclusão.. Exaltou a educação no tempo do regime, mas eu não dei
importância para isso. Eu sabia que o regime não foi grande coisa
na educação.
De face atordoada, ele
se foi. Quase era atropelado por uma bicicleta. Disse impropérios ao
ciclista e finalmente sumiu da minha vista, ao virar na esquina.
Falou muito. Ouviu
pouco. Pensa menos.
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