Desde jovem, ouço críticas ácidas sobre os políticos. Essas críticas, com o passar dos anos, suscitou sentimentos de aversão e até ódio sobre aqueles que praticavam e viviam na política. Elas viam de cima para baixo e como a maioria dos brasileiros, estava cansado, revoltado e com sede de justiça.
Eu fui um jovem que sempre busquei compreender as coisas e Sofia me ajudou bastante nisso. Então, me debrucei sobre os livros. Queria respostas para as minhas dúvidas, os meus sentimentos; mas eles não me satisfizeram. Era preciso participar da política para saber como ela funcionava. E compreender, principalmente, por que políticos com vida pregressa maculada se perpetuam no poder
Nessa busca, compreendi que o nosso sistema político é um sistema de cumplicidade. É cúmplice o eleitor quando mercadeja o voto. É cúmplice o político quando aceita essa condição ou a impõe. O voto, nesse sistema, não cumpre sua função social, não elege políticos. Não passa de uma simples mercadoria. Nele, não dar para indigitar culpados, nem inocentes se levarmos em conta o modo como foram educados, a origem de cada um.
No cotidiano politico, defino esse sistema de comércio eleitoral, que nada mais é que mercadejar o voto. Pouco se fala nele, seja por ignorância ou má-fé. Ele pode ser dividido em compra e venda de voto; favores e financiamento. A sua prática é comum e visível em todos os municípios deste país. O Congresso é apenas a dimensão de tudo isso em situações muito mais complexas.
O sistema é péssimo, pois, abriu e abre espaço para que todo tipo de gente chegue ao poder. Ele facilita e pari a corrupção. Nesse sistema, o político acusa o eleitor de vender o voto e o eleitor acusa o político de não fazer nada por ele. E nisso, nosso país vive procriando políticos de toda espécie. Exemplo disso é o que estamos vivenciando em nossos dias.
Sei que, enquanto só se apontam os erros das tribunas e não se buscam mecanismos efetivos que sirvam de contraponto na reeducação política de nossas crianças, é tolo quem acredita em mudanças significantes nesta república ou que operações como a Lava Jato passará o país a limpo. Tudo bobagem! Tudo engodo!
É preciso entender uma coisa: políticos não são eleitos por si. É isso que se deve discutir. É isso que crianças, adolescentes e jovens devem compreender. Sem essa compreensão, o sistema permanecerá como se acha, camuflando-se de democracia.
Em vez de empaturrarem as redes de picuinhas, links e discursos fascistas ou se tornando papagaios midiáticos para descriminalizar a política e demonizar pessoas, deveriam abrir espaço para a discussão do sistema de cumplicidade. É ele que precisa ser combatido com veemência. No dia que a sociedade passar a discuti-lo e criar mecanismos de enfrentamento contra esse sistema, muita coisa mudará neste país.
Por falta dessa discussão, o que se ver é o saudosismo militar, a extrema direita tomando folego, os partidos atolados em escândalos, os movimentos sociais lutando para que as conquistas sociais não sejam retiradas. Mas nenhum desses discutem o sistema de cumplicidade, não propõe o combate a corrupção de base, matriz de todas as outras corrupções. Preferem a passividade. Preferem ser ventríloquo, preferem enxergar a corrupção do outro. Ilude-se quem acha que o problema da corrupção do nosso país seja exclusivo de políticos ou de partidos.
E concluo com esta questão: se os candidatos, que não são eleitos por si, fossem eleitos sem a prática do comércio eleitoral, a maioria dos nossos políticos seriam honestos e qualificados? Acredito que sim.