21 de jan. de 2017

Ver com os olhos livres


Em 1924 o inquietante Oswald de Andrade cravou no peito de parte da vampiresca elite intelectual e econômica brasileira - habituada a apenas sugar o sangue literário advindo da Europa e, depois, homorragicamente, expelir pedantes perdigotos - uma estaca certeira: o Manifesto da poesia pau-Brasil. Nesse inteligente panfleto bradou: "Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres".

Ver com olhos livres! No original do manifesto está em itálico, é a única frase destacada assim pelo próprio autor. É uma invocação, um grito, uma palavra de ordem. A defesa intransigente da possibilidade de olhar não reprimido, não constrangido pelo óbvio, um olhar que consiga transbordar e derramar-se para fora do o limita.

CORTELLA, Mario Sergio. Não se desespere!: provocações filosóficas. 7 ed. - Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. pp.71-72
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7 de jan. de 2017

Lendo que se aprende


O pequeno Santos Dumont adorava os livros de Júlio Verne. Era um romancista fabuloso. Como tinha imaginação!

Júlio Verne contava histórias fantásticas. Para o mundo daquele tempo eram mais assombrosas ainda que as aventuras de Batman e Robin. Façam só uma idéia: os livros de Júlio Verne narravam viagens no fundo do mar e viagens pelo espaço sem fim.

As pessoas mais velhas, que também gostavam de ler Júlio Verne, achavam aquelas idéias absurdas e impraticáveis. O menino Santos Dumont não acreditava em coisas impraticáveis.


BARBOSA, Francisco de Assis. Santos Dumont inventor. Rio de Janeiro: J. Olympio, Brasília, INL, 1974.
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20 de nov. de 2016

V Encontro de Escritores Sergipanos

O V Encontro de Escritores Sergipanos aconteceu no dia 11 de novembro de 2016, no Museu da Gente Sergipana, em Aracaju - Sergipe. Como vocês podem observar nas fotos, eu estive por lá. Revi alguns amigos, conheci outros e mais outros. Participar desses encontros é enriquecedor porque há gente de muitos lugares e cada uma delas tem algo para nos dizer.

Ronperlim e Saracura

Telma Costa e Marcléa

Ronperlim, Marcléa e Antenor Aguiar

Marcléa, Saracura, Ronperlim e Silvanira Marques
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15 de nov. de 2016

O que é preciso para ser um bom poeta?



Vou resumir o que disse no capítulo “Formação do Poeta”, inserido em Vigília Poética: O poeta nasce com uma especial intuição; alimenta-se de sensibilidade; caminha pela imaginação; domina o sentimento; aperfeiçoa-se com o artesanato; joga com a inteligência; enriquece com a cultura; e atinge a maturidade através de uma peculiar concepção de vida. Assim, é de supor-se que, na formação do poeta, possuidor de graça intuitiva, se equilibram sensibilidade, imaginação e sentimento, a influxos de artesanato (consciência técnica profissional), inteligência, cultura e personalidade.

STEEN, Edla Van. Viver e escrever: volume 3. 2 ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p.195.


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29 de out. de 2016

O escritor e a sua participação política e social de seu país

Você acredita que o escritor deve participar da realidade política e social de seu país? E essa participação não criaria uma espécie de conflito para o escritor de ficção? 

Na Idade Média, a arte estava estreitamente ligada a religião, porque a vida era essencialmente religiosa. Hoje vivemos uma época essencialmente política. Sempre digo que até o gesto de se colocar um selo num envelope é um gesto político. Logo, a arte, seja qual for, não pode se distanciar desse universo. Tem que estar impregnada dele e de suas preocupações. Para escrever, o escritor reflete sobre a realidade do mundo onde vive. Refletindo é compelido a lutar de algum modo. Creio que o conflito se estabelece quando esse modo deixa de ser uma escolha para se tornar uma ordem.


STEEN, Edla Van. Viver e escrever: volume 3. 2 ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p.158.
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23 de out. de 2016

Uma banda escrava

— O major Ursulino de Goiana fizera a casa de purgar no alto, para ver os negros subindo a ladeira com a caçamba de mel quente na cabeça. Tombavam cana com a corrente tinindo nos pés. Uma vez um negro dos Picos chegou na casa-grande do major, todo de bota e de gravata. Vinha conversar com o senhor de engenho. Subiu as escadas do sobrado oferecendo cigarros. Estava ali para prevenir das destruições que o gado do engenho fizera na cana dos Picos. Ele era o feitor de lá. O seu senhor pedira para levar este recado. O major calou-se, afrontado. Mandou comprar o negro no outro engenho. Mas o negro só tinha uma banda escrava. Pertencendo a duas pessoas numa partilha, um dos herdeiros libertara a sua parte. Então o major comprou a metade do escravo. E trouxe o atrevido para a sua bagaceira. E mandou chicoteá-lo no carro, a cipó de couro cru, somente do lado que lhe pertencia. 

REGO, José Lins. Menino de Engenho. Rio de Janeiro: J. Olympio, 2003 – Literatura em Minha Casa; v. 3. p. 77.

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12 de out. de 2016

Que é um conto? Um romance? Uma novela?


Que é um conto? Um romance? Uma novela?

Começarei pela novela, que é um conto grande e não um romance pequeno. Deixe-me falar aqui que é um dos meus gêneros prediletos e um dos menos exercidos não só no Brasil como no mundo. Há poucas obras-primas, como Morte em Veneza, nesse tipo de literatura. Comecei pela novela, ao publicar Um Gato no Triângulo, em 1953, e há mais novelas que contos em o Pêndulo da noite. No livro Soy Loco por ti, América, há uma novela, “A Enguia”, que considero um dos meus trabalhos de maior embalo. Mas a pergunta é o que é um conto, uma novela, um romance? Ora, o conto é um samba, rock, tango, fado ou bolero. A novela é um prelúdio ou rapsódia. O romance é um concerto ou sinfonia. Como o conto, a novela tem um único tema, a mesma linha melódica, e prende-se à descrição de fatos. O romance pode conter vários temas, em contraponto, e o autor dele participa livremente, comentando, discutindo o comportamento dos personagens e expondo suas idéias ou avançando conclusões.


STEEN, Edla Van. Viver e escrever: volume 3. 2 ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p. 46-47
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