17 de set. de 2016

De pais e professores todas as crianças estão cheias


Você tem alguma receita de escrever para jovens? Acredita que um autor precisa ser dotado de um talento específico para produzir bons textos infanto-juvenis?


Acredito que sim, mas não sei qual será. Tenho impressão de que a primeira coisa deve ser o cara tirar a máscara professoral e paternalista. De pais e professores todas as crianças estão cheias, por mais que amem uns e outros. Sobretudo, não deve bancar “o mais velho”, sabedor e ensinador de coisas. Dos mais velhos geralmente os mais novos andam cheios também. Os mais velhos, mesmo ainda jovens, sempre se deram o luxo de desprezar as gerações que os precederam. Bobagem, é claro. Todos se esquecem de que infância e mocidade são acidentes passageiros, que o tempo rapidamente apaga. E que a vantagem não está em ser jovem (fenômeno comum a 80% da população mundial), mas em sobreviver e, consequentemente, envelhecer. (Você já viu que eu procuro puxar a sardinha para o meu lado...) Mas por essa fase e esse preconceito da juventude, que eu também tive no devido tempo, todos nós passamos. É natural que a criança, logo que começa a se libertar das dependências e tiranias imediatas, olhe com desconfiança a autoridade, a coerção, a “mais-velhice”, o “não faça isso” exasperante que vem de todos os lados. O primeiro som humano que chega ao ouvido infantil, quando aquela coisinha maravilhosa ainda não entende palavra nenhuma (apenas barulho de amor, é claro...), é uma palavra curta e incisiva, muito parecida em quase todas as línguas: não. O livro infantil deve deixar a criança no à-vontade da não-interferência e do não-temor dos mais velhos. Nem máscaras, nem pose, nem dedo apontado. Não o “não faça”. E muito menos o “faça”. Se ela tem que aprender (e precisa), faça com que ela aprenda com quem conclui ou descobre por si mesmo. As lições da vida e das histórias (ou estórias, parece que não há mais jeito...) devem ser aprendidas por quem vive (sem ouvir o “eu não tinha dito?”) e por quem lê sem que perceba ter sido aquela a intenção ostensiva ou disfarçada do autor. O autor (penso eu, sei lá!) tem que se sentir criança como os leitores que procura. Pertencer, quanto possível, ao seu mundo maravilhoso e transitório, muito superior ao dos mais velhos, que no fundo são uns chatos. E por falar em chatos, fazer possível para não chatear o leitor.

STEEN, Edla Van. Viver & Escrever: volume 1 - 2 ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p.34.

Leia Mais ►

13 de set. de 2016

O poeta é relações íntimas






Você se lembra de como ou quando descobriu que podia ou queria fazer versos?

 Ser poeta não é uma maneira de escrever. É maneira de ser. O leitor de poesia é também um poeta. Para mim o poeta não é essa espécie saltitante que chamam de Relações Públicas. O poeta é Relações íntimas. Dele com o leitor. E não é o leitor que descobre o poeta, mas o poeta é que descobre o leitor, que o revela a si mesmo.

STEEN, Edla Van. Viver & Escrever: volume 1 - 2 ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008.
Leia Mais ►

19 de ago. de 2016

Revista Obvious


A Obvious é uma revista eletrônica que publica artigos, resenhas, crônicas e contos escritos em língua portuguesa nas categorias de arte, cinema, literatura, fotografia, músicas...
Abrange os países como Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e outros. Sua página no Facebook tem mais de um milhão de curtidas. Os textos estão bem-dispostos na página, facilitando a navegação.
A parti de hoje (19/08/2016) farei parte do maior projeto colaborativo de língua portuguesa na internet. Meu espaço na Obvious pode ser acessado através deste link: http://obviousmag.org/ronperlim. Para conhece-lo, acesse o texto Sem hora para chegar.

Leia Mais ►

18 de jul. de 2016

Uma pedra no meio do caminho


Muitos dos nossos melhores escritores, desde o início do século XX, passaram a empregar ter com esse sentido em várias de obras. O exemplo mais conhecido, pela polêmica que causou, foi a publicação, em 1930, do poema “No meio do caminho”, de Carlos Drummond de Andrade (no livro Alguma poesia), em que se repete diversas vezes as palavras “No meio do caminho tinha uma pedra” em diferentes ordens. Foi o suficiente, na época, para os defensores do purismo linguístico babarem de ódio e bombardearem o poeta com todo tipo de acusação grosseira. Em 1967, para marcar os quarenta anos da escrita do poema, o próprio Drummond reuniu o material publicado sobre ele no volume Uma pedra no meio do caminho – biografia de um poema. O gramático Napoleão Mendes de Almeida, por exemplo, se recusou, até morrer (em 1988), a dar o título de poeta a Drummond por causa desse imperdoável “pecado”. Hoje, Carlos Drummond de Andrade é reconhecido, internacionalmente, como um dos maiores poetas do século XX, enquanto Napoleão é apenas lembrado, de modo quase folclórico, como nosso mais extremado purista...

BAGNO, Marcos. Não é errado falar assim! Em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. p.204.
Leia Mais ►

6 de jul. de 2016

Poesia: crianças, conceitos, tendências e práticas



Trata-se do fato de que a grande maioria dos livros de poesia premiados, tanto na FNLIJ quanto no Jabuti, apresentam, para além de suas qualidades literárias, ilustrações bem elaboradas e um acabamento sofisticado. Tal constatação tem um lado muito positivo, que é a consolidação de uma produção editorial cuidadosa. Mas há também um lado negativo, ou pelo menos preocupante: ao praticamente exigirem dos livros o acabamento impecável, as premiações sugerem a possibilidade de que muita poesia de qualidade esteja sendo desconsiderada. Afinal, os júris que premiam, as comissões que selecionam obras para programas governamentais, mas também professores, bibliotecários, pais, crianças, enfim qualquer um que se (dis)ponha a escolher um livro de poesia corre o risco de deixar de lado uma obra poética de qualidade, caso a produção editorial do livro não acompanhe essa mesma qualidade. Trata-se de mais um desafio a ser enfrentado pela literatura, e principalmente a poesia, infantil.



CUNHA, Leo et al. Poesia: crianças, conceitos, tendências e práticas. Curitiba: Piá, 2012. p. 79.
Leia Mais ►

29 de jun. de 2016

A simplicidade de um texto

Marcos Bagno
    A simplicidade de um texto é fruto, sempre por mais paradoxal que isso possa parecer —, de um árduo trabalho de escrita, reescrita e re-escrita, e de muitos cortes e supressões de penduricalhos e coisas supostamente sofisticadas. Escrever é limpar o jardim, arrancar ervas daninhas, tirar pedregulhos do caminho, podar os arbustos e as moitas  só assim as flores podem se destacar e mostrar a beleza simples de que são feitas.

BAGNO, Marcos. Não é errado falar assim! Em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. p. 87.
Leia Mais ►

18 de mai. de 2016

Procure motivar as palavras

À medida que avançamos na aprendizagem da escrita, é nosso dever procurar aperfeiçoá-la sempre, acrescentando aqui, cortando ali, até chegar ao texto, se não perfeito, pelo menos satisfatório aos nossos objetivos. Tudo começa com uma frase bem-feita, um parágrafo bem estruturado, que depois de escrito precisa de uma boa revisão para corrigir faltas ou excessos. Sem esse rigor, é impossível escrever bem. E uma das provas dos noves da escrita é ver se tudo o que escrevemos está bem amarrado (a coesão) e se as ideias se somam e nunca se contradizem (a coerência).

Como saber que estamos no caminho certo? Para que seu texto seja bem construído, saiba que nenhuma palavra pode surgir do nada. Tudo o que escrevemos deve ser motivado por algo que foi enunciado antes. Uma palavra motiva outra, ou outras. É daí que nasce o bom encadeamento das frases e das ideias. Para isso, nossa atenção deve ser constante e redobrada.

Uma palavra usada de forma gratuita pode fazer ruir todo o nosso trabalho. Quanto mais elos houver entre as palavras, mais o texto ganha em coesão e coerência. Essas duas qualidades são irmãs inseparáveis. Elas exigem uma vigilância sem tréguas. Por isso, devemos saber por que colocamos aquela palavra e não outra em determinada frase.

VIANA, Antonio Carlos. Guia de redação: escreva melhor. São Paulo: Scipione, 2011. p. 96.
Leia Mais ►