13 de mar. de 2014

Na sala

Estava na sala de espera. Pessoas viam, outras iam. Cada uma carregava em si ou na carne a sua história. As faces eram variadas, na variedade de cores que só os males imprimem no corpo. Aquele aspecto macambúzio me fez pensar na existência humana.

O vento seco do ventilado batia na minha face, provocando a minha rinite. Uma música de súplica cristã invadia os meus tímpanos, transformando-me em um filósofo de chinelo de dedo.  Não demorou muito tempo aquele estado de filosofia barroca. Uma criança chorava, um idoso estava no corredor numa maca, um jovem ensanguentado passava desmaiado.

Diante de tantas pessoas que buscavam para si ou para outrem alívio para suas dores, cura para seus males; entendi que o ser humano não passa de uma espécie atrasada e doente. Mas grave que isso era saber que boa parte dela cultiva sentimentos tolos e vis.

Eu ficava na perspectiva de ser atendido, até porque o meu estômago dava os primeiros roncos de fome. 
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2 de mar. de 2014

Quando se morre antes de nascer

O escritor nasce antes da leitura, mas sem ela; ele não se torna escritor. A leitura é essencial, nem que seja a do mundo.  

Aos que sentem necessidade de externar sentimentos utilizando a escrita como veículo, deve está atento a si, ao mover das coisas do mundo e serem capazes de perceber quais sentimentos, quais coisas devem ser materializadas através da palavra.
Muitos chamam isso de inspiração. Outros acham que é um dom ou o “santo” que baixou. Não costumo atribuir à escrita, literária ou não, nenhum atributo espiritual e privilegiado de alguns. A minha experiência diz que a inspiração é a releitura de leituras anteriores e muito trabalho. 
A primeira formação do escritor parte de dentro para fora, onde os conhecimentos técnicos para a produção de textos nada adiantará a escrita se o escritor não aguçar a sua sensibilidade. Primeiro aguçasse a sensibilidade, depois, aplica-se as técnicas para que o texto chegue pronto até o leitor.
A técnica é útil, importante; mas deve se ajoelhar ante a sensibilidade para que a escrita ande. O leitor deve perceber vida, emoção nos parágrafos, no andar da história. Se o texto lido for maçante, ele não lerá um capítulo.
Cabe ao escritor dar ao leitor o que ele necessita: reflexão e entretenimento. Sem esses elementos, nenhuma escrita pode ser considerada literária. Por mais capacidade sensível que tenha o aspirante a escritor, necessitará ele dos conhecimentos que dominam a língua. Sem esses conhecimentos, ele não comunicará. Simplesmente morre antes de nascer.





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9 de fev. de 2014

O Rio de assoreamentos

Muitos foram os textos publicados. Alguns técnicos outros não. Há, também, os textos inéditos, baços nos olhos e na língua do povo simples que vive do Velho Chico e dele depende.
 
Não serei mais um a escrever um texto contendo dados de uma instituição ou baseando-se em algum estudioso. Não há muita necessidade de conhecimento científico para compreender que o Chico, com a sua pouca água, estar se tornando um miserável nacional; agravando mais ainda a vida dos ribeirinhos.
 
Este texto possui a melancolia, o pesar e a dor de todos os cidadãos ribeirinhos e aqueles que possuem consciência ambiental. No entanto, darei ênfase no trajeto  da cidade de São Brás até a divisa do estado de Alagoas com Sergipe por meio da ponte rodoferroviária. Nesse trecho, nota-se com bastante amargura que a Transposição sem revitalização é uma insanidade política e grosseira. Um feito megalomaníaco, típico de pessoas sem escrúpulo e que fazem de tudo para saciar os seus umbigos.
 
Todas às vezes que vou a cidade de Propriá, seja de lancha ou de automóvel, os meus olhos se enchem de melancolia. Diante das minhas íris percebo ilhas que não fazem parte da minha infância e outras que surgem no corpo do rio como o câncer. Sinto um aperto dentro de mim e imagino que posso alcançar os mais pobres suplicando um copo d'água, os canalhas da política tirando proveito de uma situação miserável e o caos da dor.
 
É lamentável presenciarmos a grande, enorme croa que se formou sob a ponte Propriá-Colégio sem que a indignação tomasse posse de nossas almas. Quantas vezes não ouço dos pescadores quando estes se referem ao passado de muitos peixes, da fartura e que; nos dias presentes, lhes faltam a esperança porque a força do Rio está fraca. Também fazem lembrar das grandes enchentes que inundavam as ruas da minha pequena Colégio.
 
Os tempos para o velho Chico mudaram para pior. Como a maioria dos idosos, o Chico esta sendo violentado pela ganância e estupidez de homens tolos e insensatos que não medem esforços para realizar seus projetos pessoais, políticos e financeiros. Esses míseros que só se importam consigo.
 
Visitar o trecho de São Brás a ponte Propriá- Colégio, o visitante entenderá com maior clareza o que essas palavras querem dizer; até porque será visto em várias partes desse trecho enormes coroas e a formação de outras, dividindo o que antes era indivisível.
 
O assoreamento, esta maldita doença fluvial, pouco a pouco sepulta o Velho Chico e com ele as carrancas, os nêgos e mães d´água, os peixes e os seus pescadores, os banhos e os banhistas, as lanchas e os lancheiros. Levará para  a sepultura as várias e muitas estórias dos seus amantes e frequentadores, ficando apenas as lembranças de suas enchentes, do banho suave e gostoso de verão que só o ribeirinho sabe saborear, desfrutar e valorizar.
 
Se os ribeirinhos tem orgulho de dizer que o Chico é o “Rio da Unidade Nacional”, eles têm agora pesar em lhe chamar de “Rio dos Assoreamentos” porque eles (os assoreamentos) surgem como o câncer.
Texto publicado na Tribuna da Praia em 18/03/2008.
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29 de jan. de 2014

Segunda edição do livro A menina das queimadas


Era costume meu sentar ao lado de dona Zélia para ouvir as suas histórias. Na minha cabeça os fatos adquiriam vida. Acompanhava as suas aventuras, dramas, alegrias e tristezas. Num desses dias percebi a importância delas, pois, ultrapassavam seu valor pessoal. Então, resolvi escrever este livro.

O livro A menina das queimadas está dividido em duas partes que se inter-relacionam. A primeira fornece tópicos da infância e estes expõem as dificuldades que essa encontrava para conciliar a vida de estudante com os afazeres do lar, as angústias cotidianas com o lazer. Já a segunda trata da sua convivência com a avó. Vivendo sossegada na companhia dela, a menina das queimadas continuou a estudar, tornou-se adolescente e paquerada por muitos. Você com certeza vai gostar de conhecer como se fazia o leilão de prendas (festa de debutante) ou como as rezadeiras faziam para espantar mal olhado.

Por fim, as histórias aqui contidas falam de uma criança que tinha sonhos, problemas e uma enorme vontade de estudar e vencer na vida. Ler este livro é fazer o percurso da vida dela. Se você se identificar com alguma dessas situações ou pessoas, não se surpreenda, afinal de contas elas foram reescritas literariamente.
 O autor
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2 de jan. de 2014

O Cavaleiro de fogo

Conheci José Inácio Vieira de Melo na IV Flimar. Trocamos algumas palavras e, devido a correria, não foi possível intensificarmos os diálogos. Para saber mais sobre o autor, os eventos que tem participado e seus últimos lançamentos, acesse este blog: Cavaleiro de fogoContato: jivmpoeta@gmail.com.

Compartilho, também, estes vídeos: 

  • Entrevista


 


  • Poesia



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2 de dez. de 2013

Por que ler contos

Elias José

O escritor Mário de Andrade dizia: conto é tudo o que você chamar de conto. Não esclareceu muita coisa, não acha?

Vamos falara mais claro: conto é uma narrativa que pode ser contada oralmente ou por escrito. Pode-se dizer que o ser humano já surgiu contando contos. Tudo o que via, descobria ou pensava dava origem a uma história, que ele aumentava ou modificava usando sua imaginação. Antes do surgimento da escrita, os desenhos nas cavernas foram uma maneira de registrar essas histórias.

Mas aqui vamos tratar do conto escrito. O conto é mais curto do que a novela e do que o romance. Tem um número reduzido de personagens e conta apenas uma história, que se passa num curto espaço de tempo e em poucos lugares. Essas personagens podem ser pessoas, bichos ou máquinas e elementos da natureza que adquirem vida. Os contos podem ser românticos, de aventura, de terror. Também há os contos psicológicos, que falam mais do interior das personagens, do que elas sentem. Os contos maravilhosos são contos de fadas e bruxas, reis e rainhas, príncipes e princesas. Alguns contos narram histórias que, mesmo não sendo verdadeiras, poderiam muito bem ter acontecido na vida real. Outros se inspirem em histórias verdadeiras para criar situações absurdas, totalmente imaginárias, que nunca poderiam acontecer na realidade. Enfim, há contos de todos os tipos.

Geralmente o conto não tem uma história muito movimentada. Ele deixa transparecer mais os sentimentos das personagens do que suas ações. Por isso, ele faz pensar, despertar alegria ou tristeza, faz o leitor sentir o gosto de se emocionar.

ORTHOF, Sylvia et al. A garupa e outros contos. São Paulo: Martins Fontes, 2002 – (Coleção Literatura em Minha Casa: v. 2).



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17 de nov. de 2013

Adail e A menina das queimadas

Ronaldo Pereira de Lima lançou seu “romance” (ou contos reunidos?) na II Bienal do Livro, em Itabaiana-Se. Não se trata de indecisão deste leitor, quanto ao gênero lido, mas de observação contida na última capa, que é interessante reproduzir: “O livro A Menina das Queimadas, a princípio, nos parece um livro de contos mas na verdade as histórias nele contidas se entrelaçam de tal forma que se torna um livro coeso (...)”

Na primeira orelha temos, com uma foto e um texto, revelada a fonte de inspiração do autor... Trata-se de uma obra curta, contida entre as páginas 9 e 46. A presença de um glossário, entre as páginas 47 e 51, remete a peculiaridades linguísticas. Sem este auxílio, saberia o leitor o que é “Brincar de Natal”, “Cartilha do povo”, “Chocho”, “Caieira”, “Esborrotar”, “Galinha de melão”, “Labafero”, “Lagoa Salomé”, “Macacão”, “Pedra negra”, “Prendar”, “Queimada”, “Quebranto”, “Sabão Branco”, “Sabão da terra”, “Simbazol”, “Trancoso”, “Tabuleiro”, “Uma quarta”? A bela capa, de Beatriz Lima, praticamente “entrega”, mas confesso que só decifrei o título após consulta ao glossário. São treze contos (ou capítulos?). Todas as histórias são interessantes e bem escritas, o livro é gostoso de ler; em uma hora você, satisfeito, conclui a leitura! De minha parte, a história de que mais gostei foi “Leilão de prendas”.

Sobre o autor:   
Adail Vilela de Almeida já teve textos, crônicas e artigos premiados pela Universidade Federal de Sergipe e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – Regional Sergipe. Tem dois livros de poesia - ‘Poemas de Martelo’, de 1993, e ‘Poemas de Pinho Apolo’, de 2011 - e um de prosa, ‘O Grito das Pedras’, também de 2011 e Poemas no Coreto, seu título recente.


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