— Artur, vamos tentar hoje de novo?
— Para quê? Para gastar o nosso tempo! Você não tá vendo
que esse Rio não dá mais nada não? Quando a gente sai, só pega uns tilapes que
não dá nem prá um frito! Por onde se pende só se vê mato e areia. Parece que o
Rio tá morrendo e ninguém liga. É croa daqui é croa dali. O que foi que a gente
pegou ontem, hem? Me diga vá! Três tilapes
que não deu cinco quilos.
Alberto silenciou por alguns instantes, compreendendo com
tristeza as aflições do amigo. Mas insistiu, dizendo:
— Amanhã é dia de feira. Eu sei que o que a gente pegou foi
muito pouco, mas pode ser que a gente dê sorte hoje à noite. Bora. A gente
nunca sabe e amanhã é outro dia!
— Vou não perder meu tempo, como ontem. Vá você!
— Bom! Tô indo. Se você mudar de ideia, eu tarei na casa de
mamãe. Até mais!
— Até e boa sorte!
Artur permaneceu debruçado sobre o cais e pensava: Por
que meu Deus, eu tenho que sofrer tanto assim nessa vida? Fui um bom filho.
Sempre cumpri com os afazeres que o meu pai mandava e minha mãe. Por que hoje
passo por tanto aperto? Sou um homem já idoso. O cansaço tá comigo e não me
larga. Não tenho prazer nenhum na vida. Será que eu tô pagando pelos meus pecados,
sofrendo e gastando o resto dos meus dias num barquinho; pegando uma bobagem
aqui outro ali, sol, chuva, chuva, sol pra vê se eu arrumo um bocado e uns
trocados? Não tenho nenhuma aposentadura. Se não fosse a ajuda do Governo e dos
meus filhos que me sustenta, fazendo um bico aqui outro ali o que seria de mim?
O que ganhei nesta vida? Só doença. Só fiz trabalhar feito um condenado. Pra
quê? Não sei mais olhar pra os meus filhos. Nunca dei nada a eles, além de
sofrimento e apertos. A minha mulher anda me rejeitando. Só anda com a cara
feia. Quando eu vou querer um negocinho com ela, ela me dá às costas. Será que
ela tá me traindo?
Nas longas e infiéis imaginações, dava a pobre mulher um
macho. Com essa cisma na cabeça, pensava em matá-la se fosse verdade o que ele
estava pensando. Quando chegava em casa que a via pálida e cansada de tanto
fazer conserto de roupas, arrependia-se das suas pífias e doentias ideias que o
atormentava e o perseguia o tempo todo.