23 de abr. de 2011

O amor morreu?


Amor surge a cada dia e ele não me comove. O amor de ontem, sem vento, sem dia. Apenas pequeno e sem Grécia não me move. O amor que um dia sonhou por mim, hoje me é estranho e sem nome. O amor que eu não quero entre as minhas pernas, nem nos meus lábios. O amor precisa reviver, pois, está semimorto no meio do caminho.
Estive estes dias consultando o Silveira Bueno. No meio de tantas, me deparei diante de uma que se tornou desbotada pelo uso midiático– o amor -. Estava lá, negrito, frio, sem flecha, aljava, Grécia, sem que alguém o despertasse. Parei um pouco nele, nestas paradas de Sofia, abri a página e o olhava como se o mesmo estivesse vivo, me comunicando alguma coisa. Tive a impressão que ele queria saltar da página e, por coincidência, escreveram-no de vermelho no Mini Aurélio. Comparei as cores e percebi a dualidade do espírito: vida ou morte.
[1]Entendi que ele quer vida nova, ideia nova. Ele, o amor, quer sair das telenovelas, dos comerciais. Está cansado daquelas cenas sem paladar. Daquelas cenas que só estimulam a carne. Não precisamos desta escravidão, desta falsa consciência. Precisamos fazer todas as coisas de forma natural, vindo espontaneamente da natureza.
As pessoas buscam um modelo para o amor, uma forma, fôrma de amor, imposta por uma determinada classe, deslocando as pessoas de sua realidade. É a indústria do sexo, do amor. Ao invés de amor como sexo, fantasia de sexo é preferível fazer sexo com compreensão num todo, percebendo as coisas, vivendo-as sem hipocrisia, medo, receios.
O que há é o hábito de amor, estimulado pelos interesses pessoais e financeiros, imitativo, vaidosos, midiático; baseado no estímulo do sexo como objeto de consumo, nada mais. Por causa desse cultismo ao sexo sarado, o namoro e o casamento se desmancham facilmente.
A compreensão é a forma verdadeira do amor, livre, sem pressão; onde as pessoas se partilham, onde vê no outro a sua metade, sem vícios; solidificados nos bons sentimentos, como sinceridade, afago, carinho, etc... As pessoas deveriam abraçar a compreensão, abandonando a indústria do amor.
O amor é um sentimento que tem vencido o tempo. É vivido de modo diferente em cada época e por diferentes culturas. Ele, também, aparece em outras formas de sociedade. O grilo, por exemplo, possui três canções para o Amor. A primeira é para informar que está “namorando” a grila; a segunda é para dizer ao colega que ele tá “na área” e a terceira para copular.
Portanto, somente o amor como forma de compreender o outro e o mundo que os envolvem é capaz de se livrar daquela falsa consciência.




[1] Estar biologicamente comprovado que o sexo é uma necessidade prazerosa, que faz bem a saúde física e mental.

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15 de abr. de 2011

Lamentações sem Jeremias


Reclamam deles. Apontam com os dedos das mãos seus defeitos e falhas, mas aceitam o comércio eleitoral como elemento “cultural” da sociedade brasileira.
Reclamam das Leis, da violência, do Judiciário (instituição dual), do setor público, mas elegem larápios e gatunos.
Reclamam em casa, nos assentos, nas escolas, nas repartições e onde houver aglomerado humano.
E estas miseráveis picuinhas se repetem todos os dias, a cada ano, a cada pleito e nada se conserta (Só a decisão do STF que tornou a ficha embranquecida).
E continua essa incrível contradição das reclamações e do escambo eleitoral.

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12 de abr. de 2011

Retrato

Vi a minha face dentro do espelho.


Mas quando virei o rosto


Eu a perdi no esquecimento.


Passo por uma rua inclinada e a vejo numa soleira.


Dei-lhe um riso contido, mas ela não percebeu.


Sigo adiante e percebo meus pés pisarem fundo.


A minha face não sabe a hora de parar, nem deseja o asilo.


Ela só quer se rever no espelho



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3 de abr. de 2011

A espectadora


            Carregava no corpo o cansaço que se acumulou durante seus setenta e cinco anos. Anos estes nada fáceis: sofreu passivamente com os insultos das raparigas, dos bafos incontáveis de cachaça e com os partos complicados.

O corpo, acomodado, não recepcionava as novas tecnologias como muitos da sua idade. Feito uma gata, esparramava-se no sofá, cochilava; depois vai para a cama, fica por lá algum tempo e senta-se numa confortável cadeira. De lá ocupavam os dedos com as bolinhas do terço, mas os olhos estavam voltados para os movimentos da rua.
A reza acabou. Os olhos deixaram à rua e os filhos apareceram em sua mente; um por um. Eles eram a sua mais séria preocupação.  Intrigas, fofocas, ciúmes, calúnias. Mesmo assim conviviam indiferentes e hipócritas. Esses fatos a entristeciam a ponto de suplicar no silêncio a morte. Uma lágrima envelhecida umedecia os sulcos da face.
Ela pensava: Eu os pari. Cuidei deles com amor, carinho. Fiz de tudo para eles estudarem, arranjar emprego. Quando o pai era vivo, todos vinham para as festas que ele fazia. Hoje, sumiram. Às vezes é que aparecem. E quando aparecem é para mim fazer raiva. Eu deveria na minha velhice ter era paz, sossego e não tanto sofrimento.
Esses eram os pensamentos que lhe causavam angústia, pois, via-os tomar cada um o rumo de sua natureza. Lamentava o seu estado deplorável. Faltava-lhe vigor para interferir como dantes, deixando o simples lugar de espectadora e interferindo em suas vidas, seus destinos. Hoje, ela não passava de uma simples espectadora das preocupações que seus filhos lhe causavam.
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14 de mar. de 2011

Para você


O amor tem uma regra única para aqueles querem vivenciá-lo:
O eu do amor não ocupa o espaço de outro eu.
Eles se partilham, tornando-se uma só cabeça;
Deixando o âmago adornado.
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Utopia a covardia

Outro dia conversava tranquilamente com algumas pessoas sobre o atual modo de se fazer política, como o sistema é perverso e como as pessoas estão vulneráveis a ele.

Neste colóquio, expus que a mudança na escolha dos empregados eletivos só seria possível se os eleitores começassem a vê-los como tais e não como investidores, comerciantes. Para isso acontecer era necessário que o combate ao comércio eleitoral não ficasse retido nas crônicas, muitas vezes a serviço de proveito próprio, nem no período eleitoral. Esse combate deveria ser todos os dias. Mas a minha exposição sofreu resistência por parte delas. Notei que elas estavam acostumadas a situação e davam a impressão de não querer mudanças. Isso era evidente quando diziam: “A política é assim mesmo. O que é que a pode fazer? Não tem jeito não. O povo só vota em quem dar alguma coisa”.

Fiz de conta que não as ouvi e insisti que a mudança era possível se houvesse empenho de cada um dos que discordam dessa prática, organizando-se, aprofundando-se nas questões políticas e tentando combater veementemente a compra e venda de voto. Umas olharam para as outras, o mau juízo se instalou entre elas e uníssonas concordaram que o sistema é assim mesmo, dando como encerrada aquela conversa.

Por alguns momentos silenciaram, mas as caras se retorciam achando que as minhas ideias de uma reeducação política eram inviáveis. Quando não tiveram mais o que argumentar, disseram:

— Você é um sonhador. Um utópico. Parece que quer mudar o mundo imudável. Você não estar vendo que o sistema é assim mesmo. O povo só vota em quem dar alguma coisa. Pouquíssimos são aqueles que votam pensando num todo. Se candidate prá você ver como é! O povo só vota em quem dar alguma coisa.
Olhei para cada uma delas. Depois de alguns segundos disse-lhes:

— Prefiro que digam que sou um sonhador porque reconhecem a minha esperança nas pessoas. Prefiro que digam que sou utópico porque sabem que não sou covarde, não me dobro, não me curvo a este sistema vil e mesquinho. Ao menos não acovardo as minhas falanges quando ponho nas páginas as minhas opiniões, não as reprimo ante os canalhas, ladinos que se aproveitam da pobreza de uns e da fraqueza de outros ditos “esclarecidos”, “cultos”, que passivamente não reagem contra esta prática maldita que só tem causado miséria e dor. Antes, compreendem a situação e quando tem oportunidade, tiram proveito dela. Quando estão insatisfeitos com esta ou aquela administração jogam a culpa para o povo simples. Preferem a mancebia da impiedade.

Depois da minha fala não existiram outras, até porque elas estavam aborrecidas. Levantei-me, as cumprimentei e sai caminhando suavemente pelas ruas.
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25 de fev. de 2011

A besta

A vida nada mais é do que uma coisa bestializada, onde tudo se resume em cansaço e vaidade. Tudo que buscamos, tudo o que adquirimos se resume na velhice e na dor.

Quantas e quantas são as pessoas que possuem vários bens, poder, luxo diverso, se vangloriam disso e em suas casas não há almas para habitar. O que existem são almas escuras pela dor e pelo sofrimento. Tudo o que a gente constrói é simplesmente para nos livrar do tédio da existência.

Há momentos que paro e noto a coisa besta diante de mim, diante das minhas retinas fatigadas: a besta humana, estúpida, inacabada. A besta que acha que é inteligente, que cria a fome, a bomba, às injustiças, a violência, as desigualdades sociais, os transtornos diversos da vida.

Toda essa bestialização se intensifica a cada dia, a cada instante na busca feroz pelo poder, na busca desenfreada pelo dinheiro; originando todo tipo de sentimento ruim: o egoísmo, a maldade, a intolerância, a incompreensão...

Mesmo diante de tantos erros, transtornos que uns causam aos outros, o homem continua sua jornada de bestialização.

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