10 de jul. de 2010

Mensagem para uma inscrição


Quando você for ao monte contemplar
Este mundo triste dos vivos
Você seguirá voando pelos penhascos sem
Ponte,
Com sua asa, sua dor, seu sorriso
Toca seu banjo, sua harpa
Sua flauta seu flautim seu violão
Toca a guitarra seu teclado seu piano
Ou qualquer misterioso instrumento de anjo
Só não se sinta triste
Quando eu tiver chorando você.
É porque você existe,
E eu morro de vontade de lhe ver de novo,
MÃE.
Wellingto Liberato dos Santos
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28 de jun. de 2010

A espera de um candidato

Mauro estava de pé. Com o celular abaixo do queixo, fazendo gestos como se estivesse num palanque ou tribuna. Era branco, cabelos lisos e sedosos. Carregava no rosto vestígios da adolescência. Eram espinhas fossilizadas. Calçava tênis e vestia jeans.

Falava de promessas e algumas pessoas o rodeavam, enchendo o coração e as cáries de alegria - Um menino passou de lado, catando as latas de refrigerante e cervejas que nós havíamos bebido. O vento fazia pequenos redemoinhos de poeira, fazendo os cílios se encontrarem para proteger às córneas.
Zuuuuummm... 

Uma carreta passou pela BR e Mauro falava, falava na ponta dos pés, voltando-se para uma plateia magérrima.

Alguém passou, pôs a mão no meu ombro. Eu o respondi com um sorriso contido. Biro se aproximou, estendeu aquela mão grande e fria. Demorou um pouco e depois saiu à cachorro. 
Saímos. 

Dentro do carro Ademir falava com gosto e alegria, contente de coisas pálidas. O rosto dele era redondo, nariz afilado, bojudo e usava óculos. Chegamos. Avistei de longe uma multidão exposta ao sol e já fazia algum tempo. Sim, uma multidão que esperava quinze reais e a vontade de um senador. Eu apenas olhei a movimentação daqueles olhos pequenos, famintos, descaídos e pálidos, segurando bandeiras. Que contraste, meu Deus!

Depois eu desapareci sem que ninguém sentisse a minha falta, até porque os meus olhos se fartaram daquela ignomínia.
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23 de jun. de 2010

João sem São

É tempo de João, de prece e de Gonzaga.

É tempo de bomba, chuvinhas, milho assado.

É tempo de cavalgada, de rostos pintados, de arrasta-pés.

È tempo de fumaça, de olhos ardentes, de poluição.

É tempo de cheirar a fumaça, de beijar na fumaça, de beber na fumaça.

Esse é um dos tempos no tempo.
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10 de jun. de 2010

Desencontro

A menina não saiu no meio da noite.

Ela fugiu com o sonho na boca e não voltou mais.

Encheu a boca de orvalho e foi de cara nua…

A menina que parecia solta, foi levada pelo encanto de sua sombra ao pé de um poste.

A rua, naquela noite, não a quis mais.

Amanhã é outro programa.
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1 de jun. de 2010

Receitas A4

Euforia, paixão, gritos estrídulos moviam-se no calor das passeatas de rua em rua. As bandeiras são verdadeiros estandartes. Os eleitores quando se deparam com pessoas de outro grupo, as recepcionam com vaias e os mais afoitos com gestos obscenos. O líder nada faz, mas demonstra certo sarcasmo.
Passada essa fase de comícios e pede-pede de votos, chega a semana da eleição. Os grupos se reúnem para traçar os pontos estratégicos do comércio eleitoral. Os líderes convocam os cabos eleitorais, discutem o que deve ser feito e começam agir, geralmente na calada da noite feito ladrão. Mas são os últimos três dias da eleição que as coisas acontecem e esquenta. As pernas dos eleitores são substituídas pelo frenesi dos pneus. São uns atrás dos outros para “impedir” a compra e troca de votos.  
No dia as coisas aparentemente são calmas. A polícia, o MP (quando não escolhem um grupo) ficam na espreita tentando muitas vezes impedir a famosa boca-de-urna. Mas o vício é miserável e muitas vezes difícil de perceber, detectar. A criatividade é algo que acontece, pois, usaram nesta última o cachorro quente (retiravam o miolo do pão e punham dinheiro).
O resultado da eleição é divulgado, os vencidos se trancam em casa, as ruas são tomadas de novas passeatas, as músicas das campanhas são escancaradas, provocações são ditas para todos os lados e muita bajulação. Passada a essa euforia do dia cinco, a chateação perdura por alguns dias, novas caras aparecerem nas repartições acompanhadas de assédio moral, as promessas não cumpridas dão lugar as esculhambações; os que tinham esperança de um emprego perdem-na.
As vidas são retomadas.
Mas aquele mesmo eleitor que se cansou nas passeatas, nos transportes precários, que bebeu bebida ruim, que ganhou intrigas; vai à unidade de saúde, consulta-se e o médico em ¼ de papel A4 prescreve a medicação. O eleitor sai, vai à farmácia da unidade e de lá sai desapontado porque falta remédio. Com a receita na mão, sai desesperado a casa do prefeito (a), mas nunca o (a) encontra em casa ou na prefeitura. Mesmo assim, não desiste, caindo no bolso do vereador, antecipando a venda do voto que, na maior parte dos casos, não é vantajosa para quem compra; assim eles alegam.
Essa é uma demonstração de muitas do comércio eleitoral na base política deste país. Base essa construída sobre areia.
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26 de mai. de 2010

Ao meu corpo que foi de pó


Foi a palavra na ponta dos dedos.

Foi a briga do peito, a espada das incertezas...

Foi o esqueleto na ponta dos pés, as mãos tocando as árvores, a fruta que o intervalo chamou.

Foi a serpente de cima de uma árvore, a luz que surgiu, os olhos que se abriram.

Uma coisa nova surgiu, na calma e na alma.O céu parou, o livro se abriu, as portas se fecharam e um novo mundo surgiu.
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14 de mai. de 2010

Dia, depois noite

É dia.

Levadas pelo vento, elas se mesclam ao anil do céu. O sol, por sua vez, esbanja-se pelas ruas, calçadas. Depois vem a noite, sem nuvem alguma; mas carregada de estrelas.

Mas de repente as nuvens mudam de cor, os trovões surgem, os relampagos fazem faltar energia, Mimi foge para debaixo da cama e Zeinha se assusta, dizendo que o coração palpita na boca.
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