30 de out. de 2009

Os homens de bem e a política

A gente cresce ouvindo que “os homens de bem não devem se meter em política”. Que política é coisa de “cabra safado e corrupto”. De tanto ouvirmos essas expressões a gente se esquiva do sistema político e cometemos um grave erro.

A política não foi feita para os cabras safados, nem para os canalhas. A política foi feita para os homens que tem dignidade, responsabilidade. A gente precisa fazer a diferença entre o que é política e o que se pratica atualmente (costumo chamar de politicanagem).

A política constrói, educa, busca o desenvolvimento, a segurança pública, o bom sistema de saúde e outros serviços com probidade, ética, moralidade, impessoalidade e transparência.

A politicanagem estar bem definida na música Ladrão/Formigueiro, de Ivan Lins e Totonho Villeroy e nos últimos versos do poema de Brecht: O analfabeto político. Ela é a celebridade dos jornais televisivos, escritos, on-line e outros meios de comunicação. É tão cínica, tão covarde...

A prática da politicanagm unida à impunidade possui a consciência da maioria dos eleitores, tornando-os passivos. Essa possessão torna o cidadão frágil diante dos seus direitos, principalmente aquele que diz que “todo poder emana do povo”. Cabe aos homens de bem destruir essa miserável possessão, a exemplo da iniciativa do movimento do MCCE que altera a Lei Complementar 64/90; apesar de alguns dizerem que essa ação popular “não vai dar em nada”.

E é isso que o mau político quer que a gente pense. Não podemos ser covardes diante desses canalhas, nem permanecemos na opressão desse vil sistema. Porque aceitar esse fato é abrir espaço para uma sociedade mais violenta, mais egoísta, mais pobre, miserável e coisificada pintada pela mídia. Se a gente não entrar nessa briga, daremos espaço para que bandidos se candidatem; sejam eleitos e reeleitos.

Temos a obrigação de nos metermos na política ou correremos o risco de continuarmos a construir a sociedade da impunidade, de falsários, amoral, criminosa, doentia que surge todos os dias na língua de algum reporte ou em sua escrita.

Mudar é o verbo. Eis o desafio de cada um.
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14 de out. de 2009

O analfabeto político

O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
Nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo da vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha,
Do aluguel, do sapato e do remédio
Dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
É tão burro que se orgulha
E estufa o peito dizendo
Que odeia a política.
Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política
Nasce a prostituta, o menor abandonado,
E o pior de todos os bandidos,
Que é o político vigarista,
Pilantra, corrupto e lacaio
Das empresas nacionais e multinacionais.

Bertold Brecht, alemão, 1898-1956
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9 de out. de 2009

Sobre o cansaço

“(…) os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir”. (Ecl. 1:8).
Essas foram as palavras do sábio Coélet. Sábias, mas físicas, biológicas. Pois, digo:
Quando os olhos se fartam, eles lacrimejam.
Quando os ouvidos se enchem, a alma se angustia.

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7 de out. de 2009

Sobre a inveja

A inveja quando se apodera de um homem abre em sua alma caminho a todos os sentimentos desprezíveis e torpes. (Tahan, Malba. O homem que calculava. Rio de Janeiro: 50ª tiragem – Record, 2000; p. 75).
O olhar voltado para baixo, “catando” dos pés à cabeça. Mente na escuridão, no silêncio do diálogo e das aflições. Inquietação, perda do bom senso. O coração se torna uma pedra, abrindo fechando. Os olhos brilham, trilham… mas é dentro da carne que a alma, já possuída, perde-se entre os músculos, veias, ossos. Depois vem a maquinação, o querer, o eu com a roupagem de Caim.

Porto Literário, ano I – nº 57 de 20 de janeiro de 2003. Versão impressa.
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1 de out. de 2009

Base mal aliada

Toda eleição possui candidatos e uma base que os apóiam. E, na formação dessa base, há o povo arrastado em longos e cansativos comícios. Isso acontece porque o povo não sabe votar.

Não sabe votar porque não sabe a importância e a função social do voto. Não sabe dessa importância e função social porque não tem uma consciência crítica. Não possui uma consciência crítica porque não tem uma educação digna e adequada para as suas necessidades.

Quando o povo aprender a votar terá como princípio básico de sua consciência o conhecimento histórico, digo; vida pregressa dos candidatos e não precisarão acompanhá-los como fantoches de um grande e lucrativo comércio.

Comércio lucrativo porque há a participação direta de agiotas, de comerciantes, de cabos eleitorais com seu apóio “moral” e de uma parcela do Judiciário que se presta a esse tipo de canalhice. Esse apóio possui um valor financeiro no período eleitoral e pós eleitoral quando o seu candidato é eleito.

Enquanto o povo, que lucra com migalhas, sentirá na pele o mandato de um candidato quando precisar dos serviços públicos. Sentirá na pele o descaso da saúde, da educação, do social, da infra-estrutura e outros serviços.

É! O povo precisa “se ligar” neste grande e lucrativo comércio e tomar plena consciência que seu voto por migalhas lhe trará grandes e humilhantes constrangimentos.

Porque com tantos cifrões para se lambuzar, quem disse que eles pensarão que “todo poder emana do povo”; se esse poder não lhes foi confiados, mas comprados.
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16 de set. de 2009

Senado do povo, como povo

Ouço quando os colegas opinam, melhor dizendo, repetem o que há nos recortes de jornais impressos, televisivos e revistas; mas sem nenhuma opinião crítica. E, a opinião que não são deles é que os políticos são um bando de gatunos e canalhas e aquele fuzuê não daria em nada.

Eu apenas os observo e penso: Os homens que ocupam os assentos do Senado foram eleitos pelos estados para representá-los. Vale lembrar que a maioria deles está em Brasília, vai à tribuna, elaboram belos discursos; apesar de não merecê-los. Estão naquela posição privilegiada não por mérito, mas porque comprou currais eleitorais.

Todos os brasileiros sabem que a briga no Senado é uma briga de interesses pessoais e jamais político. Se político fosse, tanto as representações contra Sarney seriam apuradas assim como a de Arthur Virgílio. Por meio de acordos que não são mais estranhos, mas tão íntimo entre eles é que elas (as representações) foram arquivadas. Aquela briga espelha a imaturidade política do eleitor brasileiro, a pandemia da corrupção e a imoralidade.

Penso que antes de repetir recortes dessa vergonha, imoralidade e podridão do Senado; é necessário que cada cidadão eleitor repense os seus valores éticos, morais. De nada vale criticar nas ruas, nas entrevistas, nas praças, em casa, no trabalho se, na hora de votar, a maioria vende e outra compra voto.

Cidadão que vende voto e que compra voto é amoral. Não tem o direito de criticar os políticos. Porque se eu vendo o voto para o corrupto, eu estou sendo corrupto, gatuno, larápio. Se eu transfiro o contrato constitucional elencado no art. 1º, V, § Único da CF que diz: "Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos, ou diretamente, nos termos desta Constituição"; como irei exigir deles a moralidade, a ética, a probidade, a impessoalidade das coisas públicas se esses princípios faltam em mim?

As eleições brasileiras, seja de competência da União, Estados e Municípios; são complexas porque envolve vários elementos: as escolas que não formam cidadãos para a vida política, mas para o mercado consumidor, aqueles que fizeram do voto um negócio milionário e um Judiciário dual, isto é, uma parte corrupta e apta que contribui para que o banditismo político eleja e se reelejam.

O voto, na situação atual histórica, nada mais é que uma simples mercadoria externada nas prateleiras dos celeiros municipais. Por isso o Senado é do povo, come povo.

Publicado no Recanto das Letras. (http://recantodasletras.uol.com.br/autores/ronlim)
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O vendedor de cocadas

Deparei-me com o vendedor de cocadas outro dia desses, quando andava tranquilamente pelas ruas daquela cidadezinha. Ele tinha aproximadamente um metro e setenta e cinco de altura, olhos esbugalhados, vestido à Caruaru, meio bojudo, sorriso largo, calçado com chinelo de dedo. Ele empurrava um carrinho de mão, dizendo: “Oi a cocada!”. Seu vozeirão chamava a atenção de quem por perto passava.

Lembrei-me dele nos arrastões, da enorme bandeira que carregava estampando o número do candidato, dos dias de embriaguez, da euforia e cansaço dos comícios, das piadas, picuinhas tão comuns nas pequenas cidades que para nada servem.

Lembrei-me, também, do dia cinco de outubro do ano passado. Neste dia, quando o resultado de boca de urna saiu, uma turba de pernas, risos, lágrimas, abraços, invadiram a avenida onde se localizava o maior colégio eleitoral daquela cidade. Alguém filmava aquele calor, aquela euforia. O vendedor de cocadas se aproximou do cinegrafista amador e disse: “Minha cidade agora saiu do buraco. Pode filmar. Filme!”. E saiu saltitante.

Diante dessa lembrança, pensei: “Passou a politicanagem. Ficaram os ressentimentos, as mágoas, as brigas. Sei de uma verdade: governo vai, governo vem. Permanecem as pessoas, os eleitores, as intrigas, a corrupção, a irresponsabilidade. E a vida do vendedor de cocadas e de tantos outros permanecem a mesma: sem esperança, saúde, educação, lazer, trabalho e moradia”.

Ele continuou a labutar sob o sol seu pão e eu segui meu rumo, na ruma das incertezas.
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