ÁFRICA
– 1801
Haviam
tribos inimigas por todas as partes. Mas, em uma delas, havia uma festa de
compromisso, uma festa de casamento. Lá estavam, entre árvores frondosas e rios
claros, alegres e contentes; esperando o dia em que Ojú
Urum e Ode Eby casariam. Costumes religiosos, tradições, paz e
felicidade. Oxum é o padrinho, bem acolhido e glorificado.
Pegos
de surpresa por tribos inimigas, a tribo de Ojú Uru é massacrada. O desespero
espantava os pássaros, a morte causava dor. Não imaginavam que homens haviam
atravessado o Oceano para buscar mercadorias de olhos, orelhas, pernas e
mãos. Só paz e alegria reinavam em seus
corações, bulia nas danças, nos rituais folclóricos. Homens súbitos, diferentes
e cheios de escorbuto; invadem, massacram física e piscamente aquelas nobres
pessoas. Carregavam dentro de si o racismo e outras tantas ideias pífias e
medievais. Muito sangue, muita morte e destruição. Ode
Eby é assassinado, esposo da
princesa dos olhos azuis.
BRASIL – 1820
Ojú Uru, princesa, foi reduzida a condição de
escrava. Seus olhos azuis guardavam aquele filme fétido e barbudo. Uma onda de
dúvidas agitavam seu espírito e a lançava para fora em lágrimas. Aprisionada em
condições inumanas, foram levados no tumbeiro para o outro lado. Um país enorme
e lindo, mas não para eles. O choque das culturas os humilhariam ainda mais.
Chegando
ao Brasil, são tratados como animais pretos. Olham seus dentes, dão-lhes o
valor necessário. Não tinham alma. Era assim o modo de ver escravista. Em
seguida, um certo fazendeiro ficou atraído pela princesa. Tinha uma postura
diferente, uma placidez forte nos olhos. Além de uma beleza simples que a punha
numa posição de destaque.
O
fazendeiro a separou. Pagou a quantia e se foi.
NA FAZENDA
Na fazenda o padre já esperava os pagões. Era
preciso batizar conforme a bula afirmativa do papa Inocêncio IV. Por ser o dia
de Santo Anastácio, Ojú Uru ficou conhecida como
Anastácia. Tudo estranho ia entrando em sua vida: a língua, um nome e a cor que
os tornava seres para toda sorte de trabalho forçado que não está nos anais
humanos. Esta é a página da História: negra e sem linhas, manchada de sangue
que não se apaga jamais.
A
maneira dócil de Anastácia e a energia íntima do seu ser levou os negros da
senzala crerem que Olorum (deus dos deuses) enviou um princesa de olhos azuis
para os confortarem.
Os
feitores eram pessoas cruéis, vencidos por uma ideologia paupérrima e
religiosa. Eram sem olhos. Não respeitavam a cor branca na barba dos negros,
seus cabelos. Eram traços físicos expondo uma metamorfose. Para quê? Eles não
entendiam, viam-nos como “animais pretos, sem alma”, segundo o papa Inocêncio
IV.
NA SENZALA
Na
senzala existia o sinal do catolicismo, comprovando a sua participação na
escravidão, impondo uma religião à força, na marra. O objeto era escravizar a
consciência negra que chorava pela África. Porém, é um catolicismo camuflado,
vencido pelos orixás que governava a vida dos negros.
Um
dos feitores, tendo um atrito com um negro, leva-o para o tronco. Grandemente
ferido e com os lábios queimados, é levado para a senzala. Anastácia cura-o,
causando espanto e murmúrio. Sua vida de santa negra surge na vida de todos. O
pavor, a reverência domina-os. Aí teve início o primeiro milagre.
Intenso
era o sofrimento. Muitos morriam comendo areia entre os pés de cafezais, aos
pés dos seus senhores. Tal era o pesar que os conduziam a África em delírios
fortes e agonizantes. Sonham, sonham...
ANASTÁCIA LIBERTA OS ESCRAVOS
Decorridos alguns dias, Anastácia é assediada pelo
seu dono. Como havia falado: Anastácia não só possuía beleza íntima, mas
física, despertando qualquer faísca de fogo sob a carne. Ela recusa e o feri.
Sai correndo e liberta os escravos, ficando na Casa Grande. No outro dia os
libertos são caçados por capitães-do-mato e Anastácia ganha uma mordaça.
Capturada as presas, Anastácia
vive e se comunica por telepatia, fortalecendo-os. Na senzala, os deuses
africanos foram quebrados e os deuses católicos são retirados. Neste intervalo
de tempo ocorre um fenômeno que atemoriza os feitores e ao senhor de engenho.
Depois, Anastácia realiza várias curas. Anastácia é afrontada por um padreco
que procurava no exorcismo a fé medíocre. Ele condena-a, com toda sorte de
praga; considerando-a uma bruxa. Só a morte era digna dela.