3 de jun. de 2011

Bisonho literário


Desde os 18 anos de idade que rabisco alguns versos, aventuro-me na crônica e contos. Venho nesta teima: das linhas dos cardenos, das pontas das canetas para o Word e os dígitos. Essa teima já me rendeu três livros, três antologias, alguns textos publicados na imprensa local e péssimas frustrações.

A primeira delas ocorreu em 2003. Por meio de um jornal, desses que se intitulam literário, denominado Jornal Cultural Mensageiro conheci uma “editora” denominada Opção 2. Ela oferecia serviços de impressão com tiragem mínima de 50 exemplares. Ao ler o anúncio, meu entusiasmo literário emergiu.

Com posse do dinheiro em mãos para pagar a edição do livro, convidei mais escritores do município para participarem da Minicoletânea de Escritores Colegienses. Os textos ficaram sob a minha responsabilidade. Eu os “organizei” e os enviei para essa “editora”. Ora, eu era um noviço no assunto. Não conhecia a dimensão jurídica, muito menos comercial a que estar sujeita a publicação de um livro. Mas meu “editor” com aquela ideia pueril que os textos dos autores são intocáveis não opinou sobre a capa, sobre o miolo, muito menos sobre ISBN, Ficha Catalográfica, Depósito Legal. A única coisa que ele me perguntou por telefone foi se eu havia feito à correção gramatical. Ora, sem experiência alguma ou formação na área, apenas lhe disse que havia dado uma olhada; mas não imaginaria que ele confeccionasse o livro da forma como eu o havia enviado.

No prazo estimado pela “editora”, o livro chegou. Melhor dizendo, um livreto. A princípio fiquei alegre, até porque meus escritos estavam impressos. Mas quem primeiro fez as observações na obra foi o patrocinador. Reclamou da espessura e da má organização dos textos. Quando comecei a folhear cuidadosamente o livro, notei outras falhas: páginas da folha de rosto, da dedicatória, de agradecimentos, de sumário e da apresentação estavam numeradas. Portanto, sem seguir as normas técnicas. Além disso, não havia ISBN. O livreto só existia para mim, os coautores e poucos amigos que ganharam a obra de presente.

Essa foi a minha primeira experiência com livros e resolvi partilhar para aqueles que queiram publicar. Existem muitas prestadoras de serviços por aí se passando por editora, oferecendo serviços de quintal. Mas há muita editora séria no mercado que trabalha com pequenas tiragens. Cabe aos interessados fazer uma pesquisa cuidadosa antes de enviar um original.

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Vendedor de livros


Pião atendia alguns clientes e demonstrava euforia, muitas vezes forçada, tão comum entre os vendedores. Ele me avistou, acenou com a mão e disse:
— Pião, quer alguma coisa?
— Não Pião. Por enquanto não! Tenho algo para mostrar a você.
— O que é? Este livro de minha autoria. Ele será muito útil para os seus filhos, pois, como eles estudam; irão precisar.
— É, Pião, eu não enxergo quase nada sem óculos. Mas como o Pião sempre tá por aqui; vou ajudá-lo. Não custa nada demais ajudar um amigo.
Dito isso, foi à gaveta, tirou R$ 10,00 e pagou o livro. Saí e parti para outro estabelecimento, desta vez uma miniperfumaria. O proprietário, quando me viu, foi dizendo:
— Depois vou lá para acertamos aquele negócio.
— Ora, não se preocupe. Quando você puder, apareça. Mas não vim aqui falar deste assunto. Estou aqui para lhe oferecer este livro de minha autoria, que lhe falei outro dia.
— É, deixe-me ver.
Eu o observava, enquanto ele folheava o livro. Depois, fez um pequeno comentário sobre a obra. Mas ele me surpreendeu com uma indagação súbita e violenta:
— Foi você mesmo que escreveu este livro?
— Sim, fui eu. Por quê?
— Por nada!
Abriu a carteira, tirou R$ 10,00 reais, ficou com o livro e disse:
— Sempre que houver um tempinho, irei ler.
A ele nada disse, apenas o agradeci e me fui com a pergunta dele pendurada nos neurônios.
Dezembro de 2006.
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28 de mai. de 2011

Rascunho 1

Vai dos meus olhos e deles vêm a onda chamada amor
Quebrando-se delicadamente nos meus pés…
Acontece que Posêidon revoltado estar,
Agitando-se e agitando as ondas desse mar
E muitos  rostos púberes não sabem nada-r

Do frágil desamor
Do mártir úmido
De um coração incolor.

No peito está sepultada a bomba
em fibras pulsantes de uma Hiroshima…
Destruiu a luz, roubou a flor
e, por fim, matou a boba
no cogumelo atômico do amor.

Rascunhos, 1999.
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22 de mai. de 2011

A compreensão do conhecimento

 
"A vida sem reflexão não merece ser vivida"
Sócrates

 Estive pensando estes dias nas incertezas que me vêm à cabeça sem que eu espere ou queira. As incertezas da Ciência, do Céu, do inferno e da Política. Pergunto a mim o que faço aqui, neste mundo que perdeu a graça diante das minhas retinas fatigadas pela incompreensão do homem pelo homem.

Os meus pés dormem dentro do tênis ou sapato. Às dores o acompanham, os passos pisam com força as calçadas. O meu peito não precisa de clichês para expressar os infortúnios, as pegadinhas que estão na vida e dela fazem parte. 

Sei que depois do cansaço a gente se depara diante do espelho e vemos o quanto somos ínfimos, atrasados, doentio. Eu gosto do espelho porque ele revela a cada dia que as pessoas se vão, que outras virão. Que por trás deste vai e vem há esqueletos. Todos, um dia, perderemos o sorriso, os dentes, a alegria. Apenas nos restarão as quedas e as farmácias. A gente busca coisas, nomes, soluções para os problemas; mas a vida chega em um ponto e para.

O mundo anda conturbado, arrotando, vomitando todo tipo de violência. Não cabe a gente se curvar ao entretenimento açucarado enquanto o mundo cambaleia por aí, principalmente no campo político. Esse é um período em que Sócrates nos convida a vivermos a compreensão do conhecimento.

Sinta-se convidado a conjugar o verbo viver para que a vida tenha reflexão.
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19 de mai. de 2011

Cãomício

Ele reuniu o povo como numa procissão. Ao invés de imagens, carregavam bandeiras, bandeirolas e adesivos estampados nos peitos. O povo assim estava distribuído: aqueles que recebiam uma “ajuda” semanal, os comissionados, os mensaleiros, os que financiaram a campanha e financiam, os covardes e os que são comprados para acompanhar o grupo político.

Eles acenavam para aqueles que nas portas ficaram, simpatizantes ou não, daquela euforia, daquele calor apimentado de fofoca, intriga, hipocrisia, interesses comerciais e pessoais.

Inesperadamente uma senhora deixou o bordado na cadeira, correu na direção do candidato, querendo apenas pegar em sua mão e lhe desejar toda a sorte do mundo. Acontece que um dos cabos eleitorais atravessou na frente dela, um cãomício embaraçou-a; mas ela insistiu, furou a barreira e o abraçou, dizendo:

— Meu filho, com a graça de Deus e Nossa Senhora; o senhor vai ganhar!

Surpreso, embaraçado, riu; mas o riso veio pálido, estranho. Sua face pedia que alguém a afastasse. Imediatamente um cãomício pegou-a pelo braço e a retirou. Da porta as poucas amigas riam da sua façanha, enquanto outros riam com desdém.

A turba seguiu seu destino. No palanque, eles esbravejavam, mentiam, caluniavam e os projetos ficavam nas intenções do ilícito. Ao pé do palanque os devotos erguiam bandeiras, bandeirolas, aplaudiam, gritavam; mas outros ficavam soltos, procurando alguma coisa para se entreterem.
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