26 de jul. de 2014
11 de jun. de 2014
O primeiro gole
“Por
que, meu Deus, eu tenho que sofrer tanto assim nessa vida? Fui um bom
filho. Sempre cumpri com os afazeres que o meu pai mandava e minha
mãe. Por que hoje passo por tanto aperto? Sou um homem já idoso. O
cansaço tá comigo e não me larga. Não tenho prazer nenhum na
vida. Será que tô pagando pelos meus pecados, sofrendo e gastando o
resto dos meus dias num barquinho; pegando uma bobagem aqui outro
ali, sol, chuva, chuva, sol pra vê se eu arrumo um bocado e uns
trocados? Não tenho nenhuma aposentadura. Se
não fosse a ajuda do Governo e dos meus filhos que faz um bico aqui
outro ali o que seria de mim?
O que ganhei nesta vida? Só doença. Só fiz trabalhar feito um
condenado. Pra quê? Não sei mais olhar pra os meus filhos. Nunca
dei nada a eles, além de sofrimento e apertos. A minha mulher anda
me rejeitando. Só anda com a cara feia. Quando eu vou querer um
negocinho com ela, ela me dá às costas. Será que ela tá me
traindo?”.
Esses
conflitos perturbavam Artur.
Sem olhar para a mulher, pegou o boné e saiu. Para piorar a
situação, encontrou Cícero na rua e aceitou o convite deste para
ir ao Bar do Primeiro Gole. Por lá conheceu outras histórias iguais
ou semelhantes as suas e se acostumou aquele ambiente. Não havia um
dia sequer que não chegasse cheirando a pinga. E, o negocinho que
ele tanto queria, não teve mais como reclamá-lo. Teria que se
contentar com a masturbação.
Vencido,
percebeu que nada era como antes. Cabisbaixo, pôs os pés fora do
batente, reviu amigos, foi ao bar e gastou todo o dinheiro do aluguel
que furtou. Passou a manhã e a tarde nesta vida. Ao por do sol,
resolveu se banhar no rio São Francisco.
Ao
mergulhar, ouvia uma voz serena e suave chamar por seu nome. Sem
perceber a correnteza, ele foi à procura dela e afogou-se numa
panela d’água. O corpo nunca foi encontrado.
24 de mai. de 2014
Foi só um olhar
Tudo se iniciou no Bar da Galega. Cátia e Frederico
escutavam sertanejo por lá. Riam, beijavam-se e bebiam. Sandro entrou, observou
as pessoas, cumprimentou alguns conhecidos e olhou de soslaio para ela.
Frederico não gostou do modo como eles se olharam. Amarrou a cara na mesa e
bebia com ímpeto.
Passados alguns minutos, ele chamou Cátia de safada,
vagabunda e deu um tapa na face dela. Sandro, sem saber os motivos, foi
desapartar a briga. Raivoso, Frederico o empurrou, acusando-o de flertar com a
mulher dele. Sandro perguntou se ele estava louco, discutiram e os fregueses do
bar desapartaram eles. Nisso, Cátia saiu em lágrimas. Inconformado, Frederico
foi atrás dela, dizendo:
— Prá onde você vai, sua cachorra. Quando chegar em
casa, você me paga. Vagabunda. Só vive dando ousadia a todo mundo que ver pela
frente. De hoje não passa. Você me paga.
Ele conseguiu alcançá-la. Pegou-a pelos cabelos, deu-lhe
umas bofetadas e saiu rua a cima. Tinha gente que fingia não ver, outras se
revoltavam; mas não faziam nada.
Ao chegarem em casa, ele não a poupou. Deu-lhe socos e
pontapés, deixando-a indefesa no chão. Possuído pela cólera, foi a cozinha,
pegou o facão e desferiu vários golpes sobre ela, dizendo:
— Já faz um tempo que eu vinha olhando para seus pés.
Quer me fazer de besta? Você agora vai me trair no inferno, sua vadia.
Morta a vítima, precisava esconder o cadáver. Foi ao
quintal, fez uma cova rasa e jogou o corpo nela. Feito isso, tomou banho, mudou
de roupa, pegou dinheiro que costumava guardar para esse fim e pensou: “Não vou
ser pego por assassinar aquela cachorra”. Quando pôs os pés fora do batente,
deu-se de cara com a polícia de arma em punho pedindo para ele não reagir.
17 de mai. de 2014
Última dor da existência
Ela estava
sentada no batente da porta. Face voltada para a calçada e entre os dedos o
cigarro.
O cigarro,
quando posto entre os lábios, estremecia. Nela havia solidão e o seu mundo
estava desarranjado. A mente muitas coisas fazia, participava no cubículo do
seu ser.
Passavam-se as
horas.
Passavam
pessoas. Só não passava aquela angústia, aquela dor, a última que alguém pode
sentir nesta vida.
Só o cricrilar
fazia-se presente no fechar e abrir dos dias.
21 de abr. de 2014
A minha gata
Kika |
A
minha gata vive atrás de mim, toda dengosa. Mas o dengo dela tem explicação: é a fome. A minha outra gata afirma que não é nada disso, mas amor.
Acontece que a minha gata faminta quando está com o bucho cheio, me trai. Imagine: ser traído por um bucho cheio! E essa traição arranca risos da outra gata.
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