1 de jul. de 2013

Casal a quatro


— Já leu a Bíblia?

— Desde quando você se interessa pela Bíblia, aliás, por qualquer livro? Eu nunca o vi lendo livro algum ou comprando. Que interesse súbito é esse por leitura?

— Todas as pessoas tem o direito de mudar. Já ouviu falar em Augusto Cury?

— Já! O que tem ele?

— Estava conversando com Mateus e ele citou esta frase: “Só não muda de ideia quem não tem ideia”. Pensei nela e resolvi mudar muitas coisas da minha vida. Entendi que a gente precisa excluir ideias e colocar outras no lugar. O que não pode é tá o tempo todo com os mesmos pensamentos, opiniões. Por isso, resolvi ler a Bíblia.

— Deu para filosofar, foi home?

— Não! Apenas estou repensando o que sou, vigiando o que há dentro de mim, as coisas que me vem de fora e buscar o equilíbrio para mim e os que convivem comigo.

— Interessante seu ponto de vista, mas não se detenha muito nessas coisas, pois, não quero perdê-lo para Sofia. (Risos).

— Você não me perderá para ela. Seremos um casal a quatro. Afinal de contas, Sofia entrou em minha vida de forma sutil e bela.

— Eu não me importo desde que eu seja a primeira em tudo.

— Não posso garantir a primogenitura, pois, ela sempre porá uma questão que irá consumir meu tempo.
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12 de jun. de 2013

Malinações do vento

Ele vem tonto e com cara de bento.
Lá, em sua morada, o mundo não pára nem brinca.
Enfadado do cata-vento, saiu das hélices e foi parar nos galhos, nas ruas e nas saias.
De saia em saia, o malino menino sem aljava ou seta aprontava com as garotas.

Esse moleque aprontou com A menina de nariz arrebitado que logo surgiu com o bucho esticado.
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1 de jun. de 2013

1º Capítulo do livro Laura


I
Laura estava sentada numa cadeira de balanço. Nela, observava os caibros serrados, as telhas avermelhadas e as ripas alinhadas. A sua volta havia um sofá, uma estante e a TV que Fernando costumava assistir desenhos em sua companhia.
Levantou-se, guiou o corpo cansado pelo corredor, foi à cozinha, tomou um copo d’água e saiu pela porta do fundo, aspirou o ar e sentiu alegria em seu coração enrugado. Dirigiu-se as plantas e riu com as acrobacias que as borboletas faziam sobre elas. Aproximou-se de um hibisco e, nas pétalas de uma das flores, formigas sedentas formavam ao redor de uma gota d’água o sol, desses que as crianças costumam desenhar. E num talo da roseira uma joaninha passeava, fazendo-a lembrar dos vestidos de chitas quando ela era moça. 
Retornou para casa e se deteve alguns instantes na porta sem querer deixar aquele mundo de carne verde. Entrou, pegou um jarrinho de porcelana, encheu de água e colocou nele a flor que trouxera e o dispôs no centro da mesa. Em seguida, foi na direção do seu quarto.
Diante do espelho penteava os cabelos enrugados e pensava: “Por que a cor branca é sinônimo da velhice, do cansaço, do reumatismo e da broquice; se o branco das nuvens brilha com a luz do sol e elas se renovam quando o céu tá estiado?”. E ficou por ali com aquelas reflexões.
 Em seguida, pegou pó para passar no rosto, mas desistiu. Passou um batom suave nos lábios e sentiu-se melhor. Levantou-se, pegou a bolsa, caminhou pelo corredor e abriu a porta da frente.
— Tia, a senhora vai prá onde?
— Eu vou dar uma voltinha. Quer ir comigo?
— Não posso. Tenho que terminar o exercício da escola.
— Então vá pra você não levar umas broncas de seu pai.
Do Portão espiava um carro que soltava fumaça rua a fora, um moleque que passou piruetando pelas calçadas de patins, um homem que caminhava com a face enfiada no jornal. 
 Na rua, o sol era forte. Ela começou a sentir uma fadiga no peito e resolveu parar debaixo de uma árvore e descansar. Em seguida, entrou numa sorveteria, comprou alguns doces e saiu. Ia atravessando a rua e um carro freou nos seus pés, deixando-a em estado de Choque e, por causa dele, tomou muita garapa.
Depois de recuperada, sentou-se num banco que ficava em uma praça cheia de crianças que brincavam soltas como o vento, alegrando as vendas do pipoqueiro. Sentada numa posição singela, Laura correspondia aos acenos dos conhecidos que por ali passavam. Resolveu voltar para casa. Com o pacotinho de doces na mão, atravessou a rua com cuidado e se foi.
Em casa, deixou o pacote de doces no quarto de Fernando. Em seguida foi à cozinha, lavou as mãos na pia e sentou-se a mesa. Espiou a flor, tocou nela e se alegrou. Apesar do choque, ainda estava viva para poder regar suas plantas todas as manhãs e tardes. Aquele estado doce de alegria lhe fez esquecer aquele incidente que quase levara sua vida.
— Tia, eu já tava preocupada com a senhora! Já ia telefonar pro Paulo.
— Minha filha, eu só fui dar uma voltinha bem aqui perto. Se eu ficar dentro de casa, vou me sentir como uma coisa; sem nenhuma serventia.
— Eu sei. Mas a senhora saiu que eu nem vi!
— É verdade! Você tava no banho.
— A senhora promete que da próxima vez avisa, né?!
— Não se preocupe minha filha. Eu aviso.
Pretinho se aproximou, roçou seu corpo nas pernas de Laura. Ela o pegou nos braços e sentou-se na preguiçosa. No colo, a egípcia, Pretinho ficava com os olhos semicerrados por causa do cafuné que ela lhe fazia.
LIMA, Ronaldo Pereira de. Laura.  Editora Diário Oficial, Aracaju, 2011. 

 



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23 de mai. de 2013

Direitos do autor

Conhecer os direitos autorais é necessário. Não se o escritor seja jovem ou não, se pretende participar de concursos literários ou submeter seu original a uma editora. É bom está atento, pois, caso precise assinar algum tipo de contrato saiba o que está fazendo. Por isso, nada melhor que conhecer a definição desse Direito. Para Manso, direito autoral:

“(...) é o conjunto de prerrogativas de ordem patrimonial e de ordem não patrimonial atribuídas ao autor de obra intelectual que de, alguma maneira, satisfaça algum interesse cultural de natureza artística, científica, didática, religiosa, ou de mero entretenimento; que tais prerrogativas lhe são conferidas de leis especiais que as proclamaram; que tais prerrogativas consistem, em suma, num poder de utilização do seu produto intelectual, cabendo-lhe decidir se ele deve ou pode ser levado ao conhecimento do público em geral, ou de um público particular; de que maneira essa publicação será feita, para que fim pode dar-se sua publicação, e se a utilização autorizada deve ou não ser remunerada (...)”.

Esse direito constituem-se de um moral (ordem não patrimonial: criação) e um patrimonial (ordem patrimonial: pecuniário). O direito moral pertence exclusivamente ao autor, bem como patrimonial. No entanto, o autor pode ceder definitiva e temporariamente direitos sobre sua obra; desde que nelas apareceram seu nome como autor original vinculado à obra porque o Direito Moral é um bem inalienável e são irrenunciáveis.

Já o Direito Patrimonial em regra, tem como objeto um bem que esteja à disposição para ser comercializado, alienado e apropriado. Tratando-se de direitos autorais nascem quando o autor divulga ao público sua obra. Diferentemente do Moral que é inalienável, o bem patrimonial do autor é transferível em vida e em morte. Cessão dos direitos de uma obra pela modalidade intervivos
.
Os direitos autorais brasileiros estão elencados no art. 5º, XXVII, da Constituição Federal e na Leinº 9.610 de 1998. E não se dirige especificamente aos escritores, mas aos criadores de obras intelectuais de modo geral. Eles compreendem os direitos de autor e os que lhe são conexos.

É necessário que o jovem autor conheça com clareza esses conceito para que, ao participar de concursos literários, não caiam na tentação de plágio ou cause constrangimento jurídico relacionado à cessão de direitos a obra.

Por isso, os certames literários em seus regulamentos ou editais priorizam obras originais, inéditas. Isto implica dizer que essas obras não podem, nem devem ser plagiadas. Antes de se inscrever em qualquer concurso, leia cautelosamente. Se tiver dúvidas quanto a conceitos jurídicos, consulte um advogado.

Fonte:

MANSO, Eduardo J. Vieira. O que é direito autoral. São Paulo, Brasiliense, 1987.
Ministério da Cultura. Tire suas dúvidas sobre Direitos Autorais em nossa lista de perguntas mais frequentes.cultura. gov.br/site/2010/…/tira-duvidas/. Acesso em 10/10.
http://www.abdr.org.br/faq.html <acesso em 07 junho 2007>
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7 de mai. de 2013

Mundo Circular

Carlito os viu passar. Deixou o balcão, as garrafas falantes nas mesas e acenou com a mão para eles. Queria ser o primeiro a ter certeza dos boatos circulares das praças e bares. Ao se aproximar dos conhecidos, perguntou-lhes:


— Seu Artur, é verdade que ontem à noite, quando vocês pescavam, um casal de Nego d'água atacou vocês dois? Tá uma confusão danada nas ruas. O povo tá com tanto medo que nem banho que tomar no [1]Rio.

— Olhe seu Carlito, não sei disso não. O povo conversa muito. A gente não foi atacado por nenhuma criatura das águas. O que aconteceu foi isso: a gente saiu da croa para pescar. De repente, um toró caiu sobre a gente, acompanhado de uma ventania danada. Como o barquinho tava precisando de reforma, não aguentou com os sopapos do vento. Ele se partiu ao meio e a gente quase morreu. Só foi isso. Não teve Nego d'água nenhum.

Quando Carlito resolveu lhe fazer outra pergunta, o celular de Artur o interrompeu. Ao atender o telefone, ele ouvia o desespero da esposa. O pai dela morrera em seus braços. Despediu-se de Carlito e com pressa saiu acompanhado de Carlos.

Nisso, Carlito retornou ao bar. Nele, relatou para as mesas o que acabara de acontecer. Elas ficaram compungidas e o mundo circular continuou tico a tico nas ruas, nas praçs da pequena[2]Colégio.




[1]Refere-se ao Rio São Francisco
[2]Refere-se a cidade de Porto Real do Colégio - Alagoas
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