1 de mai. de 2011

II - A compreensão

 
Abraço a compreensão e a quero sem receios. Sei que ela abre a mente e o peito. É uma espada que me faz lutar com mais precisão. Me fortalece, reveste o meu âmago de coisas novas e boas. Me apaixonei por ela desde o dia que os meus olhos  estavam avermelhados de dor. Foi ela quem os abriu. Desde quando bocejava, molhava os cílios, que ela veio gentil e pôs a mão sobre mim. A compreensão me quer até que eu me ache.
Não se deve está preso ao dicionário aquele que busca clareza ou explicação para a compreensão. A sua significação é vasta como é a vida. Não é em algumas páginas ou palavras que ela se restringe, limitando-se a conceitos vagos.
À busca incessante dela causa dor e angústia porque as primeiras dificuldades aparecem em nós. É preciso vencê-las através do equilíbrio e quando nós estivermos vencidos a nós mesmos, teremos que vencer aqueles que estão lá fora, muitas vezes insensíveis e cruéis até com eles próprios.
A falta dela é motivo para a fuga, muitas vezes de forma dramática. Compreender não é simplesmente ouvir, olhar o problema alheio com dó ou piedade religiosa, mas penetrar na dimensão humana, sentir os conflitos e tomá-los como seus.
A sua falta tem causado grandes males. A relação funcional é um deles. Por causa dessa relação as pessoas se cansam fáceis umas das outras. Com gestos simples não conseguem ocultar os dissabores, as angústias. O mundo evoluiu, a ciência se multiplicou e a cada dia o homem se coisifica. Os seres humanos se toleram e a falta de compreensão “espalha-se no ar”. Olhos de ressaca, mentes alienadas, esperança sem vôo. O egoísmo prevalece, o individualismo impera.
Os seres são levados por “ondas” do consumo, da soberba. Desprezam-se e as conveniências aparecem sem receios, cinicamente. Os homens correm feitos loucos na vida selvagem que o Capitalismo lhes impõe todos os dias e na sua mesa lhe falta afago, compreensão, diálogo. Os homens andam meio perdidos porque ninguém quer levar o fardo um do outro, por isso, vivem se cansando uns dos outros.
Tem-se pregado o amor. Tem-se pregado a solidariedade. Tem-se pregado homem e ciência, máquinas e tecnologia. Mas não se tem pregado a compreensão. Todas estas coisas para nada servem, a não ser atiçar, atirar os homens nas paixões, afogá-los nas armas, droga, consumismo, guerras, busca desenfreada pelo poder.
É preciso. É urgente que se pregue a compreensão para resgatar o homem, tirá-lo do estado de máquina e dinheiro. É preciso pensar em um mundo melhor.
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23 de abr. de 2011

O amor morreu?


Amor surge a cada dia e ele não me comove. O amor de ontem, sem vento, sem dia. Apenas pequeno e sem Grécia não me move. O amor que um dia sonhou por mim, hoje me é estranho e sem nome. O amor que eu não quero entre as minhas pernas, nem nos meus lábios. O amor precisa reviver, pois, está semimorto no meio do caminho.
Estive estes dias consultando o Silveira Bueno. No meio de tantas, me deparei diante de uma que se tornou desbotada pelo uso midiático– o amor -. Estava lá, negrito, frio, sem flecha, aljava, Grécia, sem que alguém o despertasse. Parei um pouco nele, nestas paradas de Sofia, abri a página e o olhava como se o mesmo estivesse vivo, me comunicando alguma coisa. Tive a impressão que ele queria saltar da página e, por coincidência, escreveram-no de vermelho no Mini Aurélio. Comparei as cores e percebi a dualidade do espírito: vida ou morte.
[1]Entendi que ele quer vida nova, ideia nova. Ele, o amor, quer sair das telenovelas, dos comerciais. Está cansado daquelas cenas sem paladar. Daquelas cenas que só estimulam a carne. Não precisamos desta escravidão, desta falsa consciência. Precisamos fazer todas as coisas de forma natural, vindo espontaneamente da natureza.
As pessoas buscam um modelo para o amor, uma forma, fôrma de amor, imposta por uma determinada classe, deslocando as pessoas de sua realidade. É a indústria do sexo, do amor. Ao invés de amor como sexo, fantasia de sexo é preferível fazer sexo com compreensão num todo, percebendo as coisas, vivendo-as sem hipocrisia, medo, receios.
O que há é o hábito de amor, estimulado pelos interesses pessoais e financeiros, imitativo, vaidosos, midiático; baseado no estímulo do sexo como objeto de consumo, nada mais. Por causa desse cultismo ao sexo sarado, o namoro e o casamento se desmancham facilmente.
A compreensão é a forma verdadeira do amor, livre, sem pressão; onde as pessoas se partilham, onde vê no outro a sua metade, sem vícios; solidificados nos bons sentimentos, como sinceridade, afago, carinho, etc... As pessoas deveriam abraçar a compreensão, abandonando a indústria do amor.
O amor é um sentimento que tem vencido o tempo. É vivido de modo diferente em cada época e por diferentes culturas. Ele, também, aparece em outras formas de sociedade. O grilo, por exemplo, possui três canções para o Amor. A primeira é para informar que está “namorando” a grila; a segunda é para dizer ao colega que ele tá “na área” e a terceira para copular.
Portanto, somente o amor como forma de compreender o outro e o mundo que os envolvem é capaz de se livrar daquela falsa consciência.




[1] Estar biologicamente comprovado que o sexo é uma necessidade prazerosa, que faz bem a saúde física e mental.

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15 de abr. de 2011

Lamentações sem Jeremias


Reclamam deles. Apontam com os dedos das mãos seus defeitos e falhas, mas aceitam o comércio eleitoral como elemento “cultural” da sociedade brasileira.
Reclamam das Leis, da violência, do Judiciário (instituição dual), do setor público, mas elegem larápios e gatunos.
Reclamam em casa, nos assentos, nas escolas, nas repartições e onde houver aglomerado humano.
E estas miseráveis picuinhas se repetem todos os dias, a cada ano, a cada pleito e nada se conserta (Só a decisão do STF que tornou a ficha embranquecida).
E continua essa incrível contradição das reclamações e do escambo eleitoral.

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12 de abr. de 2011

Retrato

Vi a minha face dentro do espelho.


Mas quando virei o rosto


Eu a perdi no esquecimento.


Passo por uma rua inclinada e a vejo numa soleira.


Dei-lhe um riso contido, mas ela não percebeu.


Sigo adiante e percebo meus pés pisarem fundo.


A minha face não sabe a hora de parar, nem deseja o asilo.


Ela só quer se rever no espelho



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3 de abr. de 2011

A espectadora


            Carregava no corpo o cansaço que se acumulou durante seus setenta e cinco anos. Anos estes nada fáceis: sofreu passivamente com os insultos das raparigas, dos bafos incontáveis de cachaça e com os partos complicados.

O corpo, acomodado, não recepcionava as novas tecnologias como muitos da sua idade. Feito uma gata, esparramava-se no sofá, cochilava; depois vai para a cama, fica por lá algum tempo e senta-se numa confortável cadeira. De lá ocupavam os dedos com as bolinhas do terço, mas os olhos estavam voltados para os movimentos da rua.
A reza acabou. Os olhos deixaram à rua e os filhos apareceram em sua mente; um por um. Eles eram a sua mais séria preocupação.  Intrigas, fofocas, ciúmes, calúnias. Mesmo assim conviviam indiferentes e hipócritas. Esses fatos a entristeciam a ponto de suplicar no silêncio a morte. Uma lágrima envelhecida umedecia os sulcos da face.
Ela pensava: Eu os pari. Cuidei deles com amor, carinho. Fiz de tudo para eles estudarem, arranjar emprego. Quando o pai era vivo, todos vinham para as festas que ele fazia. Hoje, sumiram. Às vezes é que aparecem. E quando aparecem é para mim fazer raiva. Eu deveria na minha velhice ter era paz, sossego e não tanto sofrimento.
Esses eram os pensamentos que lhe causavam angústia, pois, via-os tomar cada um o rumo de sua natureza. Lamentava o seu estado deplorável. Faltava-lhe vigor para interferir como dantes, deixando o simples lugar de espectadora e interferindo em suas vidas, seus destinos. Hoje, ela não passava de uma simples espectadora das preocupações que seus filhos lhe causavam.
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