Esquentou, durante toda a manhã, a cabeça por causa da miserável burocracia pública; aborrecendo-se principalmente com as infelizes informações desencontradas que o punha em um estado de nervos paranóico.
Após toda essa coisa medíocre, seguiu para uma agência bancária. Nela, esperou na fila com o estômago doendo, a alma e os pés. Somente uma daquelas figuras envelhecida, ouvindo em um celular e cantando aquelas músicas de camelôs piratas o fez rir.
Ao chegar sua vez de ser atendido, a bancária nem olhou em sua face. Pediu-lhe o boleto, pôs na máquina para fazer a leitura do código de barras, disse-lhe o valor (que ele já sabia) e o esperou pagar. Com o dinheiro em mãos, calou-se, deu a ele o comprovante de pagamento e chamou o próximo cliente. Sem sair da fila, disse:
— Moça, o troco!
— Só são R$ 0,20.
— Moça, meu troco. Já paguei impostos demais nessa repartição e nem água tem para beber. Quero o meu troco!
— Mas eu não tenho aqui!
— Mas eu quero o meu troco!
A bancária, que se chamava Léia, amarrou a cara, voltou-se para a sua colega e a pediu emprestado os centavos. Algumas pessoas olharam para eles, outras sussurraram.
Ele, no entanto, saiu com esta reflexão: “Ela queria se apropriar do meu dinheiro como se tivesse pago a minha conta. Acha que o setor público nos prestam simples favores, fazendo de desentendida. Eu poderia até deixar o troco, mas ela se apropriou da minha vontade de decidir, sem ao menos perguntar se eu poderia deixar ou não os centavos.”