17 de dez. de 2010

Ladinos

Há pessoas que a sociedade ver como cultas, respeitadas, honestas com as suas coisas, mas quando se trata das coisas públicas elas são desonestas, ladinas, larápias, gatunas. Por isso, ficam no cio, preferem a mancebia da canalhice e da corrupção.

E quando elas estão conectadas no mundo político, violentam direitos sociais e individuais sem nenhum pudor para que seus desejos sejam saciados, nem que para isso velhas amizades sejam esquecidas e deixadas para trás; tornando-se verdadeiros sepulcros caiados, expressados com o velho tapinha nas costas.

Quando contrariadas, costumam observar seu opositor de soslaio. De uma forma ou outra procuram macular a imagem daquela ovelha que se tornou negra, pelo simples fato de não mais compactuar de ideias vis e gatunas. Agarram-se a prepotência, impondo-a no andar e dizer quando se depara com aquele que se tornou seu desafeto. Só que essas infelizes esquecem que são empregadas eletivas. Para elas todos tem que fazer parte das coisas da “família”, pois, argumentam que “todo homem tem seu preço”.

Porque vivem, convivem com as maracutaias feito amuletos supõe que todas as pessoas do seu ciclo de amizade deve aceitá-las naturalmente. Aqueles que se recusam e se opõe, torna-se inimigo a ser perseguido e combatido. Para elas o termo corrupção faz parte do cardápio dos brasileiros.

Mas no silêncio e no miolo do pote, as práticas delas corroem a alma de remorso e solidão quando sabem que as necessidades básicas do povo não são atendidas por causa da barganha, das falcatruas, das notas negociadas, da patifaria. Amordaçados pela facilidade que a coisa pública propicia, degustam o mel da impiedade.

Infelizes sejam aqueles que se regozijam com essas práticas.
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25 de nov. de 2010

Mendigo na feira



Estávamos em um bar rindo e olhando as garotas passarem. Um mendigo passou, mas ele resolveu dar meia-volta e parou diante de nós. Meio capenga, movia-se ao som da música nos fazendo rir. Ele pediu uma dose de cachaça e ficou porali.

O dono do bar amarrou logo a cara em alguma parte do bar onde era impossível de ser visto.  Ele se aproximou, pegou-lhe pelo braço e o pôs para fora feito cão sarnento.

No outro lado da rua as bolsas iam e viam. O pirata, com seu som estridente, tocava uma brega. Movido pela música, o mendigo dançava com uma parceira invisível, fora de ritmo; expondo um riso cariado. Algumas pessoas riram, outras o desprezavam, enxotando-o. 

Depois das risadas e do desdém, a esmola veio de costume: magra, áspera, fria, vazia; tornada apenas um hábito por causa das ideias cristãs. E ele seguia seu caminho abraçado com Dionísio, escárnio e ruindade.


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15 de nov. de 2010

Sobre a esperança

A esperança pousou sobre mim. Espiei prá cara dela e ela prá minha. Presa no útero estava, sufocada. Depois voou e pariu momentos de alegria.
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8 de nov. de 2010

Malditas picuinhas

Ele estava na praça, concertando uma estante de armazenamento; dessas que se usa nas pequenas lojas para entulhar roupas e livros de forma imprópria. Aproximei-me, cumprimentei-o e pausei por alguns instantes; o necessário para ouvir dele que um suposto amigo havia delatado-o a um político sem mandato, mas com chances de se eleger na próxima eleição.

Mesmo com aquela mágoa no peito, falou-me que aquele político o tratara como antes, sem cara amuada; que passou por ele e acenou com a mão, demonstrando na sua falácia satisfação, pois, os gestos do político lhe conferiam algum prestígio, assim pensava ele com um riso sarcástico. Ao retomar a sua mágoa, tratou com desdém o suposto delator, esbravejando adjetivos vulgares a mãe deste, pleno de certeza que ainda tinha “moral” com aquele candidato.
 
Eu não o fitava por muito tempo porque ele insistia naquele conflito, na condição de vítima, na existência de um suposto delator, pois, desconfiava de quem por ele passava e não lhe saudava. Percebi nas palavras dele um pretérito de barganha que o punha em uma situação de risco, pois, mesmo com o rabo preso ao passado, estava pronto para deixar a velha militância porque naquele pretérito alguma coisa ficou mal resolvida. Naqueles instantes que estava com ele, meus tímpanos não estavam para aquelas infelizes picuinhas, nem aberto o meu coração. A única coisa que os meus tímpanos queriam era o silêncio das coisas.
 
Eu o ouvia, balbuciava algumas palavras, esperei-o se esvaziar. Quando notei que a sua ansiedade, sua língua se movia pouco; estendi-lhe a mão e me fui com uma certeza: era mais um daqueles que só se sente gente quando participar de um mandato, nem que seja mijando ao pé do poste.
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7 de nov. de 2010

Deus não é religioso

Muita gente vive com Deus na ponta da língua. Isso não é uma novidade. Apenas uma rotina. Mas vez outra me deparo com essas pessoas e as diferentes formas de elas “entender” a palavra de Deus. E, nesses montículos insipientes de pessoas, noto que Deus está na língua e não no coração.

Deus não pode ser confundido com religião. Não se pode externar as doutrinas dessa ou daquela religião e impô-las como únicas e verdadeiras. Todo conhecimento, seja científico ou não, deve ser questionado. O que mais me aborrece são aquelas discussões religiosas bestializadas que para nada servem; e servem: para o aborrecimento e a indiferença.
 
O que percebo é que Deus tornou-se um hábito na língua e uma prática religiosa. Por isso, me defino um homem sem religião. Um homem sem religião não é um homem sem Deus, como pensam os alienados; porque Deus não é religião. Um homem sem religião não é um homem à toa, como pensam aqueles que são contrariados; porque a Bíblia é o único guia a ser seguido.
 
Portanto, não se fiem em doutrinas, costumes, rituais, tradições e outras tolices religiosas, [i]por que disse o apóstolo da incircuncisão: “E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria”.
Taí o recado do apóstolo para aqueles que preferem religião ao amor.

[i] BÍBLIA SAGRADA. Epístola de Paulo aos Coríntios, capítluo 13:3.
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