10 de dez. de 2009

Arruda, as cuecas e as meias

Os cientistas políticos tentam explicar o fenômeno da corrupção. Muitos culpam o sistema. O presidente da república defende a reforma eleitoral, dando ênfase ao financiamento de campanhas eleitorais com o dinheiro público. Sugestão que não resolve. A mídia, para ganhar mais dinheiro, faz sensacionalismo das cuecas e das meias.

No Congresso as opiniões se dividem. Instituições pedem o impeachment. A assembleia legislativa do Distrito Federal “estuda o caso”. A polícia, para manter a “ordem”, espanca e retira com violência os manifestantes. Imaturidade militar. A Polícia Federal confirma a veracidade dos vídeos. Meus colegas comentam com espanto: “Viu o jornal ontem? Que cabra mais ladrão! O patrimônio dele aumentou e muito. E a mulher? Você viu a mansão que ela ficou com a separação?”. E se prendiam a outros retalhos. Eu, no entanto, não fui pego de surpresa. Explico: Por que insiste Arruda em se manter no poder? Porque comprou o mandato. Por isso quer mantê-lo. Por isso entrou com mandato de segurança no STF. Enquanto o voto for mercantilizado, as palavras mensalão, propina, impunidade, pizza, cueca, meia; serão incluídas no cardápio de cada brasileiro quer queira ou não. E pode, a qualquer segundo, minuto, hora, surgir um novo arruda.
 
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30 de out. de 2009

Os homens de bem e a política

A gente cresce ouvindo que “os homens de bem não devem se meter em política”. Que política é coisa de “cabra safado e corrupto”. De tanto ouvirmos essas expressões a gente se esquiva do sistema político e cometemos um grave erro.

A política não foi feita para os cabras safados, nem para os canalhas. A política foi feita para os homens que tem dignidade, responsabilidade. A gente precisa fazer a diferença entre o que é política e o que se pratica atualmente (costumo chamar de politicanagem).

A política constrói, educa, busca o desenvolvimento, a segurança pública, o bom sistema de saúde e outros serviços com probidade, ética, moralidade, impessoalidade e transparência.

A politicanagem estar bem definida na música Ladrão/Formigueiro, de Ivan Lins e Totonho Villeroy e nos últimos versos do poema de Brecht: O analfabeto político. Ela é a celebridade dos jornais televisivos, escritos, on-line e outros meios de comunicação. É tão cínica, tão covarde...

A prática da politicanagm unida à impunidade possui a consciência da maioria dos eleitores, tornando-os passivos. Essa possessão torna o cidadão frágil diante dos seus direitos, principalmente aquele que diz que “todo poder emana do povo”. Cabe aos homens de bem destruir essa miserável possessão, a exemplo da iniciativa do movimento do MCCE que altera a Lei Complementar 64/90; apesar de alguns dizerem que essa ação popular “não vai dar em nada”.

E é isso que o mau político quer que a gente pense. Não podemos ser covardes diante desses canalhas, nem permanecemos na opressão desse vil sistema. Porque aceitar esse fato é abrir espaço para uma sociedade mais violenta, mais egoísta, mais pobre, miserável e coisificada pintada pela mídia. Se a gente não entrar nessa briga, daremos espaço para que bandidos se candidatem; sejam eleitos e reeleitos.

Temos a obrigação de nos metermos na política ou correremos o risco de continuarmos a construir a sociedade da impunidade, de falsários, amoral, criminosa, doentia que surge todos os dias na língua de algum reporte ou em sua escrita.

Mudar é o verbo. Eis o desafio de cada um.
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14 de out. de 2009

O analfabeto político

O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
Nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo da vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha,
Do aluguel, do sapato e do remédio
Dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
É tão burro que se orgulha
E estufa o peito dizendo
Que odeia a política.
Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política
Nasce a prostituta, o menor abandonado,
E o pior de todos os bandidos,
Que é o político vigarista,
Pilantra, corrupto e lacaio
Das empresas nacionais e multinacionais.

Bertold Brecht, alemão, 1898-1956
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9 de out. de 2009

Sobre o cansaço

“(…) os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir”. (Ecl. 1:8).
Essas foram as palavras do sábio Coélet. Sábias, mas físicas, biológicas. Pois, digo:
Quando os olhos se fartam, eles lacrimejam.
Quando os ouvidos se enchem, a alma se angustia.

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7 de out. de 2009

Sobre a inveja

A inveja quando se apodera de um homem abre em sua alma caminho a todos os sentimentos desprezíveis e torpes. (Tahan, Malba. O homem que calculava. Rio de Janeiro: 50ª tiragem – Record, 2000; p. 75).
O olhar voltado para baixo, “catando” dos pés à cabeça. Mente na escuridão, no silêncio do diálogo e das aflições. Inquietação, perda do bom senso. O coração se torna uma pedra, abrindo fechando. Os olhos brilham, trilham… mas é dentro da carne que a alma, já possuída, perde-se entre os músculos, veias, ossos. Depois vem a maquinação, o querer, o eu com a roupagem de Caim.

Porto Literário, ano I – nº 57 de 20 de janeiro de 2003. Versão impressa.
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