8 de ago. de 2008

Abrir e fechar o dia


Hoje fui acometido por uma insônia miserável. Volvia-se sobre o colchão e os meus olhos viam pontinhos luminosos na escuridão. Os grilos se foram, os pardais pipilavam e abriam o dia. Um montão deles era um coral. Eu não fiquei para trás, abri também o dia com as orelhas e da minha cama vi um dia diferente com nuvens espessas e paradas.

Os primeiros raios de ressaca surgindo com uma preguiça própria do céu. Olhos começaram a se abrir, mãos começaram a lavar os rostos. Os primeiros movimentos saem na rua, algumas portas se acordam e para a rua. Os pardais se espalham em vôos diferentes e buscam na variedade do cardápio o dia. Saem assim como o homem para a vida. Mas, eu fico coberto com o lençol e os  meus olhos estão pesados. Um friozinho está nos cantos do meu quarto, menino sapeca, sorrateiro.

LIMA, Ronaldo Pereira et all. Ritmo Vital: contos, poesias e crônicas. São Paulo, Edições AG, 2007.
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A menina que passa


Lá vai a menina que passa
E os meus olhos que pregam uma peça em frente da praça
Lá vai todo o encanto
Que é livre quando canto ao meu amor
E todos olham na praça
Que eu, passo a passo, vou com pressa.
Lá vão os meus pensamentos
Todo mágico, todo humano
Que foge e se abafa de tanto lamento

Lá vai o meu sorriso com o vento
Com cara de bento
E uma angústia por dentro
Lá vai, lá vai e as minhas lágrimas
Não vão, e você menina, lá vai.

Lá vou eu,
Com a menina que passa,
As mãos que passam e os pensamentos que montam uma peça
No meio da praça.
Não me peça menina que passa, a minha face
E todos te olham e me olham.
Mas entendam: ela é a menina que passa com muita pressa pela praça


(LIMA, Ronaldo Pereira de et all. O lugar da poesia e da prosa: Antologia, pp. 22-23. Rio de Janeiro: Taba Cultural, 2008).
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25 de jul. de 2008

Céu plúmbeo


O céu estava plúmbeo. No outro lado do rio, uma nova croa apareceu; entristecendo os corações dos ribeirinhos. Uma canoa passou melancólica e solitária.

Desci a rampa do porto das lanchas. Dentro de uma delas, olhei no visor do celular. Estava atrasada cinco minutos. Foi dado partida no motor. A lancha saiu de ré, auxiliada por um caibro roliço.
Diante de mim, vestido à Caruaru, um jovem de uns vinte e cinco anos tentava nos esconder a face e os olhos sob a aba do boné branco. Era como se ele estivesse nos escondendo algo, receando que a gente desconfiasse ou descobrisse.

A brisa suave e fria batia nossas faces e as águas, as poucas e cansadas águas do pobre Chico receberam as primeiras gotas do céu. O vento, malinando sobre a face das águas, formavam pequenas marés. A lancha se balançou e uma senhora, no fundo, estava aflita. Próximo a ponte, apesar da distância, notávamos a imensa ilha com currais que servem para pequenas criações de gado bovino. Ilha esta que antes não existia, mas que agora faz parte da vida dos ribeirinhos. Os assoreamentos surgem como um câncer.

E a lancha, sem saber, transportava a tristeza dos meus olhos para o outro lado do rio, onde iríamos parar num outro porto que nos receberia com um bueiro de esgoto.
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23 de jul. de 2008

Por que tenho que ler


Ler é um ato homólogo ao de pensar, só que com uma exigência de maior complexidade, de forma crítica e desautomatizada. Quem não sabe pensar mal fala, nada escreve e pouco lê.

Eliana Yunes.

Ler não é simplesmente deslizar os olhos sobre letras, orações, parágrafos e páginas. É assimilar, compreender. Não é apenas visualizar com a mente o objeto lido. É interiorizar conhecimentos e se tornar um ser mais, como nos ensina o educador Paulo Freire. “Ser mais” é ter consciência crítica. É participar do mundo e de suas transformações. Quem lê organiza e reorganiza ideias, fortalece o senso crítico e através dele opina, interage com o mundo ao qual está inserido.
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