No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia
de Cada Dia.
("Escapulário" - Oswald de Andrade, Pau-brasil, 1925.)
A poesia existe nas expressões cotidianas. No Bom Jesus dos Navegantes. No Pôr do Sol visto da Orla ribeirinha em sintonia com a paisagem maravilhosa de nosso Rio. Sim. Tem poesia no mundo. No canto da torcida quando o seu time é campeão. Na cantoria da lavadeira ou do agricultor. Na alegria de um menino que sonha em ser jogador e ganha uma bola de futebol ou de uma menina que sonha em ser cantora sertaneja e ganha um violão.
Poesia não é só estética, não é estática e não se aprisiona. A poesia é uma das expressões mais singelas, livres e naturais que temos. Poesia é inexata, ilógica, abstrata, fantasiosa, não é útil, pois não é prática, a poesia não são as quatro operações básicas, ela não tem tamanho, não se mede, não se calcula, a poesia é infinita e não está só nos livros. Tem muita poesia no mundo.
Nas ruas, nos bares, nas praças, nos campos, nas escolas, universidades, nos olhos de uma criança, na palavra amiga, nas declarações de amor, na natureza, nos muros da cidade.
A poesia é para todos. Chega de poesia para a burguesia!
Estou farto de poesia para poetas, poesia para críticos, poesia para especialistas. Poesia não se explica! Poesia se sente tal como o amor. Ela não é só métrica, rima e figuras de linguagem, não se resume a ficar preso a uma só perspectiva. Não. A poesia é expressão, ela vai além, é o nosso sentimento posto para fora em versos. Muitos se prendem à forma, esquecendo-se do conteúdo e veem a poesia como uma fórmula matemática que precisa ser estudada e memorizada. Mas não. Eu conheço poetas, homens e mulheres, que nem escrevem. Mas quando abrem a boca pra falar, eu ouço poesia. Literatura popular!
Tem poesia nas favelas, nas feiras, nas procissões. Seja na boca de um doutor de Literatura ou na boca de um comerciante vendedor de batatas, lá está ela! Eu quero a poesia do povo. A poesia de cada dia.
“Nós não lemos e escrevemos poesia, porque é bonito. Nós lemos e escrevemos poesia, porque pertencemos a raça humana e a raça humana está cheia de paixão. MEDICINA, DIREITO, ENGENHARIA, são ambições nobres, necessárias para manter a vida, mas poesia, beleza, romance, amor, é pra isso que ficamos vivos.” (John Keating, Sociedade dos Poetas Mortos, 1989)
Muita gente me diz que não gosta de Literatura como se a literatura só estivesse ligada aos livros. Eu digo “meu amigo, teu problema é com a leitura e não com a literatura.”
Você gosta de ouvir Racionais? Gabriel O Pensador? Charlie Brown Jr? Já ouviu Renato Russo? Djavan? Belchior? Raul Seixas? Gosta de Alceu Valença? Zé Ramalho? Marisa Monte? Cássia Eller? Ana Carolina? Seu Jorge? Cazuza? Já dançou ao som do Tim Maia?
Eu poderia ficar aqui o dia inteiro a mostrar pra você que Literatura não diz respeito só ao livro, mas a gente pode encontrar na música, no teatro, no cinema, numa conversa de bar.
Tem poesia no mundo e a gente precisa não só admirá-la, mas também senti-la.
Não vivemos sem ela como também não vivemos sem sonhar. Difícil viver neste mundo sem qualquer contato com a poesia. É uma necessidade nossa, este contato com algum tipo de fabulação. Assim como todos sonham de pé ou deitados, com os olhos abertos ou fechados, ninguém é capaz de passar as vinte e quatro horas do dia sem alguns momentos de entrega ao universo da fantasia.
Tenho uma certa suspeita de que todos nós somos poetas. A criação ficcional ou poética está presente em cada um de nós, analfabeto ou erudito, desde uma anedota, HQ 's, notícia, canção popular, moda de viola, até o samba carnavalesco, frevo e maracatu. A poesia se manifesta universalmente desde o devaneio amoroso no ônibus até a atenção fixada na novela da TV, no videoclipe, ou na leitura seguida de um romance.
Todos nós gostamos de literatura e estamos envolvidos com ela seja através de criações de toque poético, ficcional ou dramático, leituras de fábulas, histórias em quadrinhos ou livros clássicos, pinturas, apresentações teatrais, dança e música.
É esta a poesia que eu quero: A popular. A poesia de cada dia.
Autor: Ruan Vieira
Referências: Semana da Arte Moderna, 1922. Sociedade dos Poetas Mortos, 1989.