11 de dez. de 2023

A comida preferida dos orixás

 

Nina Horta

Você sabia que no candomblé (a religião trazida pelos africanos iorubas e praticada até pelos descendentes), cada orixá ou divindades tem seu prato preferido? Veja suas preferências:

  • EXU – recebe o padê, que consiste em farofa, pipoca, feijão, inhame, mel, gim, azeite de dendê e aguardente.

  • OGUM – xinxim, feijoada, acarajé e milho branco.

  • OXALÁ – arroz, arroz pilado, mel e milho branco sem tempero.

  • OXÓSSI – milho branco e amarelo, acaçá, coco, peixe de escamas, arroz, feijão, e mel de milho.

  • OSAAIM – milho branco e vermelho, acaçá, arroz, feijão, farofa e azeite de dendê.

  • OXUMARÉ – comidas secas, milho branco, acarajé, coco, mel, feijão, dendê e ovos.

  • OMULU – muito dendê e pipocas.

  • XANGÔ – quiabo com camarão seco e dendê, arroz, feijão e farofa.

  • OXUM – feijão fradinho, ovos, mel, milho branco.

  • IANSÃ – milho branco, arroz, feijão, acarajé e dendê.

  • OBÁ – ovos, acarajé, farofa de dendê.

  • NANÃ – milho branco, arroz, inhame, feijão, mel e azeite.

  • IEMANJÁ – peixe de escamas, frutos do mar, arroz, milho, camarão seco, coco e mel.

Essas comidas, oferecidas com regularidades a cada orixá em rituais, são preparadas por uma iabassê (mulher responsável pela cozinha). Se você fosse um orixá que alimentos gostaria que lhe ofertassem?

HORTA, Nina. Vamos comer: Da viagem das merendeiras, crônicas e conversas. MEC – Secretaria de Educação Fundamental. pp. 224-225


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8 de dez. de 2023

A Carne mais barata do Brasil

(Pobres e os ossos. Por Duke.)


Dormi de barriga vazia 

e acordei com fome. 

Levantei e fui até a cozinha; 

procurei por comida no armário… 

estava vazio, 

Abri a geladeira, não tinha nada 

Só gelo, só gelo. 

Decidi sair e fui até o comércio 

Saí de mãos vazias, 

Igual eu vim ao mundo, 

De mãos abanando. 

Eu passei pela rua do açougue 

e vi escrito em letras grandes 

"A carne mais barata do mercado é a carne pobre" 

Uma paráfrase, uma paródia? 

Não consegui lembrar; 

Estava faminto, tremendo 

Nervoso, já quase desmaiando. 

Mas fiquei surpreso com a fila de gente 

Pensei: Esse povo todo pra comprar carne? 

Eu estava enganado. Eles não foram comprar, 

Foram pedir, assim como eu; 

Estavam famintos, passando mal 

Estavam envergonhados, constrangidos; 

Mas a fome que é obscena 

Já dizia um pensador...  

Se era pra eu sentir vergonha, não senti; 

Diante de tanta gente na mesma desgraça 

Eu senti foi medo e quase caí em desespero 

E se não sobrar pra mim? 

E se não sobrar pra mim? - eu me perguntava.

Então corri, furei fila e comecei a gritar: 

Moço, um pedaço de carne, por favor! 

Moço, um pedaço de carne, por favor! 

O açougueiro me questionou: 

Você vai querer de qual? 

Tem de boi, de porco e tem a carne mais barata do Brasil 

Eu já fui respondendo: 

Eu não tenho dinheiro, eu só tenho fome 

Me dê a mais barata, me dê a mais barata! 

E o homem me olhando com um olhar penoso 

e sem graça, me disse: 

Moço, só tem osso 

Moço, só tem osso. 


Poesia satírica publicada na Antologia "Brasil Errante" disponível na Amazon

(https://a.co/d/gVCt2lG)

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5 de dez. de 2023

II Flipriá. O escritor e as novas tecnologias: ChatGPT

Carlos Alexandre e Ron Perlim

O escritor Ron Perlim participou no dia 26 de outubro de 2023 de uma mesa de debates na II Flipriá (Festa Literária de Propriá).

A mesa foi composta pelo autor e por Carlos Alexandre, escritor e presidente da Academia Gloriense de Letras. A mesa foi mediada por Renison Félix, Secretaria Municipal de Cultura, Juventude e Desportos de Propriá, Sergipe.

Carlos Alexandre, Ron Perlim e Reninson Félix
Auditório da AABB


O tema debatido foi: O escritor e as novas tecnologias. ChatGPT

Em sua fala, Ron Perlim deixou claro que os escritores não devem temer o  chat, nem ignorá-lo; mas ser capaz de tirar proveito dessa ferramenta. Para ele, é um nova forma de busca organizada de conteúdos com amplas  possibilidades se o usuário for capaz de produzir sentenças corretas e adequadas para o que se pretende.


Auditório da AABB




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10 de nov. de 2023

Discurso, História, Ideologia e sua relação com a linguagem


Em seu livro Análise de Discurso: Princípios e Procedimentos, (2015); Eni P. Orlandi, nas primeiras páginas, apresenta reflexões acerca da linguagem, além disso, efetua observações no que se refere aos impactos que os fatores externos (sociais) podem gerar para o discurso. Somos seres complexos e falhos por natureza, consequentemente, a linguagem, assim como nós, está sujeita a equívocos. Como estamos inseridos em uma sociedade composta por diversos indivíduos, iremos nos deparar não só com diferenças culturais, inclusive, variadas formas de pensar, mas também com semelhanças; com histórias e ideologias, com outros. Podemos notar ou não, mas temos uma forte ligação com a linguagem, uma vez que fazemos parte dela e ela de nós. Logo, se pensarmos em neutralidade numa sociedade tão diversificada com indivíduos que estão inseridos na história e também são interpelados pela ideologia, iremos notar uma demarcação ou até mesmo uma tendência pessoal de significar o mundo e isso se mostra na linguagem. Nas palavras da autora: "Estamos sujeitos à linguagem, a seus equívocos, sua opacidade. Não há neutralidade nem mesmo no uso mais aparentemente cotidiano dos signos." (p. 7).

Diferente da Linguística, que trata das questões linguísticas considerando a interioridade, a Análise de Discurso (AD) trata dessas questões considerando a exterioridade. Enquanto para a primeira o que interessa é o sistema linguístico e não o falante, para a segunda o que interessa é um objeto que envolve não só a língua, mas também o falante. Se a primeira desconsidera o falante, consequentemente não há interesse na história do mesmo. A linguagem é trabalhada como se fosse abstrata, existe porque existe e nela mesma. Neste sentido, passa a também ser transparente. Mas, segundo a autora, há espessura, há opacidade na linguagem. A Análise de Discurso trata a linguagem em um sentido material, pois leva em conta não só a língua, mas também a história e a ideologia. Logo, não considera a linguagem como abstrata nem tampouco neutra. Segundo a linguista: "A primeira coisa a se observar é que a Análise de Discurso não trabalha com a língua enquanto um sistema abstrato, mas com a língua no mundo, com maneiras de significar, com homens falando (...)." (p. 14). Por lidar com o homem falando, com a língua no mundo etc., dizemos que a Análise de Discurso não se prende, não se fixa, porque os sentidos mudam, há sempre sentidos outros que, muitas das vezes, vêm de outros lugares. "As palavras falam com outras palavras. Toda palavra é sempre parte de um discurso. E todo discurso se delineia na relação com outros: dizeres presentes e dizeres que se alojam na memória." (ORLANDI, 2015, p. 41).

Sendo assim, a Análise de Discurso também muda e faz isso junto com o mundo. Nessa movência, problematiza as áreas vizinhas como, por exemplo, a Linguística, que está presa, já definiu seu objeto (sistema linguístico) e se restringiu a ele. No caso da AD, o objeto de estudo é o discurso. Mas não nos referimos à fala; já que, independentemente, se tratamos da oralidade ou da escrita, o que interessa são os efeitos de sentidos entre os locutores. Isto é o discurso. Tal palavra traz em si a ideia de curso, de percurso, de movimento. Conforme Eni Pulcinelli, "o discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando" (p. 13). Como não somos pares, mas sim ímpares, estamos sujeitos à linguagem e a seus equívocos; se pensarmos em uma comunicação perfeita estaremos fugindo da realidade, já que até mesmo os sentidos são vários e não são exatos. Numa comunicação onde temos aquele que fala e aquele que ouve, não temos somente transmissão de informações, mas também temos sentidos presentes nesse processo. Portanto, há um jogo de significação presente não só naquele que fala, não só no discurso, mas também naquele que ouve. Neste contexto, a Análise de Discurso trabalha a relação língua-discurso-ideologia, uma vez que a linguagem se materializa na ideologia, o discurso é a materialidade específica da ideologia e a materialidade específica do discurso é a língua.

Louis Althusser, em seu livro Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado (1998), no capítulo antepenúltimo, nos leva a refletir acerca da interpelação que a ideologia faz para com o indivíduo. Nós nascemos em um mundo marcadamente ideológico, portanto, de certa maneira, acabamos por fazer parte desse acontecimento e, consequentemente, acabamos por significar-se e significar o mundo. Por exemplo, nós possuímos um nome e isto já é fundamental neste mundo, porque faz parte de nossa identidade, não nos referimos só ao documento, mas a quem somos. Isto é tão forte, no entanto, não notamos. Suponhamos que alguém lance a pergunta "Quem é você?" em determinado lugar para mais de uma pessoa. Terá alguma delas que irá responder "Sou Fulana(o)!". Vai dizer o próprio nome. Isso não ocorre por acaso, há uma motivação que leva uma pessoa a responder A ou B e isto faz parte do processo de significar-se. A Análise de Discurso não quer saber quem é o sujeito da frase, ela quer saber quem é esse sujeito no mundo, quer saber o que, por exemplo, leva tal pessoa a dizer seu próprio nome diante da pergunta: "Quem é você?". Bem, se nos tirarem o nome, se não perdermos parte de nossa significação, nós a perderemos toda. De acordo com Althusser (1998, p. 94), "a categoria de sujeito só é constitutiva de toda a ideologia, na medida em que toda a ideologia tem por função (que a define) «constituir» os indivíduos concretos em sujeitos". Ou seja, em sujeitos concretos. Entretanto, antes de virmos ao mundo, somos abstratos. Só passamos a ser concretos quando chegamos ao mundo. Mas ainda, segundo o autor, somos "sempre-já sujeitos", até mesmo antes de nascermos; “os indivíduos são sempre-já sujeitos… Que um indivíduo seja sempre-já sujeito, mesmo antes de nascer, é no entanto a simples realidade (...)” (p. 102).

Se voltarmos ao tempo em que éramos só uma ideia ou um desejo de um casal, neste momento, somos abstratos. Mas se avançarmos um pouco para a fase de gestação e depois de geração, neste momento, passamos a ser concretos, justamente por estarmos no mundo, em uma família, por já termos um nome e um gênero. Estes últimos já são pensados antes mesmo de virmos ao mundo. O que quebra a expectativa é justamente quando, por exemplo, espera-se gênero X e vem Y. Mas, independente de qual venha, já se desenha um caminho para se percorrer, já se pensa em quais roupas vestir, a cor do quarto, os brinquedos, as amizades etc. É um "sujeito-já" mesmo. Pensando em linguagem, já nascemos em um contexto marcado por ela também. Tal pessoa nasceu em tal país que possui tal língua, consequentemente essa pessoa irá aprender essa língua. Mas por que aprende essa língua e não outra? Porque há uma espécie de programa, isso recai na história, recai na ideologia, recai na língua, recai no sujeito. Nós não temos o discurso, ele é que nos tem. Não temos a ideologia, ela é que nos tem. Nisto fazemos sentido, mas estes não são determinados pela nossa vontade. Eles fazem sentido porque estamos inscritos na língua e na história. Segundo Orlandi, “(...) embora se realizem em nós, os sentidos apenas se representam como originando-se em nós: eles são determinados pela maneira como nos inscrevemos na língua e na história e é por isto que significam e não pela nossa vontade” (p. 33). Isto nos leva a refletir sobre determinada coisa e não outra fazer sentido para nós. De certa forma, faz sentido porque estamos naquilo e aquilo está em nós. A palavra "sorte", por exemplo, não vai significar a mesma coisa para uma pessoa sortuda e para uma azarada, nem tampouco "azar" vai significar a mesma coisa para ambas.

Concluindo, todos nós, de certa forma, somos colocados na posição sujeito; neste caso, sujeitos do discurso. Por exemplo, eu, enquanto indivíduo ao escrever, sou um sujeito-autor; eu, enquanto indivíduo que ler, sou um sujeito-leitor; eu, enquanto indivíduo que analisa, sou sujeito-analista etc. Quem faz isso conosco é a ideologia. Até mesmo se pensarmos nos preconceitos que circulam na sociedade, notaremos que não nascemos já preconceituosos, mas que por estarmos inseridos em um mundo já de preconceitos, iremos nos deparar várias e várias vezes com eles diante de nós ou em nós. Dizer-se não preconceituoso equivale a negar estar na ideologia quando, por exemplo, acusa o outro de estar nela. Althusser (1998, p. 101) chama a atenção para essa "denegação prática do caráter ideológico'', que ele diz ser um dos efeitos da ideologia. Para a Análise de Discurso interessa essa ideologia materializada na linguagem. Somos afetados pela língua e pela história. Sendo assim, todo discurso é marcadamente ideológico.

Bibliografia

ALTHUSSER, L. P. A ideologia interpela os indivíduos como sujeitos. Ideologia e Aparelhos ideológicos de Estado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998. pp. 93-104.

ORLANDI, E. P. Análise de discurso: Princípios e Procedimentos. 2. ed. Campinas: Pontes, 2000. I. O Discurso E II. Sujeito, História, Linguagem pp. 15-52.

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