14 de mar. de 2019

A pequena e a grande corrupção

Em um de seus livros, Plínio de Arruda Sampaio disse que [1]há dois tipos de corrupção, a grande e a pequena; mas que as duas são igualmente perniciosas e imorais, mas que não podem ser combatidas da mesma maneira.
A grande corrupção, mencionada por Plínio, é a que aparece no estardalhaço midiático envolvendo governos federal, municipal, estadual, distrital, políticos, servidores, particulares e heróis que não são de gibis, mas dos que somente enxergam a corrupção do outro.
Não é objeto deste artigo destaca-la, pois, a grande mídia se encarrega de fazê-la; utilizando-se da opressão publicitária, mexendo com os sentimentos alheios, fazendo muita gente acreditar em meias verdades. Foi assim com Lula, a prisão coercitiva e agora com a pirotecnia do powerpoint de Dallagnol.
Irei, no entanto, me ocupar da pequena corrupção, especificamente aquela que está entrelaçada ao contexto eleitoral, seja em campanhas ou em mandatos. Ela é ignorada pela grande mídia, pelo Judiciário e pelas instituições. Ignorada porque nada se faz de forma efetiva e eficaz para combatê-la.
Eu costumo chamar a pequena corrupção de comércio eleitoral. Ela é a espinha dorsal da grande corrupção, isto é, o que se pratica nos municípios do nosso país, de forma intensa ou não. Ele é caracterizado pela troca de voto por bens tangíveis (espécie de escambo), intangíveis (favores) e pela compra de voto (quando o eleitor prefere em espécie). Em minha escrita costumeiramente denomino esse conjunto de comércio eleitoral. Muitos justificam essa prática alegando que “o erro já vem de Brasília”, esquecendo-se que os que estão em Brasília não são eleitos por si.
É necessário que aqueles que queiram mudança procurem compreender o funcionamento do sistema, deixando de lado as ácidas críticas que para nada servem, e servem: para distanciar cada vez mais o cidadão de exercer os seus direitos políticos e dar espaço para coisas que acontecerem este ano, por exemplo, o dia 17 de abril.
Precisa o eleitor brasileiro fazer uma releitura da forma como o político é eleito. E essa releitura deve ser feita partindo do comércio eleitoral de base. Não é revoltando-se, esquivando-se que a coisa vai mudar. Não é discriminalizar a política, partidos, pessoas que as coisas serão resolvidas.
Precisa acabar com essa mania de enxergar a Política a partir das tribunas, das matérias de jornais, revistas, blogs e outros meios; fazendo dela inimiga da sociedade. É necessário conhecê-la na prática para que não se dê espaço para regimes ditatoriais e fascistas.
A mudança tem que vir da base e a base são os municípios, matrizes de todos os candidatos. E o que é que precisa ser mudado? As pessoas. Estas precisam mudar a forma de escolher. Enquanto essa mudança não acontece, as páginas impressas e online sempre trarão a prática da corrupção para as nossas vidas, expondo como muitos dos eleitos tratam-na com naturalidade e o povo com desdém.
É preciso espalhar uma maneira nova de pensar a política, não a partir do que nos oferece a grande mídia e os seus interesses escusos, mas a partir da realidade de cada município. Enquanto isso não acontece, é ilusão achar que “Todo poder emana do povo”.

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Os especialistas em suicídio

Tenho lido com certo desconforto “especialistas” que aparecem nas redes criticando de forma agressiva e desumana pessoas que cometeram suicídio ou estão depressivas.

Pessoas que se comportam dessa forma são insensíveis, tolas, prepotentes. Não desenvolveram a empatia, nem fizeram leituras aprofundadas dessa melancólica condição humana.

Ninguém é suicida de um dia para o outro. Tudo tem uma origem, um meio e um fim. As causas que levam uma pessoa ao suicídio são complexas, envolvem muitos aspectos da história psicossocial dela.

Quando você ouvir ou ler coisas negativas tratando desse assunto, não seja um ventríloquo, nem dê importância para elas. O melhor caminho é compreender. E só se compreende estudando, perguntando a quem de fato se dedica ao tema.

Eu, que não sou especialista, nem me atrevo a ser nas redes; li a   Inteligência Multifocal do Dr. Augusto Cury e ampliei o meu entendimento sobre o suicida. As pessoas que se acham, que se sentem uma fortaleza, que vociferam sobre isso; deveriam pousar suas línguas, seus pensamentos. Refletir sempre é bom para a alma e o corpo.
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11 de mar. de 2019

Pássaros do entardecer


Hoje estive com Saracura, da Academia Sergipana de Letras, para discutirmos sobre o seu novo livro, "Pássaros do Entardecer" (título provisório). Um cheio de belas histórias dos migrantes itabaianenses, simbolizado pelo "caixão de Europas". Uma leitura humorada e ao mesmo tempo, séria. Recomendo!

Saracura e a família Marron

Revendo trechos do livro "Pássaros do Entardecer".
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21 de fev. de 2019

Clara e o cais

Eu me levantei do batente de casa, peguei o boné, botei-o na cabeça e saí. Quando ia na calçada da vizinha, ouvi uma voz fraca perdida e os fonemas se que espalhavam ao vento.
Era Clara que evocava o meu nome. Assim que se aproximou, cumprimentou-me com um sorriso. A boca, avermelhada de batom e as pestanas arqueadas, estavam abertas para a vida e o amor. Peguei em sua mão. Era cetinosa. Convidei-a para tomar sorvete. Ela topou, sem objeção.
Depois do sorvete, ela se ia rebolando. Os seios, túmidos, arrancavam olhares dos curiosos. Faceira, ia solta pela rua. Os cílios dos curiosos só pararam de pousar depois que ela sumiu completamente na esquina da rua.
E da esquina ela foi na ponta dos pés toda clara para a beira do cais. Ela gostava de ver as ondas. Neste dia, Clara saiu para o amor e não para as ondas. O amor que fica no cais. Mas nesta noite a bela se apagou. Ninguém sabe quem roubou a sua luz.
Lembro-me da doçura de Clara quando mexia com os meus olhos e meus pulsos. Quando aquela boca cetinosa se abria para a minha, avermelhada, dona de mim. Ela, a quem eu dedicava meu pequeno amor, agora, estava em alguma seção policial levada pelo vento.
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