Nenhum texto é inocente e livre de ideologia, mas o
escritor precisa privilegiar o trabalho com a palavra, o modo de contar. A literatura pode humanizar as pessoas e
fazê-las pensar, questionar, sonhar, imaginar, ter mais criatividade, sentir
incômodo, ver que a vida é trágica, ficar mais consciente, não se conformar com
a realidade e reinventar o mundo (Grifo meu). Isso não se consegue com
textos cheios de estereótipos, lições de moral, didatismo e comportamentos
politicamente corretos. É preciso que o texto tenha vozes, lacunas e vazios
para o leitor preencher. O leitor é coautor. É ele quem vai terminar a história
ou o poema, a partir das tragédias e alegrias da sua vida. Surpreender o
leitor, romper suas expectativas, revolucionar um pouco a sua vida, tudo isso é
arte literária. As armadilhas moram na linguagem pobre (a simplicidade é uma
arte, mas a pobreza não!), no lugar-comum e na intenção clara de agradar,
seguindo modismos.
REZENDE, Stella Maris. Língua Portuguesa. Ano 9 – Número
110 – Dezembro de 2014. P. 13.