Lilu |
Sabe, lá em casa a gente cria duas gatas e um cãozinho como se
fosse gente. As gatas se chamam Kika e Tina e o cãozinho, Lilu. Eles estão
sempre por perto. Na verdade, quem cuida deles é Keinha.
Ela os conhece muito bem. Tininha, por exemplo, é ranzinza e
ciumenta. Kika é carente e dengosa. Lilu adora pão com queijo, mas usa
corticoide. Está sempre com eles no colo, mas não esconde que Tina é seu xodó.
Keinha não se importa de ficar com a roupa cheia de pelos, nem a pele. Sempre
conversa com eles. São seus serumaninhos.
Teve um dia que ela estava com Tina no colo, apertando-a com
afeto. Lilu não gostou daquilo, aí, saltou no colo dela. Estava disposto para
disputar o quinhão de amor que lhe pertencia, enchendo-a de lambidas. Tina não
gostou dessa ideia. Ronronou para ele. Lilu rosnou. Para acabar com a arenga,
Keinha lhes disse:
— Parem com isso. Vocês são irmãozinhos. E irmãozinhos não brigam,
tentando reaproximá-los. Tina não quis nem saber. Saltou do braço do sofá e foi
direto para a cozinha, aproximou-se de Kika, enchendo-a de lambidas.
Lilu queria mais atenção. Para isso, entrou no quarto, pegou a meia no
tênis e saiu correndo pela casa, colocando-a debaixo da cadeira de balanço,
esperando por Keinha. Ela foi pegar a meia, mas foi driblada por
ele. Corria de um lado e de outro, até se cansar.
Cansado, ele largou a meia no
meio da casa, esparramando-se no chão, atento aos movimentos de Kika e Tina.
Ele se aproximou delas com seus latidos estridentes. Tininha, com seus olhos
amendoados e azuis, olha para ele friamente. Quando menos se espera, ouve-se:
caiiiin.... caiiin.... caiiiin....
Keinha saiu do computador. Queria saber o que aconteceu. Chegando
lá, viu o focinho de Lilu sangrando. Pegou-o no colo, acariciou ele, se
voltou para Tina dizendo:
— Menina, não pode fazer isso com seu
irmãozinho não!
Tina, desconfiada, olha para ela com seus olhos azuis, dá de
dorso, entra no quarto, se deita na cama, lambe-se e cochila.