24 de dez. de 2012

Escrever não é um dom - II



[1]Ora, a respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.
I Cor. 12.1

Retomando a ideia de que a escrita é um “dom”, cito Paulo em Coríntios para diferenciar dom espiritual e dom da escrita.
O dom espiritual, como pode ser observado no capítulo 12 daquela epístola, tem um objetivo espiritual e se manifesta de acordo com os propósitos divinos. O apóstolo lista uma quantidade significante deles e a importância que tem para o ensinamento da palavra, escrita por uma inspiração dos céus.
O dom da escrita é a vocação para o manuseio da palavra, a exploração dela pelos sentidos, a manifestação de experiências sensíveis. Mesmo que o indivíduo não sinta dificuldade para externar os seus sentimentos, ser criativo, ele necessita das técnicas. É através delas que a matéria bruta é lapidada, transformada em um texto capaz de seduzir, atrair leitores e deles receber opiniões positivas. Se alguém escreve e a sua escrita não prende a atenção do leitor, aquele texto está inacabado, é matéria bruta carente de técnicas.
As técnicas mais conhecidas e importantes são a clareza, a concisão e a coesão. Conhecê-las é imprescindível para quem pretende trabalhar com a palavra. Seus conceitos são indispensáveis para o acabamento do texto, a transformação dele em algo útil e agradável. Sem esses conhecimentos, o texto (de um escritor ou não) se torna pesado, enfadonho e desagradável para o leitor.
Para os que se apegam ao dom espiritual, eu digo o seguinte: não leiam, nem ande com o Aurélio a tiracolo.



[1] ALMEIDA, João Ferreira de. A Bíblia Sagrada: Velho Testamento e Novo Testamento. JUERP/Imprensa Bíblica Brasileira, Rio de Janeir, 1988.
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22 de dez. de 2012

A pescaria


— Artur, vamos tentar hoje de novo?

— Para quê? Para gastar o nosso tempo! Você não tá vendo que esse Rio não dá mais nada não? Quando a gente sai, só pega uns tilapes que não dá nem prá um frito! Por onde se pende só se vê mato e areia. Parece que o Rio tá morrendo e ninguém liga. É croa daqui é croa dali. O que foi que a gente pegou ontem, hem? Me diga vá! Três tilapes que não deu cinco quilos.

Alberto silenciou por alguns instantes, compreendendo com tristeza as aflições do amigo. Mas insistiu, dizendo:

— Amanhã é dia de feira. Eu sei que o que a gente pegou foi muito pouco, mas pode ser que a gente dê sorte hoje à noite. Bora. A gente nunca sabe e amanhã é outro dia!

— Vou não perder meu tempo, como ontem. Vá você!

— Bom! Tô indo. Se você mudar de ideia, eu tarei na casa de mamãe. Até mais!

— Até e boa sorte!

Artur permaneceu debruçado sobre o cais e pensava: Por que meu Deus, eu tenho que sofrer tanto assim nessa vida? Fui um bom filho. Sempre cumpri com os afazeres que o meu pai mandava e minha mãe. Por que hoje passo por tanto aperto? Sou um homem já idoso. O cansaço tá comigo e não me larga. Não tenho prazer nenhum na vida. Será que eu tô pagando pelos meus pecados, sofrendo e gastando o resto dos meus dias num barquinho; pegando uma bobagem aqui outro ali, sol, chuva, chuva, sol pra vê se eu arrumo um bocado e uns trocados? Não tenho nenhuma aposentadura. Se não fosse a ajuda do Governo e dos meus filhos que me sustenta, fazendo um bico aqui outro ali o que seria de mim? O que ganhei nesta vida? Só doença. Só fiz trabalhar feito um condenado. Pra quê? Não sei mais olhar pra os meus filhos. Nunca dei nada a eles, além de sofrimento e apertos. A minha mulher anda me rejeitando. Só anda com a cara feia. Quando eu vou querer um negocinho com ela, ela me dá às costas. Será que ela tá me traindo?

Nas longas e infiéis imaginações, dava a pobre mulher um macho. Com essa cisma na cabeça, pensava em matá-la se fosse verdade o que ele estava pensando. Quando chegava em casa que a via pálida e cansada de tanto fazer conserto de roupas, arrependia-se das suas pífias e doentias ideias que o atormentava e o perseguia o tempo todo.


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9 de dez. de 2012

I Encontro Sergipano de Escritores

Auditório do Museu da Gente Sergipana
Aconteceu no auditório do Museu  da Gente Sergipana o primeiro encontro de escritores sergipanos. No decorrer dele, houve declamação de poemas de escritores sergipanos, foram expostas as dificuldades não em publicar, mas distribuir as obras pelas livrarias do Estado e do Brasil.
Foi dado destaque para a importância de editais literários, especificamente os do estado de Sergipe, para que a iniciativa privada e pública deem maior ênfase e importância para a motivação de jovens autores ou não.

Houve, também, a presença do palestrante Hermínio Sargentim que nos falou da escrita criativa, de sua importância e da leitura. Para ele, um dos requisitos é “ler, ler, ler”. Escrever, escrever, escreve". Conversando pessoalmente como ele, sempre dizia que o escritor deve perceber e repetia com frequência este verbo, dando a entender que o olhar do escritor deve estar atento aos acontecimentos externos e internos de cada um.
Também houve orientações sobre a importância do Direito Autoral, e aspectos técnicos que envolvem o livro, como revisão crítica, coesão, coerência, clareza, editoração e outros. Esses temas foram abordados de forma simples pelo palestrante Gustavo Aragão, sendo útil para muitos iniciantes deste mundo.
Por fim, o evento foi encerrado pelo palestrante Pimpão, abordando a importância da palavra e a sua exploração literária como forma de nos descobrir nos outros.
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4 de dez. de 2012

Um pouco do tempo


O tempo de doação e de anjo está se expirando.

O tempo de compreensão mais lúcida está se aproximando.

O tempo mal aproveitado e disperso está se organizando.

O tempo feito de dor e angústia está amadurecendo.

É o meu tempo, nada mais que meu tempo.
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