27 de nov. de 2011

Desengavetar

Antes os textos eram datilografados e guardados numa gaveta. Eram os engavetados, lido, relido, apresentado a um amigo que geralmente não opinava e quando opinava dizia: os textos são bons, demonstrando desinteresse súbito ao mudar de assunto. Ficava então os textos e quem os produzia sufocados naquele mundinho.

Com o advento da Internet e dos microcomputadores, as páginas físicas foram substituídas pelas virtuais, as máquinas de datilografia pelos teclados e os editores de texto, as gavetas pelas pastas, proporcionando outros recursos para os jovens escritores. Graças a ela os engavetados não ficam à mercê da opinião dos desinteressados, mas podem ser publicados por meio de blogs e sites para que todos possam ler, opinar e partilhar nas redes.

Cabe a cada escritor buscar conteúdos originais e criativos para receber visitantes e, quem sabe, ser encontrado por alguma editora que se interesse por sua escrita. Desengavetar é necessário.
Recomendo apenas aos que pensam em desengavetar que se preocupem com a escrita, ponha emoção, criatividade e busquem um visual agradável em sua página para que os leitores virtuais não desistam no primeiro momento.

Desengavetar é o verbo que precisa ser dimensionado nas vidas de quem ainda tem receio de expor a escrita e a sufoca nalgum diretório.
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14 de nov. de 2011

Miserável foi o amor

Eu irei me recolher no meu próprio sofrimento

E me calar para o amor.

Não irei me refugiar no silêncio mais frio e baço dos teus olhos feito menino pidão

E procurar no chão por uma formiga.

Não irei me oprimir. Se o meu mundo estiver prestes a estourar, que estoure; mas sem mim.

Irei me encolher nas ideias para não mendigar nas úmidas ruas de inverno por esse infeliz amor.

Cadernos, 1999.
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7 de nov. de 2011

A pressa e a prece

Olhou para o relógio azul de ponteiros vermelhos e números pretos que estava na parede branca da casa. Quando se deu conta, as horasões contínuas estreitaram seu tempo, fazendo-a apressar o coração, os passos e a ansiedade.
— Já vai mulé? Tá cedo!
— Tenho que ir. Tenho umas coisas para cuidar.
— Obrigado pela visita. Quando vem passar um final de semana com a gente?
— Qualquer dia desses. Quando sobrar um tempinho eu apareço.
— Minha amiga, não se torne uma xepa. Para que tanta correria. A vida estar passando e é tão curta. Sua correria vale a pena? Pense um pouco nisso.
— Não se preocupe. Próximo ano estarei mais aliviada. Se Deus permitir, a gente ainda vai se ver muitas vezes, colocar os assuntos em dia e relembrar as nossas andanças de solteirice. 
 — Tchau!
 — Tchau!
E  o relógio simplesmente continuou com o seu tique-taque e Maria fechou a porta pela última vez para a amiga, lembrando-se da pessoa alegre que era, mas sempre apressada, tomando aquele café ligeiro.

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26 de out. de 2011

Mover e mover

Era café e leite no assento da praça

Com carícias e beijos afogueados

Sob o sol fatigante

Envolvidos e abafados no tempo.

Noutra parte o mundo se movia

Com as palavras, com os pés,

Com os gestos, a respiração, o riso

E o coração.

O mundo se movia nesta parte e noutra

Com o barulho, com os sons,

Com o vento, as folhas, as mãos

Na minha vista.
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