Ele reuniu o povo como numa procissão. Ao invés de imagens, carregavam bandeiras, bandeirolas e adesivos estampados nos peitos. O povo assim estava distribuído: aqueles que recebiam uma “ajuda” semanal, os comissionados, os mensaleiros, os que financiaram a campanha e financiam, os covardes e os que são comprados para acompanhar o grupo político.
Eles acenavam para aqueles que nas portas ficaram, simpatizantes ou não, daquela euforia, daquele calor apimentado de fofoca, intriga, hipocrisia, interesses comerciais e pessoais.
Inesperadamente uma senhora deixou o bordado na cadeira, correu na direção do candidato, querendo apenas pegar em sua mão e lhe desejar toda a sorte do mundo. Acontece que um dos cabos eleitorais atravessou na frente dela, um cãomício embaraçou-a; mas ela insistiu, furou a barreira e o abraçou, dizendo:
— Meu filho, com a graça de Deus e Nossa Senhora; o senhor vai ganhar!
Surpreso, embaraçado, riu; mas o riso veio pálido, estranho. Sua face pedia que alguém a afastasse. Imediatamente um cãomício pegou-a pelo braço e a retirou. Da porta as poucas amigas riam da sua façanha, enquanto outros riam com desdém.
A turba seguiu seu destino. No palanque, eles esbravejavam, mentiam, caluniavam e os projetos ficavam nas intenções do ilícito. Ao pé do palanque os devotos erguiam bandeiras, bandeirolas, aplaudiam, gritavam; mas outros ficavam soltos, procurando alguma coisa para se entreterem.