25 de fev. de 2011

A besta

A vida nada mais é do que uma coisa bestializada, onde tudo se resume em cansaço e vaidade. Tudo que buscamos, tudo o que adquirimos se resume na velhice e na dor.

Quantas e quantas são as pessoas que possuem vários bens, poder, luxo diverso, se vangloriam disso e em suas casas não há almas para habitar. O que existem são almas escuras pela dor e pelo sofrimento. Tudo o que a gente constrói é simplesmente para nos livrar do tédio da existência.

Há momentos que paro e noto a coisa besta diante de mim, diante das minhas retinas fatigadas: a besta humana, estúpida, inacabada. A besta que acha que é inteligente, que cria a fome, a bomba, às injustiças, a violência, as desigualdades sociais, os transtornos diversos da vida.

Toda essa bestialização se intensifica a cada dia, a cada instante na busca feroz pelo poder, na busca desenfreada pelo dinheiro; originando todo tipo de sentimento ruim: o egoísmo, a maldade, a intolerância, a incompreensão...

Mesmo diante de tantos erros, transtornos que uns causam aos outros, o homem continua sua jornada de bestialização.

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20 de fev. de 2011

O vilão

Estou cursando uma pós-graduação. Nos encontros, debatemos assuntos voltados para a área de educação e, nesses debates, incluímos a política. Neste ponto, as opiniões discorridas me faz pensar no fazer político deste país. 

A visão política neste âmbito é deturpada porque o sistema político e a maneira de se fazer política são vistas de cima para baixo, reforçando a ideia de que a Política é a grande vilã da sociedade. 

Usam-se muito as expressões “dinheiro nas cuecas, nas meias; todos calçam 40”,e assim por diante. E elas vêm carregadas de revolta, sempre seguida de uma opinião midiática, catada da tv, dos jornais e revista on-line ou impressos. 

Raramente se fala na compra e venda de votos que acontece em todas as esferas do sistema. Preferem a acidez da crítica. O comércio eleitoral não é analisado nas células do Estado, mas na esfera midiática. Isso não é bom. 

De nada adianta os alaridos das esquinas, dos assentos, das lágrimas. 

De nada servem as trombetas da mídia quando se faz o estardalhaço desse ou daquele gatuno. 

Enquanto a consciência dos que dormem não despertar, não há motivos para espanto, surpresas quando o Congresso se empanturra com os cofres públicos, o cidadão desfalece na fila do SUS, a segurança pública permanece caótica e a educação capenga. 

Uma reeducação política é necessária para que o poder que emana do povo perca a condição de mercadoria e retome o seu papel social que é dar sentido a democracia.
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9 de fev. de 2011

O problema do amor

O problema do amor é que as pessoas o fantasiam.
O problema do amor é que as pessoas criam imagens e perspectivas do objeto amado.
Elas nunca se preparam para a dor.
Nunca se preparam para a decepção, como se o amor fosse um estado de graça permanente.
O problema do amor é que as pessoas o idealizaram e esqueceram que ele é concreto.
E por ser concreto é incompreendido.
O problema do amor é que ele é dual. Digo, não é único; torna-se único
É de carne e osso.
Não é só carne, só osso. São duas carnes, dois ossos.
Esse é problema do amor.

LIMA, Ronaldo Pereira de. Agonia Urbana. Rio de Janeiro: Litteris Ed: Quártica, 2009.

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22 de jan. de 2011

O troco

Esquentou, durante toda a manhã, a cabeça por causa da miserável burocracia pública; aborrecendo-se principalmente com as infelizes informações desencontradas que o punha em um estado de nervos paranóico.

Após toda essa coisa medíocre, seguiu para uma agência bancária. Nela, esperou na fila com o estômago doendo, a alma e os pés. Somente uma daquelas figuras envelhecida, ouvindo em um celular e cantando aquelas músicas de camelôs piratas o fez rir.

Ao chegar sua vez de ser atendido, a bancária nem olhou em sua face. Pediu-lhe o boleto, pôs na máquina para fazer a leitura do código de barras, disse-lhe o valor (que ele já sabia) e o esperou pagar. Com o dinheiro em mãos, calou-se, deu a ele o comprovante de pagamento e chamou o próximo cliente. Sem sair da fila, disse:

— Moça, o troco!

— Só são R$ 0,20.

— Moça, meu troco. Já paguei impostos demais nessa repartição e nem água tem para beber. Quero o meu troco!

— Mas eu não tenho aqui!

— Mas eu quero o meu troco!

A bancária, que se chamava Léia, amarrou a cara, voltou-se para a sua colega e a pediu emprestado os centavos. Algumas pessoas olharam para eles, outras sussurraram. 

Ele, no entanto, saiu com esta reflexão: “Ela queria se apropriar do meu dinheiro como se tivesse pago a minha conta. Acha que o setor público nos prestam simples favores, fazendo de desentendida. Eu poderia até deixar o troco, mas ela se apropriou da minha vontade de decidir, sem ao menos perguntar se eu poderia deixar ou não os centavos.”
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