Procurava um amigo e o encontrei numa escola dialogando com colegas de trabalho. Dei bom dia, ofereci amendoim que carrega em uma das mãos, sentando-se em seguida numa dessas cadeiras escolar abandonada.
Em silêncio, ouvia quando um deles acusava a Câmara de ter vivido um caso de mancebia na gestão anterior, alegando que: “quando os vereadores são do mesmo grupo político do prefeito, não há administração; mas esculhambação em conluio com a Justiça”. Outro, mais reflexivo falou: “a oposição é muito útil para a democracia”, calando-se.
O diálogo entre eles continuava, tornando-se quase conversa. Cada um expunha suas ideias e opiniões sobre o atual sistema político, apontando com os dez dedos das mãos para os políticos; demonstrando uma opinião formada pela mídia.
Permanecendo como estava nada dizia; até porque aquele diálogo-conversa me causava angústia, já que os ouvidos nunca se cansam nem se fartam os olhos. Observei o entendimento superficial que alguns deles faziam daquele assunto, até que alguém disse: “esses caras (políticos) pensam que ali (apontava para a prefeitura) é o fundo do quintal deles”.
Olhei para o meu interlocutor e fui tachativo:
— Claro! O fundo do quintal é deles porque eles compraram.
O meu interlocutor ficou surpreso com a minha resposta, engoliu saliva, calou-se por um instante, olhou para dentro dos meus olhos, dizendo:
— Não entendi!
— Eles compraram e compram esse fundo de quintal. Por isso fazem o que fazem. Esses empregados eletivos deixam de ser empregados para serem comerciantes. Nem tem, nem querem responsabilidade.
Sem entender o que eu dizia, um dos colegas explicou com maior clareza, dizendo que eu me referia a compra e venda do voto. A conversa tomou outro rumo sem vela.
Não defendo em minhas crônicas os profissionais da política por entender que eles são canalhas, larápios, gatunos; mas percebo por trás desses substantivos um povo alienado, descrente, apegado a barganha eleitoral que ao invés de reagir; votam em candidatos para depois reclamar nas esquinas das escolas, hospitais, unidades de saúde e outras repartições públicas.
Por isso não se deve ver os políticos a partir do próprio político. Quem assim age, comete um grave erro, possui um entendimento horizontal do sistema e se esquece de que este país precisa de uma reeducação política, de um Judiciário mais sério (principalmente nas cidadezinhas) e de um povo educado.