8 de mai. de 2010

A vela


A vela só é vela enquanto não acesa.

Depois de acesa, o pavio alimenta a flâmula.

Depois, logo depois, o pavio se vira e apaga-se; as trevas recaem como no último fôlego e a chama sai sem pressa numa fumaça.

Ela se foi e outra se acendeu.
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Um após outro


Um dia chama outro, puxa outro, engravida
E pari a velhice.
Um dia abraça outro, estende a mão para outro
Mas se encolhe sem a outra.
Um dia beija outro, morre sem o outro
Morre sendo dia
.
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5 de mai. de 2010

Reeducação política

O problema da política não estar nos políticos, mas no modo de se fazer política, de se pensar a política e de escolha política.

Neste país, faz-se política de várias maneiras: pela aparência, pela picuinha, pelos interesses pessoais e egoístas, pelo comércio eleitoral, pela mídia, pela mentira, pela fofoca, pela antipatia etc. Explico: conversava outro dia sobre a eleição presidencial. Ouvi o nome de Dilma ligado ao de Lula, o de Serra ao de FHC. Os simpatizantes do primeiro argumentavam a crise superada, a não dependência do FMI, as não privatizações, os inúmeros concursos públicos etc. e os do segundo diziam que o Plano Real foi criação dos tucanos, o Bolsa Família (Uma mentira, porque o Bolsa Família é a reunião do Vale Gás, Bolsa Escola e Vale Transporte criados no governo de FHC), o não reajuste das aposentadorias (O fator previdenciário foi criado no governo FHC), que o governo Lula já pegou a casa arrumada e outras bobagens.

Quando os ânimos se apaziguaram, eu olhei para os meus amigos e lhes disse: minha candidata ao cargo de presidente é Marina Silva. Uns me tacharam com estas frases: “Eu é que não voto numa mulher feia daquela”; “Ela não vai ganhar mesmo. Não gosto de votar para perder!” Os mais estúpidos perguntaram: “Quem é Marina Silva?” Tentei explicar, por meio da história de vida dela, sua conduta ilibada, sua capacidade de refletir as causas sociais, sua carreira política, seu preparo para assumir o cargo de presidente da República. Mesmo assim tive que ouvir de estúpidos dos estúpidos que “não votaria em mulher”. Mesmo assim continuei argumentando. Expus as falhas do governo Lula e suas péssimas coligações, assim como mostrei as falhas do governo de FHC que não nos dava dignidade, rezava, lia e falava muito bem a cartilha norte-americana (E não americano, como querem muitos). Por último, disse-lhes que o governo Serra é péssimo por causa de dois fatos simples: os confrontos entre as polícias civil e militar no ano de 2008 e a recente greve dos professores no estado de São Paulo, recepcionada por cassetetes da polícia militar. E concluo: se alguém não se abre para o diálogo para duas peças fundamentais de uma democracia que é a segurança e a educação, como administrará um enorme e complexo país como o nosso?

Após a minha exposição, uns se dispersaram, outros se calaram. Outros assuntos foram abordados. Quando estava sozinho, pensava sobre no que disse, o que eles iriam pensar a respeito e fiz esta reflexão: uma pessoa má educada (não importa se seja analfabeta ou carregue um diploma universitário) conjuga das mesmas ideias de corrupção quando fazem péssimas escolhas, para depois reclamar nas esquinas.

É necessária uma reeducação política, assim como se prega bastante a reeducação alimentar e ambiental. Sem essa reeducação, sempre haverá péssimas escolhas, péssimos candidatos, políticas ruins e excludentes.

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23 de abr. de 2010

Multiplicando os pães


A multiplicação dos pães continua, a exemplo de dona Lucádia que divide R$ 510,00 para a farmácia, o mercadinho, à água, o botijão, a energia e os netos.
 
Isso acontece todo dia cinco de cada mês. Os filhos dela chegam acompanhados dos seus filhos. Ela, dona Lucádia, observa para os rostos pequenos das crianças e se compadece. Afinal de contas, são filhos dos seus filhos. Contrita, ela os acolhe solidariamente com a solidariedade que só às mães possuem.

E é assim: em alguma parte deste país a multiplicação dos R$ 510,00 acontece miraculosamente para uma multidão de netos, de filhos, genros, noras; sem rumo, sem remo.
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