1 de out. de 2009

Base mal aliada

Toda eleição possui candidatos e uma base que os apóiam. E, na formação dessa base, há o povo arrastado em longos e cansativos comícios. Isso acontece porque o povo não sabe votar.

Não sabe votar porque não sabe a importância e a função social do voto. Não sabe dessa importância e função social porque não tem uma consciência crítica. Não possui uma consciência crítica porque não tem uma educação digna e adequada para as suas necessidades.

Quando o povo aprender a votar terá como princípio básico de sua consciência o conhecimento histórico, digo; vida pregressa dos candidatos e não precisarão acompanhá-los como fantoches de um grande e lucrativo comércio.

Comércio lucrativo porque há a participação direta de agiotas, de comerciantes, de cabos eleitorais com seu apóio “moral” e de uma parcela do Judiciário que se presta a esse tipo de canalhice. Esse apóio possui um valor financeiro no período eleitoral e pós eleitoral quando o seu candidato é eleito.

Enquanto o povo, que lucra com migalhas, sentirá na pele o mandato de um candidato quando precisar dos serviços públicos. Sentirá na pele o descaso da saúde, da educação, do social, da infra-estrutura e outros serviços.

É! O povo precisa “se ligar” neste grande e lucrativo comércio e tomar plena consciência que seu voto por migalhas lhe trará grandes e humilhantes constrangimentos.

Porque com tantos cifrões para se lambuzar, quem disse que eles pensarão que “todo poder emana do povo”; se esse poder não lhes foi confiados, mas comprados.
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16 de set. de 2009

Senado do povo, como povo

Ouço quando os colegas opinam, melhor dizendo, repetem o que há nos recortes de jornais impressos, televisivos e revistas; mas sem nenhuma opinião crítica. E, a opinião que não são deles é que os políticos são um bando de gatunos e canalhas e aquele fuzuê não daria em nada.

Eu apenas os observo e penso: Os homens que ocupam os assentos do Senado foram eleitos pelos estados para representá-los. Vale lembrar que a maioria deles está em Brasília, vai à tribuna, elaboram belos discursos; apesar de não merecê-los. Estão naquela posição privilegiada não por mérito, mas porque comprou currais eleitorais.

Todos os brasileiros sabem que a briga no Senado é uma briga de interesses pessoais e jamais político. Se político fosse, tanto as representações contra Sarney seriam apuradas assim como a de Arthur Virgílio. Por meio de acordos que não são mais estranhos, mas tão íntimo entre eles é que elas (as representações) foram arquivadas. Aquela briga espelha a imaturidade política do eleitor brasileiro, a pandemia da corrupção e a imoralidade.

Penso que antes de repetir recortes dessa vergonha, imoralidade e podridão do Senado; é necessário que cada cidadão eleitor repense os seus valores éticos, morais. De nada vale criticar nas ruas, nas entrevistas, nas praças, em casa, no trabalho se, na hora de votar, a maioria vende e outra compra voto.

Cidadão que vende voto e que compra voto é amoral. Não tem o direito de criticar os políticos. Porque se eu vendo o voto para o corrupto, eu estou sendo corrupto, gatuno, larápio. Se eu transfiro o contrato constitucional elencado no art. 1º, V, § Único da CF que diz: "Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos, ou diretamente, nos termos desta Constituição"; como irei exigir deles a moralidade, a ética, a probidade, a impessoalidade das coisas públicas se esses princípios faltam em mim?

As eleições brasileiras, seja de competência da União, Estados e Municípios; são complexas porque envolve vários elementos: as escolas que não formam cidadãos para a vida política, mas para o mercado consumidor, aqueles que fizeram do voto um negócio milionário e um Judiciário dual, isto é, uma parte corrupta e apta que contribui para que o banditismo político eleja e se reelejam.

O voto, na situação atual histórica, nada mais é que uma simples mercadoria externada nas prateleiras dos celeiros municipais. Por isso o Senado é do povo, come povo.

Publicado no Recanto das Letras. (http://recantodasletras.uol.com.br/autores/ronlim)
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O vendedor de cocadas

Deparei-me com o vendedor de cocadas outro dia desses, quando andava tranquilamente pelas ruas daquela cidadezinha. Ele tinha aproximadamente um metro e setenta e cinco de altura, olhos esbugalhados, vestido à Caruaru, meio bojudo, sorriso largo, calçado com chinelo de dedo. Ele empurrava um carrinho de mão, dizendo: “Oi a cocada!”. Seu vozeirão chamava a atenção de quem por perto passava.

Lembrei-me dele nos arrastões, da enorme bandeira que carregava estampando o número do candidato, dos dias de embriaguez, da euforia e cansaço dos comícios, das piadas, picuinhas tão comuns nas pequenas cidades que para nada servem.

Lembrei-me, também, do dia cinco de outubro do ano passado. Neste dia, quando o resultado de boca de urna saiu, uma turba de pernas, risos, lágrimas, abraços, invadiram a avenida onde se localizava o maior colégio eleitoral daquela cidade. Alguém filmava aquele calor, aquela euforia. O vendedor de cocadas se aproximou do cinegrafista amador e disse: “Minha cidade agora saiu do buraco. Pode filmar. Filme!”. E saiu saltitante.

Diante dessa lembrança, pensei: “Passou a politicanagem. Ficaram os ressentimentos, as mágoas, as brigas. Sei de uma verdade: governo vai, governo vem. Permanecem as pessoas, os eleitores, as intrigas, a corrupção, a irresponsabilidade. E a vida do vendedor de cocadas e de tantos outros permanecem a mesma: sem esperança, saúde, educação, lazer, trabalho e moradia”.

Ele continuou a labutar sob o sol seu pão e eu segui meu rumo, na ruma das incertezas.
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25 de ago. de 2009

Abandono e rejeição


Aos oito anos de idade Carla fora abandonada pela mãe, ficando na companhia de um pai epilético, alvoroçado e cachaceiro; apesar de trabalhador, além de uma irmã de quatro anos. A mãe era desses tipos de mulheres que entregou o corpo e a alma para as drogas, a prostituição, ao roubo. E era, também, dada aos bares.

Para Carla lhe sobraram apenas os afazeres de casa: cuidar da irmã caçula, cozinhar, preocupar-se com o pai, costurar e quando lhe sobrava tempo, ensopava a face com lágrimas miúdas. No seu peito juvenil se alojava a melancolia, o desespero.

Cheia de angústia, de dor; saiu outro dia de casa com um único pensamento: morrer. Esta foi a escolha que fizera para se livrar do peso que estava sobre sua vida. Na ausência do pai, pegou os comprimidos dele que combate a epilepsia e foi à escola. Estava pronta para tomá-los e dar fim a sua vida, mas a professora percebeu algo errado e interveio, tomando dela os comprimidos, abraçando-a. Carla apenas soluçava no ombro da professora.

Após dois anos, cinicamente a mãe retornou para casa e, o pai, covardemente a aceita e Carla; sentindo no peito as fisgadas da rejeição e abandono pede para o pai escolher entre ela e aquela mulher que se diz ser sua mãe. Ela perde a questão. Apela para a casa da avó que, por ruindade, não quer mais um fardo para sua vida. Sua avó é uma mulher passiva e lhe aconselha a aceitar a mãe. Em prantos, desabafando com a tia, escolhe como melhor solução a morte.

Outro dia fora à casa da avó para almoçar, pois, não queria partilhar àquela hora com o pai; muito menos com a mãe. A avó a recebeu nestes termos: “Já almocei e não tem mais comida. Por que você não volta para casa e come lá?”

Sem apoio moral da avó; saiu pelas ruas em um pranto silencioso e amargo.
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