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20 de set. de 2024

Pingue-pongue de conflitos


Estive observando a língua dos eleitores e nelas os verbos fazem festa, movem de um lugar para outro; esperando o momento para fazer uma boquinha.

Entre eles, os mais comuns são: [1]comer, mamar, [2]pular. Estes demonstram que a compreensão da maioria do eleitorado é decadente, desacreditado e pertence a todas as classes. É do tipo, da espécie que não espera porque não há esperança em si, não acredita porque não tem crença em si.

Eles espelham a individualização do voto. Há casos que essa individualização compromete amizades, constrange pessoas, gera um pingue-pongue de conflitos. Ela fere, ameaça à dignidade da pessoa humana.

As charges e propagandas eleitorais que abordam apenas a classe que precisa da dentadura, de caibros e do comércio eleitoral são falsas, pois, a barganha neste país não pertence a nenhuma classe social porque ela esta em todas e todas está nela; cada uma com seus interesses pessoais.

Há momentos na vida que é necessário se desviar da rotina, do caminho, das línguas e dos verbos; não porque haja nele pedregulhos, mas simplesmente para reavaliar conceitos que nas casas estão e fora delas, aprofundar-se nesse fazer político “socialmente natural”.


 



[1] Mamar e comer: receber benefício financeiro  fixo ou esporádico.
[2] Pular: mudar de um grupo político para outro com o único objetivo de receber benefícios. 
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8 de mai. de 2024

Esse óculos foi da política



O financiamento de campanha tem sido o tema de muitos debates. Enquanto intelectuais se debruçam sobre isso, nada se resolve.
O Congresso diverge sobre o assunto. Há quem ache que o financiamento público é o único meio que os partidos têm de se livrar das amarras da corrupção.
Há quem diga que a iniciativa privada não pode ser excluída do processo eleitoral. Os que querem se perpetuar no poder defendem isso, alegando que essas doações não trazem nenhum prejuízo para a democracia.
Enquanto os partidos ficam nesse lengalenga, nada se decide.
Não tão nem aí para combater a corrupção eleitoral porque estão ocupados com a lava-jato e a disputa de poder.
E as nossas crianças, necessitadas e sedentas de aprendizagem, aprendem logo cedo a mercadejar o voto em casa. Não se tem um projeto voltado para elas. Para que aprendam desde a pré-escola que o voto não se troca, não se vende.
Porque as crianças são vítimas de um sistema que não elege o futuro do país, que não prioriza a qualidade dos serviços públicos, que se tornou um monstro difícil de lidar.
Não pense que a sua revolta contra as tribunas vai resolver alguma coisa. Não se iluda. Saiba que o político de hoje foi a criança de ontem.
Enquanto houver crianças na educação infantil dizendo por aí:
Tia, esse óculos foi da política!
Não haverá mudanças significantes na nossa República.


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19 de mar. de 2023

Irmã da covardia


Era de madrugada no povoado Alecrim quando Felipe bateu desesperado na porta da casa de Ivan. A porta foi aberta, mas a cara e o coração estavam fechados. Isto era visível nas formas geométricas da face dele. Felipe nem importância deu porque para ele a única coisa que importava era a mulher que estava prestes a parir.

Ivan alegou que não poderia dar assistência porque os faróis do carro estavam com problemas e que havia pouca gasolina no tanque. Sem dar importância aos apelos de seu concidadão e eleitor, simplesmente disse que não podia atendê-lo; voltando-se para os seus aposentos resmungando: “Dei aquele infeliz o telhado da casa e no dia da eleição ele ainda veio me pedir dinheiro. Esse povo é assim: se a gente deixar, tira o nosso couro”.

Felipe, angustiado e vendo a mulher se contrair de tanta dor, foi às pressas a casa do cunhado e o chamou para lhe dar socorro. Ao chegarem, carregou a esposa até às margens do rio São Francisco, pondo-a em um barquinho, remando rio abaixo até a cidade de Penedo. No trajeto, quase desistia porque os seus braços já não mais aguentava de tanta dor e desespero, mas quando via o sofrimento dela; persistia. Ao chegar ao porto das lanchas de manhãzinha, os pescadores o ajudaram, chamaram a ambulância e levaram-nos para o hospital público.

Após alguns minutos de angústia, o médico que os atendeu se dirigiu para Felipe e disse: Lamento, seu filho estar morto; mas sua esposa estar fora de perigo e passa bem. Aquelas palavras foram ao mais profundo de seu miolo e por lá permaneceu feito boia fixa. As lágrimas desciam feito nascente.

Passando algum tempo, o cunhado percebeu que ele não estava bem e o chamou para espairecer, indo ao comércio. Lá, deu de cara com Ivan. O sangue subiu para a cabeça, sentindo-se enganado, traído, injustiçado. E o pior, sabia que seu caçula estava morto porque ele negara socorro a sua esposa. Sem pestanejar, pegou a peixeira que estava nos quartos e empurrou-a até o cabo no ventre dele. As vísceras caírem no asfalto. Quem por perto estava entrou em pânico, outros saíram correndo e Felipe simplesmente fugiu no barquinho rio afora e ninguém nunca mais o viu.

A mídia local entre as linhas o descrevia como um bandido perigoso que precisava ser caçado e capturado. Já Ivan foi elogiado como boa pessoa, que não fazia mal a ninguém, um bom colega de Câmara e um homem trabalhador.
 
Para a mulher de Felipe sobrou as tarjas pretas, muitas vezes negadas nas unidades de saúde; tendo que recorrer ao Ministério Público.
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30 de mar. de 2022

Eleições e a troca de voto na República Velha


 
"(...), a questão da pobreza e da desigualdade no Brasil se mostra como algo gerado por um déficit histórico de cidadania em um país que viveu sob regime escravo por quatro séculos, no qual direitos civis e políticos existiam apenas no papel. Um bom exemplo são as eleições brasileiras, tanto no período do império quanto na república velha - a chamada república dos coronéis. As eleições eram escrutínios caracterizados pela fraude e truculência, onde os eleitores eram ameaçados por capangas ou trocavam seu voto por qualquer utensílio ou objeto".

Referência:

DANTAS, Humberto & Júnior, José Paulo Martins et al. Introdução à política Brasileira. São Paulo: Paulus, 2007. p.216
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O poder de manipular

Paulo Henrique Amorim, o PHA, do Conversa Afiada nos deixou em julho de 2019. Era jornalista e escritor. Com suas críticas bem humoradas, sarcásticas, deixou a sua contribuição para a democracia capenga do nosso país.

Ele, que sempre nos alertou sobre o Pig, que não é porco (a), mas Partido da Imprensa Golpista. Compreender a mídia, seu funcionamento é dever de todo cidadão para evitar a manipulação; até porque ela também curti um fake news.

De forma concisa, Paulo Henrique Amorim em sua imensa experiência, nos mostra o funcionamento dessa instituição, considerada o quarto poder
 
Manteve por muitos anos o blogue Conversa Afiada. E  a luta continua. A vida segue e as pessoas simplesmente morrem.



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26 de fev. de 2022

Molhando a mão


M.J. bordava redendê na sala de estar quando a vereadora Alícia surgiu sorridente. Pediu licença, entrou e disse:
Recebi seu recado.
Obrigado por ter vindo. Sente aqui, apontando para o sofá. Quer uma aguinha, um cafezinho?
Não. Obrigado
Sem firulas, M.J. foi direto ao assunto:
Sabe o que é, mulé; minha menina se operou e tá precisando de medicamentos aí. Já fui no posto de saúde e você sabe como é: nunca tem nada. Por isso, recorro a você. O que você pode fazer por mim?
A senhora tá com a receita?
Tô!
Vá pegar pra eu dar uma olhada.
E ela foi num pé e voltou n’outro. Alícia pegou a receita das mãos dela, olhou, olhou novamente, coçou a cabeça com a caneta e disse:
Vou vê o que posso fazer. Saiu entrou no carro sem olhar para trás.
Só que o “vou vê” nunca mais deu as caras.
Por sorte, M.J. guardou uma fotocópia da receita, entregue a outro parlamentar que levou o casso para o prefeito. Este se prontificou esolucionar o problema, ganhando o afeto e a fidelidade eleitoral dela.
As eleições se aproximaram e com elas os jingle, o pede pede .Alícia iniciou sua campanha. Bate palmas numa casa, n’outra até chegar na de M.J. Esta a reconheceu de longe.
Alícia queria abraçá-la, mas M.J. esquivou-se, pegou o balde d’água que estava no canto e deu-lhe um banho, tendo o prazer de estragar o vestido novo e a maquiagem.
Mesmo banhada, Alícia não perdeu a pompa. E ouviu silente as duras críticas que lhe eram proferidas. Quando percebeu que ela se acalmara, pediu perdão, abraçou-a e improvisou uma desculpa esfarrapada, molhando em seguida a mão dela.
Feito isso, saiu às pressas. Precisava se recompor.
M.J. ficou na porta achando graça de sua façanha. Olhou para a filha e disse:
Vô muito votar nessa galega falsa. Só porque encheu o rosto de botox, acha que tá com tudo. Tá pensando o quê? Que me esqueci do que ela fez com a gente? Tá muito enganada!
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5 de set. de 2021

Uma viagem pelas crônicas de Ron Perlim

Era o ano de 2003. Na busca de subsídios para uma das edições do extinto Jornal Opara Propriá/SE, encontrei um jovem Matemático, escritor, pesquisador, poeta e contista,e se me permitem assim ampliar os qualificativos, um exímio educador popular que nos municiou                     sobre      um     verdadeiro       mosaico        para compreendermos os elementos históricos e culturais do município alagoano de Porto Real do Colégio.
 
 De para tive contato com sua obra, cujo valor incalculável se manifesta em exemplos como Às Margens do Rio Rei (aspectos gerais do município), Porto Real do Colégio: Sociedade e Cultura, Agonia Urbana (prosa poética), Minicoletânea de Escritores Colegienses (prosa poética), O Lugar da Poesia e da Prosa e Ritmo Vital (estes últimos escritos a várias mãos), além de um numero infinito de textos ecoados na grande rede, através de sites e blogs, e mais recentemente repercutidos por alcance das redes sociais que os multiplicam.
 
Oreconhecimento ao profícuo exercício literário de Ronaldo Pereira de Lima tem sido manifestado por “extremosbiunívocos” que se estendem do popularao erudito,  e  materializados   ou laureados,  como   o PrêmioAlina Paim, promovido pela Secretariade Estado da Cultura de Sergipe na categoriainfanto- juvenil.Este reconhecimento não lhe envaidece, mas multiplica suas responsabilidades com o universo absoluto e relativode sua legião de leitores, espalhados nos vários rincões do Brasile não seria pretensãoafirmar, nos cinco continentes da Terra.
 
Apartir de 2004, exatos dez anos, tivemos a honra de receber as crônicas políticas de Ronaldocom frequência, as quais passaramaos olhos e mãos de nossos leitores,ilustrando as páginas impressase online da Tribunada Praia. O resultado deste acervo está sendo disponívelagora em forma de livro, cujo título Viuo Home?expressa a opção do autor em alcançar um públicoque, assim como Platão em “O Mito da Caverna”,intencionalmente ou não, pretende levar luz aos que ainda tem a sua frente uma cortinada limitada informação que precisa ser transformada em conhecimento.
 
Em Viu o Home?, Ronaldo nos remete a uma viagem cujas estações incluem paradas em 05 de outubro e Frevo eleitoral, avançando para o Fundo de quintal, nos lembrando Quem come. Quem não come, condenando o que considera Coisa de cabra safado.    Enquanto   estamos    A    espera    de    um candidato,  Ronaldo nos faz lembrar das Malditas picuinhas e da Mazela eleitoral, que muitas vezes deságuam  em Cãomício.  Mas será  que É  assim mesmo, pois enquanto Eu, Pobre, eles, Os prefeitos, a folha paralela e os cognatos precisam ser freados.
 
Assim como previa Bertolt Brecht ao afirmar que “A omissão é o peso moro da História”,Ronaldo nos remete em A irmã da covardia, e O poder que não elege, pode desaguar no prejuízo que faz A merenda que não está nas escolas. Considerando que Este é mais um ano eleitoral, para se contentar com O menos pior ou quem mais?, pois Eles não se elegem por si. Com a Língua solta, lembre-se de que É em casa que se aprende a barganhar.
 
Ronaldo poderia ter escolhido qualquer uma das 32 crônicas para ilustrar o título deste trabalho,pois, todas elas refletem momentos que se completam, o que dimensão ao conjunto de uma obra que é o resultado de uma leitura socializada, mas que assim como avaliou Heráclito, “nenhum homem banha-se duas vezes no mesmo rio...”,sendo sua releitura indispensável, pois “... ele não será o mesmo homem, nem o rio será o mesmo rio”.
 
Como um grande escritor cuja trajetória lhe credencia, tem dado através de seus textos provas inequívocas de seu compromisso com a construção da cidadania, denunciando as mazelas e promiscuidade que tem se convertido a atividade política, anunciando a necessidade de manter empunhada a bandeirada resistência e não baixar guarda para as cooptações que tem cercado o ser humano, cada vez mais vulnerável, mas como quem vislumbra uma luz fora da “caverna”,... desistir, NUNCA. Insistir, SEMPRE!
 
Fica aqui, em meu nome, em nome dos que fazem a TRIBUNADA PRAIA e por extensão de seus leitores cuja frequência diária oscila em torno dos 7 mil acessos, nossos sinceros e honrosos agradecimentos a companhiad e Ronaldo Pereira de Lima e de “suas crias”, ao longo de uma década, na certeza de que o tempo acrescentou esta relação e parceria,crescendo em nós a certeza de que, nos termos preconizado pelo grande Rubem Alves (na obra “Sobre Jequitibás e Eucaliptos”), aqui foi plantada uma árvore frondosa que nos proporciona uma sombra maravilhosa.

Sergipe, Setembro de 2014


Claudomir Tavares da Silva
Diretor-Fundador da Tribuna da Praia

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