Iniciaremos a nossa palestra compreendendo o conceito de Baixo São Francisco, não na divisão do CBHSF (Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco), mas na administrativa dos estados de Alagoas e Sergipe, pois, esta divisão leva em conta características políticas, geográficas e culturais.
Nascer e se criar numa região desta, onde há predomínio da pobreza não é fácil, muito menos em pensar na publicação de livros e na venda deles, mesmo diante de tanta tecnologia e facilidade. Quando iniciei a minha escrita, ouvia muitas coisas: “coisa de pobre”, “quer ser intelectual”, “também tenho coisas escritas”, “foi você mesmo que escreveu?” e por aí vai. A maioria vinha com desestímulo, mas foram coisas que nunca me abateram, muito menos me fez desistir.
Tem gente que escreve para doar os livros para amigos e parentes que, muitas das vezes nem leem. Eu nunca escrevi um livro com esse objetivo, mas com a intenção de venda. Não é pelo valor, não é por mesquinhez; é pela valorização, trabalho e também em protesto a uma ideia tola que o escritor ribeirinho tem que doar seus livros em detrimento dos outros. Também porque ser escritor é uma profissão, como outra qualquer (CBO 2615-15).
Aqui, lembro-me que certa vez fui oferecer um livro de prosa poética, que se chama Agonia Urbana para uma professora e ela me respondeu, dizendo: “Eu leio Drummond, Cecília, Mário Quintana e outros que há na escola”, desdenhando. É claro que não era obrigada a mim comprar o livro, mas veja como se deu o caso. Eu olhei para ela, ri e sai. Nesse mesmo ano, ganho o prêmio Alina Paim; promovido pela Secretaria de Cultura do Estado de Sergipe. Aquela professora, ao me ver, ficou descabreada; pois sabia da premiação.
Nem por isso eu desisti de vender os meus livros, nem de escrever, nem de oferecê-los. Segui meu caminho literário.
Publicar em nossa região não é fácil. Geralmente a baixa autoestima desestimula e muitos desistem, alegando múltiplas razões, as mais conhecidas são: desvalorização e a falta de tempo. Além disso, não há na região; por parte do setor público o interesse em promover esse tipo de atividade tão nobre, transformadora quando bem compreendido porque não mais se acredita nos jovens e crianças.
Ser escritor no Baixo São Francisco, dependendo do que se escreve, não é somente encantamento e orgulho para os seus; pode se tornar desagradável. E para isso irei citar como exemplo três livros, de minha autoria, que deixou pessoas incomodadas: Laura, que é uma novela infanto-juvenil que recria os contos da região, incomodou uma ex-professora minha que ao lê-lo e me encontrar na rua disse: “Não tem vergonha de escrever uma coisa daquelas sobre a igreja”, aí ela se referiu à lenda da Mula-sem-cabeça; o segundo foi o livro Viu o home? Onde abordo a dinâmica eleitoral que acontece todos os dias com ou sem eleição. Teve gente que riu, teve gente que criticou; não uma crítica literária, mas porque se viu em muitas das personagens já que o livro trata da compra e venda de votos.
O escritor no Baixo São Francisco para ser publicado na maioria das vezes paga do seu próprio bolso, de forma independente ou através de editora prestadora de serviços. Raramente se vê o governo municipal ou a iniciativa privada fazer isso. Conheço um cordelista de uma cidade próxima que, na noite de lançamento dos seus cordéis, se viu obrigado a doar seus livretos porque os seus convidados ele estava a doar. Por isso, não se deve manter o ato de doar seu trabalho. Quando se faz isso, mantém-se o vício, o desestímulo e a vaidade de muitos que querem apenas a pecha de “intelectuais”, estarem em alguma academia e aparecer.
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