— O major Ursulino de Goiana fizera a casa de purgar no alto, para
ver os negros subindo a ladeira com a caçamba de mel quente na cabeça. Tombavam
cana com a corrente tinindo nos pés. Uma vez um negro dos Picos chegou na
casa-grande do major, todo de bota e de gravata. Vinha conversar com o senhor
de engenho. Subiu as escadas do sobrado oferecendo cigarros. Estava ali para
prevenir das destruições que o gado do engenho fizera na cana dos Picos. Ele
era o feitor de lá. O seu senhor pedira para levar este recado. O major
calou-se, afrontado. Mandou comprar o negro no outro engenho. Mas o negro só
tinha uma banda escrava. Pertencendo a duas pessoas numa partilha, um dos
herdeiros libertara a sua parte. Então o major comprou a metade do escravo. E
trouxe o atrevido para a sua bagaceira. E mandou chicoteá-lo no carro, a cipó
de couro cru, somente do lado que lhe pertencia.
REGO,
José Lins. Menino de Engenho. Rio de Janeiro: J. Olympio, 2003 –
Literatura em Minha Casa; v. 3. p. 77.
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