Por Simone Magno em Pequena Morte.
Pergunto a uma poeta que acaba de lançar seu
segundo livro o quanto ela escreve por mês. “Geralmente um poema. Às vezes,
nenhum”, me responde. Fico refletindo sobre a necessidade de cada escritor na
hora de colocar no papel o que lhe vem à cabeça. Porque as ideias vêm e vão a
todo tempo, basta respirar. Uma frase surge do nada, uma imagem que encadeia
toda uma história, uma lembrança que insiste em voltar. Mas não basta separar o
joio do trigo; é preciso saber o melhor momento de colocar no papel e perceber
quando de fato o que não passa de palavras rabiscadas ao vento se transforma em
literatura.
Quando isso acontece? Quando os versos se juntam e
passam a se denominar um poema? Quando um texto ganha voz e passa a ser uma
narrativa literária? Antes do editor, a palavra é do autor, que tem o poder de
definir sua matéria prima.
Alguns escrevem e não mexem mais – acreditam que se
veio assim, está pronto. Outros terminam um romance – ou um poema, ou um conto
– e deixam “na gaveta”, imagem meramente metafórica com a tecnologia de hoje,
mas que antigamente significava que o texto manuscrito ficava mesmo guardado, à
chave, de preferência, por uns meses, até que o autor se dispusesse a dar uma
olhada no texto, com um certo distanciamento, e ter certeza de que ali havia
mesmo algo de qualidade. Hoje a gaveta virou um arquivo no computador, mas as
questões continuam as mesmas: isso é bom? Eu me orgulho de ter escrito essas
palavras? Devo publicar? E a pergunta principal: alguém vai se interessar? Duas
respostas positivas bastam para a próxima etapa: mostrar.
Um dos maiores escritores brasileiros trabalhava em
um romance durante uma viagem de navio, e para não perder o que havia feito,
enviava os originais diariamente para a filha via fax, quando o aparelho ainda
se popularizava. Mandava tantas páginas que a companhia marítima achou aquilo
esquisito e quis saber se havia algum problema com o passageiro. Além de um
leitor, o escritor também buscava segurança. Imagino o pânico de um escritor
nos tempos pré-carbono, pré-xerox, em que os originais eram realmente únicos,
manuscritos.
Atualmente, no entanto, estas etapas muitas vezes
são puladas por conta da internet, já que há livros de contos que começaram em
posts de blogs, e romances também saídos da web, em capítulos, como nos antigos
folhetins dos tempos vitorianos. Até os 140 caracteres do twitter podem ser
literatura. Por que não? Mas isso é assunto para outra coluna. A ideia é falar aqui
neste espaço sobre modos de escrever, ler, perceber e curtir os livros – que
podem estar no papel ou não.
contato: simone.magno@gmail.com
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