Ontem o
meu coração estava nas minhas tripas e uma sensação ruim me acompanhou. As
luzes dos postes não me traziam nenhuma novidade. Em mim, várias faces que não
me definia. Vi-me perdido nas ruas e o tédio me afagava. Estava só, num estado
de graça e angústia.
No bar,
o copo de cerveja na minha frente, gelado, suando, não me desmanchava. O queixo
tremeu, a pele tornou-se diferente. As vozes iam, viam e não me interessavam.
Levantei-me
e sem rumo e sem leme fui andando no meio das intempéries, levado pelas
havaianas. Senti uma vontade de nascer de novo. Perguntava aos céus o que eu
estava fazendo ali. Como resposta nenhuma veio, senti-me solto, jogado no mundo
como se estivesse pagando uma pena.
Dentro
de mim vozes entravam de formas diferentes, formavam fatos e atos. Para quem ou
para o quê, não sabia. Sei que aquele dia não me foi diferente, pois sentia a
sequência de anteriores que se repetiam com dramas e sustos repentinos. Ia, ia sem
perder a direção.
As ruas
nem largas, nem estreitas me espreitavam sem vaivém, sozinhas no meio do caos. Uma
sombra deslocada da minha carne rugiu forte e as meninas massificadas passaram
alegres, sorridentes.
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