Érico não costumava ouvir a mãe. Preferia a língua dos assentos das praças. Só que aquele jeito levado dele irritava a sua mãe que todos os dias chamava-o para ir à escola. Era assim:
— Ô Érico, meu filho, não vai hoje prá escola não? Só que tá nais bancada. Vá tomá banho, vá. Já tá na hora de ir prá escola, menino!
Ele deixou os colegas no assento, entrou irritado, volveu-se ela e disse::
— Como é que a senhora fala desse jeito comigo, na frente de meus amigos. Ficaram tudo mangando de mim.Tá bom deu não ir prá escola nenhuma.
Ela o olhou cuidadosamente e disse:
— Se você não tem o que querer. Enquanto você viver debaixo da minha vista, terá que me obedecer. Se não, arrume as suas coisas e vá embora. Você já tá bem crescidinho. A vida é quem ensina.
E deu-lhe as costas, indo à cozinha.Ele nada disse. Pegou a bolsa e foi à escola, não por vontade livre, mas pela imposição da mãe.
As ruas, naquele dia, estavam pálidas e tudo o que nelas haviam. Somente a revolta, o tédio, as frustrações o acompanhava. Para ele a escola nada significava. No trajeto se encontrou com Mota, seu vizinho, que também não era muito de estudar. Aproximou-se do amigo, pôs o braço em seu ombro e com um riso libidinoso, iniciou este diálogo:
— Érico, nóis vai hoje [1]gaziar. Vamo procurá as meninas e namorá com elas. Vamo?
— É Mota, vamo mermo! Depois a gente toma uma. Já tôu mesmo com raiva.
— Vamo lá. Fernanda tá com uma blusinha! Só você vendo.
E se foram corando as ruas e esbanjando a libido.
[1] Matar aula.
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