Pião atendia alguns clientes e demonstrava euforia, muitas vezes forçada, tão comum entre os vendedores. Ele me avistou, acenou com a mão e disse:
— Pião, quer alguma coisa?
— Não Pião. Por enquanto não! Tenho algo para mostrar a você.
— O que é? Este livro de minha autoria. Ele será muito útil para os seus filhos, pois, como eles estudam; irão precisar.
— É, Pião, eu não enxergo quase nada sem óculos. Mas como o Pião sempre tá por aqui; vou ajudá-lo. Não custa nada demais ajudar um amigo.
Dito isso, foi à gaveta, tirou R$ 10,00 e pagou o livro. Saí e parti para outro estabelecimento, desta vez uma miniperfumaria. O proprietário, quando me viu, foi dizendo:
— Depois vou lá para acertamos aquele negócio.
— Ora, não se preocupe. Quando você puder, apareça. Mas não vim aqui falar deste assunto. Estou aqui para lhe oferecer este livro de minha autoria, que lhe falei outro dia.
— É, deixe-me ver.
Eu o observava, enquanto ele folheava o livro. Depois, fez um pequeno comentário sobre a obra. Mas ele me surpreendeu com uma indagação súbita e violenta:
— Foi você mesmo que escreveu este livro?
— Sim, fui eu. Por quê?
— Por nada!
Abriu a carteira, tirou R$ 10,00 reais, ficou com o livro e disse:
— Sempre que houver um tempinho, irei ler.
A ele nada disse, apenas o agradeci e me fui com a pergunta dele pendurada nos neurônios.
Dezembro de 2006.
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