16 de jul. de 2010

Fundo de quintal

Procurava um amigo e o encontrei numa escola dialogando com colegas de trabalho. Dei bom dia, ofereci amendoim que carrega em uma das mãos, sentando-se em seguida numa dessas cadeiras escolar abandonada.
Em silêncio, ouvia quando um deles acusava a Câmara de ter vivido um caso de mancebia na gestão anterior, alegando que: “quando os vereadores são do mesmo grupo político do prefeito, não há administração; mas esculhambação em conluio com a Justiça”. Outro, mais reflexivo falou: “a oposição é muito útil para a democracia”, calando-se.
O diálogo entre eles continuava, tornando-se quase conversa. Cada um expunha suas ideias e opiniões sobre o atual sistema político, apontando com os dez dedos das mãos para os políticos; demonstrando uma opinião formada pela mídia.

Permanecendo como estava nada dizia; até porque aquele diálogo-conversa me causava angústia, já que os ouvidos nunca se cansam nem se fartam os olhos. Observei o entendimento superficial que alguns deles faziam daquele assunto, até que alguém disse: “esses caras (políticos) pensam que ali (apontava para a prefeitura) é o fundo do quintal deles”.

Olhei para o meu interlocutor e fui tachativo:

— Claro! O fundo do quintal é deles porque eles compraram.

O meu interlocutor ficou surpreso com a minha resposta, engoliu saliva, calou-se por um instante, olhou para dentro dos meus olhos, dizendo:

— Não entendi!

­— Eles compraram e compram esse fundo de quintal. Por isso fazem o que fazem. Esses empregados eletivos deixam de ser empregados para serem comerciantes. Nem tem, nem querem responsabilidade.

Sem entender o que eu dizia, um dos colegas explicou com maior clareza, dizendo que eu me referia a compra e venda do voto. A conversa tomou outro rumo sem vela.

Não defendo em minhas crônicas os profissionais da política por entender que eles são canalhas, larápios, gatunos; mas percebo por trás desses substantivos um povo alienado, descrente, apegado a barganha eleitoral que ao invés de reagir; votam em candidatos para depois reclamar nas esquinas das escolas, hospitais, unidades de saúde e outras repartições públicas.

Por isso não se deve ver os políticos a partir do próprio político. Quem assim age, comete um grave erro, possui um entendimento horizontal do sistema e se esquece de que este país precisa de uma reeducação política, de um Judiciário mais sério (principalmente nas cidadezinhas) e de um povo educado.

4 comentários :

  1. Deste geito acabou com a democracia; e com o significado da politica, o sistema claro precisa melhorar, assim como os politicos, da maneira que fala o sistema politico está sobre falencia e deve-se procurar nova forma de governar

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  2. É basicamente isso que acontece: hoje em dia quando um político se empenha em ganhar uma eleição, e investe para isso, ele eleito acha que tem todo direito de achar que a prefeitura é dele e que ele praticamente ganhou numa Mega Sena, daí é só esbanjar, humilhar, perseguir, investir, ou não, "seu dinheiro" em outros interesses que não os da comunidade. Abraço Ronaldo.

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  3. Caro Gabriel, o autor do texto não tá propondo mudança de Governo, mas mostrando uma situação muito comum nas cidades do interior.

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  4. Gabriel, respondo seu comentário usando a bela interpretação que Anônimo fez de meu texto; acrescida das palavras de Jr. Ribeiro que conhece bem a realidade dessas situações.

    De qualquer forma, obrigado pelo seu comentário e dos demais

    Abraços!

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