Eu estava deitado no meu silêncio e uma súbita amiga quebrara-o, assim como eram quebradas as suas lágrimas. Ao vê-la, emudeci, vivi e senti a morte com repugnância e mal-estar.
As lágrimas dela tinham uma nobre explicação: seu filhinho, absolutamente seu; saído de suas entranhas e quentes estava adoentado. A sensibilidade daquela pobre mãe invadiu os meus tímpanos, explodindo sob os caibros o desespero, o desequilíbrio, a necessidade. Com veemência que só as mães possuem nesses momentos, ela se dirigiu a outra mãe e disse:
— Mulé, me empreste dinheiro para eu comprar remédio pró meu filho. Já fui pró SESP e lá não tem não. Procurei o prefeito e ele nem me deu atenção. Se eu não comprar remédio pró meu filho, ele pode morrer. Ele não pode ficar sem esse remédio. Lhe peço pelo amor que você tem a Deus e a seus filhos que me empreste (Os olhos dela eram duas fontes de amor, carinho, cuidado…).
— É uma pena mulé, mas não tenho. Se tivesse, taria em suas mãos (Minha mãe se comoveu e as lágrimas dela se uniram as da amiga).
E o “não”, vindo da boca e das lágrimas da minha mãe nunca me saiu da cabeça, assim como aquela criança, o criminoso público, a falta de dinheiro. Naquele momento multiplicaram-se por dois o desespero, a angústia e o medo.
E foi ali, naqueles instantes que vi uma flor perdendo a beleza e cair de tanta dor. E o número pequeno (seis) foi maior que o mundo.
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