7 de dez. de 2024

Resenha Crítica - Livro: Um batim nas memórias de um menino propriaense, AMORIM, José Alberto.

 Resenha Crítica - Livro: Um batim nas memórias de um menino propriaense, AMORIM, José Alberto.                                                                                                                                                                  


                                                    

Lançado em 2020 pela editora Performance de Arapiraca - AL e escrito por José Alberto Amorim, professor, historiador, membro fundador e  ex-presidente do CCP (Centro de Cultura de Propriá), graduado em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA, Polo Propriá (2009), pós graduado em História da África e das Culturas Afro-Brasileiras pela Faculdade Atlântico, Aracaju - SE (2012), que durante muito tempo contou suas histórias e memórias no programa radiofônico e nos encontros de seu centro, que versa sobre o tema do presente livro a ser resenhado. Ademais, o livro tem prefácio de Iokanaan Santana, protético, poeta e ex-prefeito da cidade de Propriá, além de comentário do professor e escritor Ronaldo Pereira Lima.                                                                                                                        

Um batim nas memórias de um menino proprianese possui 156 páginas e divide-se em agradecimentos, prefácio, sumário, 46 capítulos, além de biografia do autor, há nele 23 apêndices, para ajudar ao leitor se familiarizar com os termos e expressões inerentes a região baixo são-francisquense. Em seu título, a obra em questão já instiga o leitor a descobrir o que venha a significar “um batim” e aprimorar o conhecimento histórico-cultural sobre a princesinha do Baixo São Francisco, um verdadeiro navegar/mergulhar em busca do passado desta cidade. Ainda que seja este um livro de cunho histórico-memorialista, a obra é importante para o município ribeirinho, pois ao relatar os tempos áureos da sua cidade o livro faz com que os leitores da mesma faixa etária de seu escritor recordem aquilo que lhes fora especial no passado e ajuda aos jovens leitores compreenderem parte do curso histórico de sua localidade.                                                                                                                                                                        

A obra de forma geral traz memórias narrativas de um menino que vivera na cidade de Propriá, localizada no Estado de Sergipe. Em seu primeiro e importante capítulo, o autor buscou através de lembranças, recordações de seu tempo de criança, valorizar o papel social de sua avó na ajuda de sua criação e demais parentes, Dona Querubina, personagem destaque   deste capítulo, que era filha de uma indígena do munícipio de Penedo-AL, porém nascera em Japoatã-SE, sem dúvidas uma pessoa com muita riqueza cultural a ser extraída pelo seu neto e autor José Alberto, assim como os leitores. Foram relatados detalhes de uma vida cotidiana em meados da década de 60, algumas características são indispensáveis, como por exemplo a preparação da alimentação, mesmo que rudimentar era preparada de maneira especial, fazendo com que aquela fosse uma refeição importante, seja no café da manhã, com o “teimosinho” (cuscuz de milho da época em questão) no almoço, na merenda da tarde ou até mesmo na janta, que com apenas uma iguaria/fruta manga supria a criançada. Igualmente se deu a narração dos demais capítulos.                                                                                                              

Seu personagem principal, narrador e escritor da obra, como toda criança em idade, frequentava a escola, este fato é tema de um de seus capítulos, a escola de dona Rosinha o Educandário Coração de Jesus, localizado até os dias atuais no entorno da Catedral diocesana de Propriá, Amorim passou por esse período e resgatou fatos que lhe marcaram, como por exemplo o castigo por faltar a missa, “ficar em pé com a face virada para a parede rezando inúmeros pai nosso e ave maria”. Percebe-se que o autor procurou trazer o máximo de riqueza de detalhes de seu tempo de criança, ao relatar tais fatos, ele enaltece a grandeza que sua cidade já demonstrava. Esta experiência partilhada se assemelha a sentida pelos demais cidadãos que viveram aquela época, ou ouviram falar.                                                                          

Partindo do ponto de vista artístico literário, desde a elaboração de sua capa a imagem que fecha a obra, é de se considerar como um trabalho rico e excelente nos diversos sentidos que um bom livro pode trazer, cada capítulo traz uma imagem que ajuda o leitor imaginar como era a cidade no momento do fato, os artistas que o confeccionaram foram competentes ao máximo, porém convém dizer que algumas das imagens produzidas poderiam ser coloridas, fazendo com que a leitura ganhasse um pouco mais de vida, universalizando assim a obra àqueles que possuem algum tipo de deficiência visual/auditiva.                                                 

Ainda foi possível constatar uma procura incessante do escritor em ligar os fatos a conjuntura nacional, o seu capítulo IV trouxe com riqueza de detalhes como se dera a chegada da ditadura militar ao município, desde a chegada de alguns militares para destituir o poder até a procura de políticos a serem levados pela guarnição, o menino observador entrou em ação, na procura de relatar um fato histórico de tamanha importância para as gerações futuras, somente depois deste livro, o acervo escrito de Propriá registrou maravilhosamente o golpe de 64.                                                                                                                                                        

Com formato de texto prosador, a obra além de contar as memórias de um menino conversa com o leitor acerca da estagnação em diversos sentidos da cidade que é espaço do livro, cada capítulo faz menção de como era determinada coisa na cidade e o próprio leitor pode fazer inferências de como ela se encontra nos dias atuais. O livro poderia trazer imagens de acervo público de prédios antigos da cidade e assim fazer algumas referências históricas do município.                                                                                           

Ademais, uma característica visível em todos os capítulos foi a de colocar um pouco de sua emoção ao rememorar seu passado, assim também acontece com o leitor, basta apenas ter um laço de afinidade com o munícipio, seja por força da natureza ou do tempo, indubitavelmente, aqueles que quiserem voltar ao passado encontrarão uma verdadeira máquina que levará a épocas distintas da cidade, uma narração clara e acessível a todo público que venha se a interessar pela obra, sempre ou quase na primeira pessoa do singular, dispensando uma linguagem rebuscada o livro é um autêntico manual histórico-social, um convite a mergulhar nas histórias da princesa do Baixo, sendo assim é viável a recomendação de sua leitura bem como do compartilhamento de sua existência, esta é, em todo caso recomendada, porém é interessante que se tenha um certo conhecimento prévio de algumas informações a respeito da cidade.                                                                                                                                                                                                                                                    
Escrito e resenhado por Cleno dos Santos Vieira, cidadão honorário de Propriá, acadêmico do curso de Letras Vernáculas na Universidade Federal de Sergipe - UFS, poeta e amante da princesinha do São Francisco.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   Propriá-SE, 16 de dezembro de 2021

Um comentário :

  1. Parabéns Cleno pela resenha. De fato, este livro contém elementos políticos e sociológicos da região.

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